AUTO CRÍTICA NIILISTA

Sou limitado, duvidoso

e asqueroso

como todo mundo.

Daqui a pouco

estarei morto,

resolvido entre os meus pares

e devidamente esquecido.

Por isso,

não se importe comigo,

não dê atenção ao que eu digo.

Sou como

qualquer outra coisa que passa

enquanto a terra gira

e a humanidade desaparece

na ignorância do universo.

A vida é sobre ninguém

e não vale um sopro de imaginação ou eternidade.

VARIAÇÕES EM TORNO DO VERBO MORRER

Morrer é ser devorado pelo passado.

É abandonar o presente aos outros,

e abrir mão do próprio tempo vivido

abraçando feliz o infinito esquecimento de si.

Morrer é livrar-se do eu e do mundo

sem qualquer alarde

e sem fazer disso  uma decisão pessoal.

Morrer é levar a vida as suas últimas consequências

abraçando o grande silêncio da existência,

através da mais radical despersonalização,

que nos ensina muda

a banal experiência de uma indiferença absoluta.

Morrer é a redução do corpo a um objeto

despido de mundo e verbo .

VELHICE

Os anos passaram por nós 

e a vida ficou   pelo caminho.

Tudo mudou .

Não sou mais quem costumava ser.

Nem espero nada do futuro.

Arrume tudo. Vamos embora.

Não há mais nada a fazer.

Não demorará muito para anoitecer.

Vamos embora.

Os anos passaram.

Agora é hora de tudo esquecer.

A vida ficou pelo caminho.

A POTÊNCIA DE NOSSAS RENUNCIAS

Desistir de tudo é também um modo de resistir, de lutar contra a realidade. 

Não é exagerado dizer que aqueles que desistem são invencíveis. Pois não há arma mais poderosa do que a indiferença. Não fazer parte das coisas é uma eficiente estratégia para destrui-las.  Algumas  impotências e desmobilizações são fundamentais....

TÉDIO E EXISTÊNCIA

Enquanto o tempo nos consome 

Não há nada para fazer 

além de esperar a hora da nossa morte. 

Afinal, tudo passa , 

se perde, desaparece.

A vida é um esforço inútil, 

despido de qualquer sentido.

Por isso desisto de tudo.

Não serei explorado,

Não terei convicções ou objetivos.

Diante de todo poder serei insubmisso

até que a morte a luz me roube 

MORTE E LIBERDADE

Quando eu morrer me livro deste mundo injusto,

das humilhações, limites e privações,

de uma existência de obediências e exploração.

Quando eu morrer não serei mais controlado,

vigiado ou manipulado.

Não pagarei tributos,

Não obedecerei ao Estado,

as Igrejas,

Nem  deverei satisfação alguma a patrão.

Minha inexistência será minha libertação,

minha mais perfeita e derradeira vingança

contra uma vida de prisão.

O nada será minha salvação!!

MORTO VIVO

A pior parte da minha rotina

é ter que acordar todo dia

depois de desistir de tudo

antes de dormir.

Mas já me acostumei a morrer

antes de estar morto

em um mundo que morre aos poucos

e nos reduz a personas

de uma épica catástrofe.

Como tudo é relativo,

de alguma forma,

já estamos todos mortos,

e minha agonia é ilusória.

ANTI BIOGRAFIA

Sou parte do silencio

  Que define o mundo 

Na irrelevância dos acontecimentos. 

 Tudo em mim se desfaz 

Sem inventar memória, 

Deixar marca,

Construir identidades

 Ou, simplesmente, 

afirmar a falácia de qualquer significado. 

 Sigo desfeito em esquecimentos, Descontinuidades e perdas,

 Rumo ao fim da minha vida,

ao lugar nenhum do meu destino. 

 Isso é tudo.

APRENDER A MORRER

Talvez, eu nunca conheça

todas as faces da morte

que compõem o rosto da minha vida.

Mas sempre saberei o sorriso de um crânio

me contemplando no espelho.

Afinal, a morte dos outros

é uma experiência que ensina

a iminência do meu próprio fim.