quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

VIVER É MORRER!

 “Nisso erramos: em ver a morte à frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.”
Sêneca

A morte é sobre o passado e não sobre o futuro. Ela é o ontem que se acumula em nós e somente em pequena parte se converte em memória. A morte se confunde, assim, com a vida dentro do tempo, com o desgaste do corpo ao longo dos anos, com a perenidade dos atos e vivencias que desaparecem como pegadas na areia.

A morte é aquilo que demasiadamente somos enquanto seres vivos. Viver é um processo de morte, de desaparecimento progressivo. 

EM DEFESA DA EUTANÁSIA


A eutanásia é uma escolha que abrevia o sofrimento pessoal em casos clínicos terminais onde a morte é o desdobramento inevitável de uma situação limite. Mas vale esclarecer que a eutanásia é um procedimento diferente de  um suicídio assistido, pois cabe ao enfermo executar o ato com os meios que lhe foram postos a disposição. Trata-se, portanto, de uma decisão pessoal e privada.  Mesmo assim socialmente ela é considerada um tabu e condenada pelo código de ética medico em  alguns países ocidentais. Nossas culturas tendem a mitificar a vida e transforma-la em um valor absoluto mesmo diante das condições mais desumanas e negando ao individuo o direito de dispor de sua própria existência. 

No ocidente ainda há muita resistência em compreender o morrer como um processo pessoal antes de configurar-se como  um acontecimento social. Buscamos  coletivamente domesticar a morte, afirmar a vida, sem levar em consideração a experiência de quem já perdeu qualquer vinculo com a vida por conta de um quadro clinico que lhe impôs condições degradantes de existência.

Afinal, até onde vale a pena viver? Cada um deve responder por si mesmo a essa pergunta.


TESTAMENTO DE NARCISO


Após meu desaparecimento,
quando eu não  mais existir a parte
e através de tudo
como contraponto dos outros,
O mundo não será mais o mesmo.

Ninguém perceberá isso,
mas nada mais será como antes do meu nascimento.
Alguns dirão que sou narcisista por afirmar isso.
Mas a verdade é que  no meu existir
apenas eu existo como medida do mundo.


DA VIDA QUE FOGE


Da vida que foge nos dias que correm,
muito é só tempo perdido:
horas consumidas pelo trabalho,
pelo lazer idiota ditado pelo mimetismo social,
ou pelas indispensáveis horas de tédio e de sono.

Da vida é muito pouco que se aproveita...
quase nada vale a existência.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

SER E TEMPO

Sou o garoto morto
Que sorri na fotografia antiga,
O adulto sepultado no trabalho
E o velho descartável que sonha com a  morte no leito hospitalar.
Sou todos os tempos do corpo,
Sei todas as agonias da vida
Na infernal metafísica de ser,
De viver em sociedade
Toda miséria da humanidade.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

DA MUTAÇÃO DAS COISAS

Pouco importa ao universo a memória das partículas.
Quando Igual valor tem um grão  de areia e um planeta
No rearranjo constante das naturezas.
Ao infinito não  importa a história. 
O tempo é  um apêndice da natureza,
Uma ilusão  da matéria viva.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

DA VIDA E DO TEMPO


O passado ainda lembra o meu nome
enquanto o futuro não me conhece.
Uma hora o passado esquecerá meu nome
e o futuro nunca saberá  noticias minhas.
O fato é que o  tempo  quase não me percebe
e a eternidade não existe.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

NATUREZA NUA

O fundo insignificante da existência revela a distância dos signos,
Os limites da consciência na agonia dos sentidos.
A natureza é  muda,
Assignificante.
Só podemos conhecê-la
Em estado de participação, 
De desumanidade e intuição animal.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

SOBRE VIVER

Viver de má  vontade e pior que morrer,
Viver pela metade é o mesmo que não  viver.

A vida nem sempre vale a pena
diante do veneno do sofrimento....
Mas  sofrer impassivo diz o ativo de viver.

A vida é  o que passa,
O que acaba.
Vivemos para morrer.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

O TEMPO QUE PASSA

O tempo se alimenta do cotidiano.
Vive do desaparecimento dos nossos atos,
Sentimentos e lembranças. 

O tempo é  o avesso da eternidade.
Contra ele não  há esperança. 
 É sempre cedo demais para dizer adeus
E tarde demais para ficar.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

CAOS ABSOLUTO



Na sala  o céu desaba
dentro da tela
E se reinventa em clones digitais
a margem da razão e do mundo.

O caos aqui é transparente
e cada coisa revela  sua aberrância
denunciando a vida como puro absurdo.

Só a morte faz sentido
dentro da rotina do aquário humano.
Só a morte...
O resto é a indiferença de um universo infinito,
indefinível e incompreensível
que contradiz qualquer ideal de razão.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

SOBRE O QUE FOI VIVIDO


Meu cotidiano não escrito
não deixará vestígios.
Levarei pro túmulo
meus dias vividos.
Eles não interessam a ninguém.
Nem a mim mesmo.
Sempre esperei
outra forma de ser alguém,
Outra maneira de viver,
De descobrir o nada.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

O CORPO COMO MEDIDA DO HUMANO

Este corpo finito e perecível 
É  a medida de nossa condição  humana.
É  o que nos faz natureza,
O que contraria a razão,
O belo e o bom.

O  corpo é  fome, 
Falta que preenche 
E nos consome.

Este corpo finito e perecível
É  a medida da vida que nos mata.


TEMPO QUE PASSA



As vezes o dia parece curto.
Outras insuportavelmente longo.
Constante é apenas nossa desesperança,
nossa má vontade com o tempo vivido.

Seguimos  em frente
como quem olha para traz
e no desprezo pelo próprio caminho
abomina o tédio do passar das horas
e o  inevitável destino.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

UM POUCO DE MORTE, POR FAVOR.



Vou morrer um pouco hoje.
Amanhã, prometo,
Nascer de novo, 
Tentar de novo,
Não  ser e ser de novo,
Até  o limite de um Sísifo!!
Mas, por enquanto,
Vou apenas morrer um pouco.