quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

CORPO MORTO

O corpo morto,
Despido de sentido,
de verbo, afeto,
consciência e percepção,
reduz-se a coisa.
Não é mais um indivíduo.
É apenas um corpo,
matéria inerte
que se desfaz
e nos faz ninguém.







quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

VIVER É APRENDER A MORRER

O passado nunca para de morrer
enquanto me faço outro
e me rendo
ao futuro que aos poucos me mata.

O tempo, talvez, seja apenas a morte em movimento,
um desaparecer constante de tudo que existe.

Só sei que viver é aprender a morrer
e nada neste mundo persiste.






terça-feira, 27 de dezembro de 2022

EPITÁFIO

A vida foi para mim
como um brinquedo quebrado,
um imperfeito objeto de sonho e delírio.

Pois, fui, 
contra o eu,
tão somente, coisa, corpo,
matéria e espanto.
Algo quase imperceptível
entre a agonia e a alegria
de estar vivo.





MORTE SÚBITA

A morte sempre surpreende.
Principalmente,
quando esperada.
Todos morrem cedo demais,
não importa a idade
ou as dificuldades.

Morrer é sempre de repente.
Tudo é descontinuidade e silêncio,
além do frio das despedidas
ou da brutalidade das circunstâncias.


Sabemos que viver não passa de
ilusão e imanência.
Existir é incerto e efêmero.
Somos apenas um nada que leva ao nada
além do tempo e do espaço
no eterno retorno da natureza.



domingo, 25 de dezembro de 2022

DIANTE DO OBITUÁRIO

É impactante saber da morte de alguém, pois o morrer do outro sempre reforça a certeza de nossa própria morte.
No fundo, a morte não é de ninguém, mas de todos nós. É a própria impessoalidade do seu acontecimento que torna a morte tão impactante como acontecimento.

sábado, 24 de dezembro de 2022

O TEMPO E A GENTE

O tempo nos envelhece
para se conservar novo,
sempre por vir,
contra o que já foi
e nunca mais novamente será.

Mesmo que o tempo
não seja linear,
ele é medido em matéria,
sempre finita e incerta,
a se transformar.

O tempo é sempre,
enquanto a gente murcha 
como uma flor de jardim
e se perde
Em nunca mais.




domingo, 18 de dezembro de 2022

MINHA MORTE

Minha morte,
como qualquer outra morte,
ocorrida entre nós
desde os mais remotos tempos
da duração humana,
não será mais do que um acontecimento banal,
condenado ao esquecimento.

Afinal, todo corpo é efêmero
e sempre haverá outros corpos,
outras vidas,
no lugar da minha,
afirmando a sobrevivência da espécie
no inumano tempo quase infinito
da natureza e da Terra,
na contra mão da minha finitude.

Então, minha morte,
não significa, absolutamente,
Nada,
como qualquer outra morte
que foi ou será
desde o início dos tempos.




quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O PASSADO QUE NOS MATA AOS POUCOS

O passado é  maior que o futuro.
Pois o tempo sempre nos falta,
escapa,
se afasta e se deixa perder 
no que já deixou de ser.

O tempo, afinal, é apenas um adeus
que não para de crescer
até transbordar a existência
na absoluta afirmação do não ser.

Assim, o outro, reduzido a um corpo desfeito,
mas perpetuado pelo pálido espectro de uma lembrança,
se torna o tênue silêncio de uma ausência
que nos frequenta como uma fome
que jamais se cala,
Como um passado virtualmente vivo, que
 em qualquer futuro, quase  iminente,
há de nos afogar indiferente,
meio que derrepente,
Com a serenidade triste de um por de sol.

Diante do tempo que cresce ao infinito e tudo devora,
não cabe o alento de qualquer esperança.




OS ANOS PASSAM

Os anos 
já não morrem como antigamente.
Também não somos os mesmos
e, entre nós, há muitas ausências.

Os anos passam
e levam a gente.
Nada na vida é permanente.

O tempo é uma doença.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A MORTE COMO TRANSGRESSÃO

Morrer é deixar a realidade
pra virar sonho, saudade.
É sucumbir de vez a indiferença
que nos define dentro e contra o mundo
como um breve limbo existencial.
É abandonar a ilusão da consciência
e a vida como equívoco da matéria.
É, simplesmente, não ser,
além de qualquer razão
ou transcendência.
Morrer é um silêncio
além do próprio silêncio,
é superar o eu, o outro,
e o verbo.





sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

MORTE E NÃO SER

Quando eu for apenas uma porção de ossos velhos perdidos na terra, não fará qualquer diferença  a vida que levei um dia. Nenhum vestígio da minha existência há de ser relevante. Serei livre além da própria ideia de liberdade.  Não ser, estar além do nada, é um anti conceito, um não pensamento, que me inspira.