quinta-feira, 30 de junho de 2016

SORRIA!

Inventa aos poucos qualquer motivo,
Mesmo que seja bobo,
Para amanhã  viver de novo
Um hoje mais degradado
Do que qualquer instante passado.

Faça de conta que vale a pena.
Viva como todo mundo
 E morra qualquer dias desses

Sem fazer a menor diferença.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

SOBRE EXISTIR PARA A MORTE

A existência é uma totalidade imperfeita que se fecha sobre si mesma. Não podemos conceber o não existir de hipotéticas pessoas que não nasceram, tanto quanto não podemos conceber algo posterior a existência de cada um de nós que não seja, de algum modo, também  Existência. O fim da vida, portanto, escapa a reflexão. O que nos assombra, porém, é a precariedade da própria existência, seu caráter provisório contraria todas as expectativas inerentes à compulsão irracional que nos funda a existência na concretude do acontecer físico. A morte para os seres humanos só pode ser experimentada como um absurdo. Somos invadidos por uma profunda perplexidade  quando confrontados com a constatação pura e simples de  que todo o esforço constante de se perpetuar diariamente como organismo vivo tem como melancólico resultado sua própria falência.



terça-feira, 28 de junho de 2016

PÓS MORTE

Tenho tentado imaginar o mundo depois da minha morte.
Não é uma tarefa difícil.
Tudo ira continuar acontecendo como sempre aconteceu
Independente da minha ausência.
Os lugares e coisas que gostei serão frequentados
Por jovens que serão como eu fui um dia,
Vivendo histórias e sentindo coisas semelhantes
Aquelas que me dormem na memória.
Tudo seguira seu rumo
E será , simplesmente, como se eu nunca tivesse nascido.


NOS ABISMOS DA NOSTALGIA

O passado é o presente dos mortos.
É onde os visitamos, através da memória,
Em nossas horas de devaneio.

Existo na evasão de existência
 em inútil revolta
Contra a arbitrariedade do tempo.

Sofro o passado mais do que espero
Pelo incerto do meu futuro.

Estou intensamente vivo
Apenas em tudo aquilo que já se foi,
Que se perdeu ou esta ainda por ser perder

Definitivamente...

sexta-feira, 24 de junho de 2016

AFORISMA FATAL

A vida é como uma ferida aberta no tecido do tempo. Pode-se dizer que a morte é sua cura. E tal frase não busca fazer sentido ou de algum modo esclarecer a condição humana. Apenas sinto aqui e agora o peso de tudo aquilo que não sou...

O SONO MAIS PROFUNDO

Hoje pretendo dormir
Até que todos os sonhos
Se esqueçam de mim.
A vida já não me importa.
Ninguém me aguarda
Depois daquela porta.
Melhor provar o beijo da noite
E abraçar o esquecimento.
Amanhã será apenas mais um dia.
E nele já sei que não me aguarda

Algum lugar. 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

A BANALIDADE DO DESESPERO

O desespero é uma experiência banal.
Todos os dias experimentamos um pouquinho dele
Em doses modestas.
Ninguém tem todas as respostas,
Todas as certezas.
Não conheço quem ostente
Constantemente otimismos.
Apenas fomos educados
Para ignorância do desespero.
Para acreditar a todo custo

No sentido da vida.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

INCONSTÂNCIA

Meu nascimento é reversível
Através da morte.
Não estou certo se quer  de mim mesmo.
Mas preciso supor a constância
Como essência do tempo
Que me inventa.
Me convenço de algumas ilusões
Para  que a vida seja possível .
A realidade é inconstante
E precisamos inventar seguranças
E certezas
Contra a perenidade de nossa frágil

Condição humana.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

PERENIDADE

A morte não tem hora,
Dia ou circunstâncias,
Obedece aos caprichos do imponderável
Revelando  o quanto é frágil
A condição humana.
Por isso quase não falo sobre o futuro.
Me considero um inventor de passados.
Minha existência é feita de lembranças.
O amanhã pode ser que não seja...
E não é bem certo nem mesmo
O fato de estar aqui agora.



quarta-feira, 15 de junho de 2016

O LADO ESCURO DA PEDAGOGIA


O futuro é um lugar escuro.
É melhor evita-lo.
Abraça o presente desesperadamente
E ignora o tempo que te mata.
Não pense sobre o despropósito da condição humana.
Faça de conta que tudo faz sentido
E que é possível viver serenamente
Do consenso de algumas cotidianas verdades.
Toda educação do mundo
Foi pensada para fazer de cada um algum tipo de idiota.


terça-feira, 14 de junho de 2016

FALAR SOBRE A MORTE

Falar sobre a morte sempre foi um modo de dizer a própria vida,
De ir além dos lugares comuns das representações corriqueiras
De um existir domesticado e sereno.
Nenhuma  filosofia do progresso inspira meu dia a dia
Ou esclarece o teatro do acontecer coletivo.
Tudo está dado e não resolvido
E só me resta sofrer os fatos.
A morte relativiza certezas
E esclarece duvidas sobre o modo incerto

Através do qual somos possíveis.

A MORTE DA VIDA

Tenho em conta na vida a morte
Como horizonte,
Como existência ao avesso
Se consumando no tempo
Onde a existência se inventa
Entre o sentido e o nada.
Quem sabe a medida da realidade
Dos meus atos?
A eternidade é o silencio dos fatos,
Um constante desfazer-se da realidade
Nas inercias e silêncios que no fundo definem

O mais essencial da vida.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O TEMPO E A FORCA

O passado é como uma corda em torno do meu pescoço.
Só é preciso um pouco de futuro para apertar o laço.
Por isso procuro não pensar em tudo aquilo que já foi perdido
Ou em todas as coisas que ficarão por fazer.
Que prevaleça, ainda, o inútil do meu esforço
Nesta busca fadada ao fracasso
Por qualquer realização plena
De simples tempo presente.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

PENSAR A MORTE

É natural e necessário imaginar a morte,
Fazer disso uma rotina e um jogo,
Inventando um olhar diferente sobre o existir precário
Fundado pela finitude e pelo inevitável.
Nada dura para sempre.
Estamos sempre vivendo mudanças
Até que a morte ponha um ponto final
E revele o nada de todas as transformações.


segunda-feira, 6 de junho de 2016

A VIDA NÃO DURA UM SEGUNDO

Tem tanta coisa que na minha existência
Se foi para sempre
Que quase todas as coisas vividas,
Quando traduzidas em lembranças,
Tem um gosto de sonho,
Daquilo que nunca aconteceu.

Todos os momentos são relativos,
Abstrações de um agora incerto
Onde procuro arrumar a bagunça
Dos meus pensamentos e impressões.
Mas a vida inteira não dura um segundo...


quinta-feira, 2 de junho de 2016

A VIDA NÃO TEM SOLUÇÃO

Sei que não posso viver mais
Daquilo tudo que fui,
 que já não me restam
Muitos futuros.
Tenho apenas o intimo da consciência
Que me torna estranho
As algazarras do agora
E as eternas duvidas e incertezas
Que me configuraram desde sempre a existência.
A vida não tem soluções.


quarta-feira, 1 de junho de 2016

SOMOS FINITOS

Não se iluda:
Este exato momento
No qual agora
Se resume toda a minha existência,
Não passa de um nada
A sombra da eternidade
Que, de tão abstrata,
Define-se como a mais absurda
De todas as ilusões.

O tempo é apenas a medida
Da unilateraridade da vida.
Somos trágicos filhos do efêmero
E não há nada que nos permita
Ir além disso.
Não importa no que você acredita.
A finitude é o que nos define humanos.