segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

ANTROPOCENO

 

Que ninguém se engane.

A vida entre nós não vive

nos simulacros midiáticos

do absurdo da informação absoluta.

Enquanto isso,

a civilização apodrece,

e o planeta resiste

contra tudo que é humano.


São tempos pós históricos

onde lamentamos

todo nosso suposto progresso

e não há futuro

sem a transcendência da humanidade

na reinvenção da natureza.


ANGUSTIA EXISTÊNCIALISTA

 

Existo entre o medo e o desejo.

Quase não vivo

sobrevivendo à sombra da morte,

enterrado no instante de agora,

entre o passado e o nada,

que me define precariamente a vida.


Identidade alguma sustenta meu rosto,

diante da angustia de ter nascido

entre o medo e o desejo.


domingo, 30 de janeiro de 2022

SAUDOSISMO

O tempo passou,
tudo mudou,
e a vida se tornou saudade.
A memória é a única realidade
que ainda sustenta
o vazio dos dias,
e a melancolia dos fatos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A RELATIVIDADE REATIVA DA VIDA

Nem todos os esquecidos estão mortos.
Nem todos os que vivem realizam a vida.
Viver não cabe mais na existência dos homens.
Tornou-se um segredo transfiguando o óbvio. 
Viver é relativo e reativo.


CONDIÇÃO HUMANA

Entre a ilusão da vida e a realidade do nada e da morte, existimos  resistindo ao mundo
e sucumbindo ao tempo.

 Cada biografia é um instante de relâmpago.
Um nada dentro de um céu inquieto,
sempre grávido de tempestades

domingo, 16 de janeiro de 2022

A SOBERANIA DA MORTE

Para a morte, enquanto processo de ser e não ser, que desdiz o viver, não  há diferença  entre um virus e um organismo humano. Ambos estão  condenados ao desaparecimento, pelo simples devir biológico  de toda forma de vida até hoje conhecida.
Já dizia Manoel Bandeira que,
"A existência é uma aventura, de tal modo inconsequente."

sábado, 15 de janeiro de 2022

SOBRE MORRER

A morte é sempre surpreendente. Principalmente quando aguardada. Não  há como fugir a angustia de inacabamento que define o ponto final da existência. Nada nos prepara para isso. Nem mesmo a ingênua esperança  de qualquer pós vida.

NOSTALGIA E METAFÍSICA

Tudo em mim é passado.
Não  careço de futuro,
nem quero saber
da fluidez do presente.

Tudo na minha vida
já aconteceu
e tenho habitado entre os mortos
contemplando o por do sol.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

SOBREVIVÊNCIA

Sobreviver para sofrer o nada,
para ser apêndice da sociedade,
um borrão no tempo,
no espaço, 
ou, no final, na memória de alguém.

Sobreviver para ser ninguém,
existir sem a dignidade natural
que qualquer animal tem.

Sobreviver onde a vida não vive,
onde tudo é impossível,
e nos fere uma dor abstrata. 


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

PLANEJANDO A VIDA

Tinha a meta impossivel
de regressar a casa antiga,
desaparecer em passados,
retomar a infância,
apagar o futuro,
e morrer feliz
antes do meio dia.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A VIDA QUE ESCAPA

Viver já não me diz respeito.
É assunto para os outros
em suas pequenas catástrofes cotidianas,
para os grandes impasses do mundo civilizado,
onde minha existência não cabe.
Afinal, sou apenas o intervalo entre dois silêncios.
A vida segue do meu lado de fora.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

CULTO AOS MORTOS



Vazio de mundo,
sou matéria dos outros
no tempo comum de todos. 

Tudo em meu viver
é despedida,
de urgente passado
que brilha como estrela morta
na ilusão do infinito.

Dentro de mim
guardo
a vida perdida 
dos partiram....

LUTO EXISTÊNCIAL

Aprendi a morrer aos poucos
doente da morte dos outros.
Sei ser na ausência dos que se foram,
até o limite de mim mesmo.
Pois viver já não importa
onde só resta o luto
e tudo é a presença dos que se foram.


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A ARTE DE MORRER

A morte não é um acontecimento, é um processo que corre dentro de nós o tempo todo. Estamos todos morrendo, e é isso que define a vida como movimento de ser e não ser na materialidade do corpo.