quarta-feira, 30 de junho de 2021

O PASSADO COMO JANELA DA MORTE

Quando entendemos a morte como o absoluto da inação e inércia, podemos afirmar que a memória e o passado são  uma janela  da morte.
A morte, neste contexto, torna-se a ausência  do agora. Mas tal hipótese só vale para a consciência e parcialmente para o corpo para o qual a consciência é  um efeito menor de sua vocação limitada a sobrevivência. 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

O ÚLTIMO DIA

O último dia sempre chega sem aviso.
Resume uma vida inteira
no espanto de alguns segundos.

Desaparecemos do tempo e do mundo 
concluindo o parto.

Tudo termina
e a vida segue
no sem sentido do ser
que através dos outros permanece.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Gente morre,
gente nasce,
a existência passa
e a vida fica.

A morte é viva
e ativa
em todas as partes.

A eternidade não  passa
de uma ingênua utopia.

Gente morre,
gente nasce,
gente morre,
e ninguém sabe dizer
o que é,  afinal, a vida.

LUTO E SOLIDÃO

 

Sozinho pertenço aos outros

que não me sabem mais,

que escaparam ao mundo e a realidade.

Habito ausências,

cultivo saudades,

despido do abrigo de identidades.


Sozinho pertenço ao vazio

de ser fora de mim

o resto dos que se foram.

terça-feira, 22 de junho de 2021

O PARADÓXO DA VIDA E DA MORTE

 

Só a vida muda a vida

através da vida

em seu canto de morte.


Eis o grande paradoxo

do fluir do que existe:

A morte sustenta a vida

através do tempo dos homens.

Nada permanece

onde tudo persiste.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

QUASE NÃO HÁ VIDA

Há corpos por todas as partes.
Tudo acontece.
A vida segue.
Mas como são pobres as imaginações!
Nada acontece!
Quase não  há vida!
Existe apenas a lei & a ordem
na prisão de rotinas.
A cidade é um formigueiro anti ecológico
onde tudo é estéril na produção  do tédio e do caos.
 Os corpos apenas envelhecem.
Quase não  há vida.


terça-feira, 15 de junho de 2021

CORPO INERTE

Viver nos inventa 
como incerteza e
acaso ,
entre a necessidade,
a vontade e a consciência.
Mas somos apenas
um silêncio  que cresce
como movimento
contra a ilusão  do tempo,
da palavra e do corpo vivo.
o corpo é  por definição  inerte, 
vazio, no devir da materua inerte.


SOBREVIVENCIA

A morte nunca foi o contrário  da vida. A vida não  morre. cada um de nós  morre como corpo, através  do paradoxo da sobrevivência. 
A vida é o descartavel de nós
no existir multiplo que sempre se reproduz na mimese do absurdo.

domingo, 13 de junho de 2021

SOBRE OUTRO POST NIILISMO

Outro dia,
postei em qualquer rede social,
algum dizer confuso,
sobre a falta de sentido
e o obtuso de nossa existência. 

Escrevi poucas palavras 
sobre o inútil exercicio
de nossa suposta humanidade,
sobre nossa indecência existencial
ou ridicula prepotência.

Depois fui dormir 
ainda digerindo
minhas próprias palavras.

Queria afirmar,apenas, 
minha enorme indiferença,
diante da experiência de acontecer no mundo
perdido entre o Ser e a existência. 








sábado, 12 de junho de 2021

MORRER DE PESTE

Morrer de peste
é um morrer diferente.
Não  é  natural
ou de acidente.
É um morrer coletivo,
anônimo,
destes que sabem os indigentes.

É um morrer precário,
um participar de catástrofe, 
que anula o rosto.

É um morrer sem alma,
solitário no abraço 
de um absurdo tosco,
coletivamente estabelecido,
por alguns concentido,
que nem mesmo cabe
na palavra tragédia. 

É um morrer pela tristeza,
pela indiferença,
pela ignorância, 
que nos contamina nas ruas
e nos anula na realização de uma impotência 
para o qual a vida
nunca saberá a cura.


sábado, 5 de junho de 2021

ADIAMENTO

Sempre espero 
que o dia amanheça
antes que seja tarde demais. 

Sempre quero que nada aconteça,
que a vida prevaleça,
e que a morte venha mais tarde.
Muito mais tarde,
consumando o tempo
do sem tempo
do devir absoluto.