A MORTE É UM DOS GRANDES TABUS DO IMAGINÁRIO OCIDENTAL.FATO QUE POR SI SÓ JUSTIFICA O ESFORÇO DESTE BLOG DE EXPLORAR SUAS REPRESENTAÇÕES COLETIVAS ECODIFICAÇÕES PESSOAIS...
Tudo que nos define é a presença arrebatadora de uma abstrata ausência. Trata-se de algo indeterminado, além de qualquer palavra ou conceito. Algo que nos consome e se consuma na morte.
O tempo cíclico dos anos nos confronta com a dança das gerações. Carrego em mim a memoria dos mortos que não contam mais os anos e já se perderam nos abismos do futuro. Mas é sempre novamente ano novo. Sempre com outros rostos e situações.
A roda do tempo gira implacável, fazendo o mesmo percurso, mas nunca é a mesma ao final de cada volta.
O mais genuíno instinto de vida é aquele que se volta para o futuro, que desafia toda contingência. Mesmo que em nome de uma plenitude impossível, de um porvir que nunca é o mesmo, de uma vida que nos ultrapassa e acorda vertigens.
Somente uma vida suja de morte pode reivindicar sua própria radicalidade.
Não sou parte do passado ou do futuro da humanidade. Sou apenas um fragmento deste descartável presente, um insignificante detalhe na paisagem do agora. Mas dentro de mim existe um universo, algo que não cabe no rosto ou na voz que me define entre os outros. Algo que de tão intenso desaparece, quase não existe, mas me ultrapassa na indeterminação do mundo, na impertinência de uma existência que não dura por nem um segundo de eternidade.
A morte se confunde com a impossibilidade de novidade. É quando nada mais pode ser mudado, quando tudo está dado.
A morte é estática , imóvel. Enquanto a vida é movimento e transformação constante.
O status social dos mortos é o silêncio, a impossibilidade de transformar e ser transformado.
Muitas pessoas existem em estado de morte. Chamam isso de "conservadorismo" politico, mas trata-se de uma disposição que transcende o campo politico e apresenta desdobramentos existenciais profundos.
Durante a eternidade de um instante, toda a realidade do mundo foi um vento frio beijando minha pele. Toda realidade da vida era traduzida por esta experiência . Nela cabia toda natureza e o próprio universo. Só não cabia o incerto da minha própria existência e a fantasia do meu pensamento.
Sei que não chegarei aos noventa anos. Então aqui dedico este registro ao silêncio da manhã dos meus noventa anos.
Quando eu estiver diluído no passado comum dos dias, esta data não fará sentido. Por que diabos faria? Hoje mesmo já não celebro meus anos, minhas perdas. Sei que a vida é um fato duvidoso tal como é ridícula a reunião em torno de um bolo.
Nosso passado dura muito pouco. Resumido a miséria de algumas décadas, revela insuficiente o tempo presente, enquanto o futuro mais robusto nos escapa.
Desta forma, uma vida inteira é muito pouco para saber o mundo. Estamos presos a ilusão de uma época e morremos sempre cedo demais. Nossa existência quase não cabe no tempo. Como é miserável nossa consciência.....