segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O TEMPO E OS ANOS

Os anos pesam nos ombros.
Mas o tempo é leve,
fútil e provisório.

Ele é o que escapa,
o que ultrapassa a memória,
a ausência e a saudade.

Ele é o avesso
da vida que morre,
que  desaparece através  dos anos
que me pesam nos ombros.

Um dia não haverá mais ombros
e ninguém lembrará dos anos.
Só haverá o tempo,
leve, fútil e provisóri,
sem dias de aniversário.






quinta-feira, 10 de outubro de 2024

CETICISMO


Hoje, não me comove mais
qualquer quimera.
Sei que a morte me espera
depois de todas as portas,
que o dia não importa
e que a vida
é um problema sem solução.




terça-feira, 8 de outubro de 2024

MUNDO IMPERFEITO

Não posso parar o tempo que passa
ou domesticar a mudança 
que se faz selvagem
contra toda esperança.

Não posso tornar suportável 
a rotina, as perdas e incertezas
de uma vida inteira
reinventando ilusões de infância.

Nunca teremos a felicidade 
como destino,
nem a realidade na palma da mão.
Contra isso não há nada a ser feito.
O mundo jamais será perfeito.



segunda-feira, 7 de outubro de 2024

TENHO O MEU PRÓPRIO TEMPO


Tenho meu próprio tempo,
cultivo meus próprios silêncios,
segundo a natureza que me carrega
e espalha por aí a fora no vento.

Não acredito na história,
na razão e, muito menos,
na humanidade branca, 
moderna e europeia.

Não espero nada dos outros,
não quero nada do mundo.
Não leio notícias.
Tenho o meu próprio tempo.





segunda-feira, 30 de setembro de 2024

A OUSADIA DOS NIILISTAS

É preciso ser forte 
para saber o lado de fora de si mesmo,
provar a lucidez dos suicidas
e dançar a beira
 dos mais profundos abismos.

É preciso uma coragem insana
para despir-se de toda esperança,
ou, talvez, apenas
 uma indiferença tamanha
para saber o absoluto da morte
na irrelevância da vida.





domingo, 29 de setembro de 2024

SER É MORRER

O querer dói 
como uma ferida,
como uma fome antiga.
Pois ser,
é essencialmente 
sofrer, morrer,
desaparecer.


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

TEMPO SUBVERSIVO

O tempo apaga
 tudo que parece solido,
 certo e seguro.

 Desfaz, sem qualquer  piedade,
nossas melhores convicções, certezas e apostas no futuro.

 Definitivamente,
 não há força mais subversiva 
do que o tempo que passa
 e acaba
com tudo que amamos.