sexta-feira, 25 de março de 2022

NULIDADE

Na medida que envelheço minha percepção da realidade é mais definida por um sentimento de nulidade inerente a existência. 
A vida me parece um trabalho inútil, um constante esforço pela sobrevivência cuja consumação é seu próprio fracasso.
A natureza que nos faz ser como espécue, em termos de teleologia humana só pode ser definida como perversa. Por isso qualquer conhecimento positivo da realidade me parece, na melhor das hipóteses, demasiadamente ridículo.

MUDAR A MORTE

Queria ter o poder de mudar a morte daqueles que amei, faze-los viver até o ponto final e natural de suas vidas.
Morrer é quase sempre um ponto de inacabamento, de silêncios, onde quase ninguém se despede.

MORRO TODOS OS DIAS

Morro ao fim de cada dia de vida.
Morro porque existo,
porque morrer é o que torna possível 
ainda viver
na contramão do tempo
e dos atos.

quarta-feira, 23 de março de 2022

QUANDO NADA IMPORTA

Pouco importa qual será minha última palavra,
meu último pensamento,
minha última refeição,
ou a roupa que cobrirá
meu cadaver
no dia do meu enterro.

Não importa nada.
Nem mesmo a vida
que eu levava,
as pessoas que eu amava,
ou o que deixei como herança. 

Tudo em meu desaparecimento é matéria para o esquecimento.


terça-feira, 22 de março de 2022

INTROSPECÇÃO

Gosto da noite,
do frio, e do sono
para abraçar meus silêncios,
meus mortos,
e me cobrir com as cinzas
do tempo.

Gosto de me sentir sozinho,
abandonado até por mim mesmo,
escondido no escuro dos meus pensamentos.



quarta-feira, 16 de março de 2022

CONTRA A ETERNIDADE


Toda eternidade não vale um instante de devir e finitude.
Ela é a ilusão dos fracos,
dos que não suportam
a realidade da morte
e negam a perenidade da vida
pela ilusão do infinito.
Recuso tudo que se concebe eterno,
que recusa um fim,
que ao se fazer permanente 
nega tudo que existe.




sábado, 12 de março de 2022

ECO DE MORTE

Há um eco de morte em todos os meus atos de vida,
um sono que assómbra o exercício da consciência, 
um mal estar de estar vivo,
um limite da ordem,
uma vocação do ser para o caos 
o absurdo.

sexta-feira, 11 de março de 2022

A MORTE QUE VEM

Ele só esperava
por uma morte tranquila,
por um silêncio 
não pertubado
pela violência 
de qualquer ruído
ou juizo de.

segunda-feira, 7 de março de 2022

O FIM

O fim é sempre um silêncio sem ponto final,
um inacabamento.

O fim é o único acontecimento
que nunca termina.
É quando tudo transcende o limite,
e nada mais é.



O DES- SENTIDO DA MORTALIDADE

A mortalidade é um estado virtual
que escancara a angustia,
o medo, a impotência,
a solidão, 
e o niilismo,
que no avesso de nós
desvela o mundo
como tudo aquilo que nos ultrapassa
na indiferença da natureza.

A mortalidade é nosso estado permanente de incerteza e imprecisão
onde o próprio viver nos escapa,
onde os deuses nos contemplam mortais.
.


PERSISTÊNCIA

De mal a pior
seguimos todos bem
a correr contra o vento,
contra o mundo,
em busca da vida
que não foi.

Amanhã nos espera
o pior de nosso passado comum.
Todos os monstros guardados no armário da razão moderna
hão de fugir e dar uma festa.

Seremos depois de amanhã
os sobreviventes de uma terra deserta.

Mas de mal a pior seguiremos,
até o limite do caminho,
e fartos do mundo.

MORTO VIVO

Sou parte das coisas que morrem,
que intensamente gritam um passado
constantemente renovado
pela lembrança dos mortos. 

Meu futuro veste luto,
saudades e silêncios
que aos poucos me devoram.
 


domingo, 6 de março de 2022

SOBRE O MUNDO QUE VIRÁ

Deixe a esperança morrer
e o desespero inventar novos mundos.
O futuro é filho da necessidade
e não um capricho de nossa vontade. 
Toda mudança nasce da vertigem da intuição  de caos e abismos.

sexta-feira, 4 de março de 2022

GEOGRAFIA DA MORTE

Os lugares morrem com seus habitantes.
Mas renascem sempre feridos por novas paisagens,
outras vidas,
que reinventam a cidade e os dias.

Há muitos lugares que não me conhecem mais,
que me fazem sentir entre meus mortos
enterrado em tanta memória
de paisagens perdidas.

A MORTE E O NADA

A morte é sempre superada pelo esquecimento, pelo desaparecimento das épocas, pelo silêncio que define o passar do tempo.
O nada é a grande ausência de nós mesmos no vazio da eternidade. Nele reina absoluto, o mais profundo esquecimento.