Breviário de Decomposição ( 1949)
foi o primeiro livro do romeno Emil Cioran escrito em francês. Não apresenta,
ainda, a elegante angustia de seus Silogismos da Amargura ( 1952), mas sua repercussão à época contribuiu decisivamente
para estabelecer o autor como um dos mais singulares intelectuais europeus do pós
guerra.
O Breviário lembra, em estilo e
temática, lembra uma obra anterior, Das
Lágrimas e dos Santos (1937), que nos oferece
uma espécie de “teologia negativa” ou uma “mística do desespero”.
O niilismo de Cioran tinha à época,
como pano de fundo a barbárie de duas guerras mundiais e a sombra por ela
projetada sobre qualquer futuro possível à civilização ocidental. Não é,
portanto, insólita sua retórica anti humanista, seu desprezo pela condição
humana, pela cultura e a civilização.
Para ele, todo sistema de crenças
nos conduz da logica a epilepsia, a própria
existência é um fato insano e ilegível .
Como ele mesmo afirma em seu
Breviário,
“ A vida, acesso de loucura que sacode a matéria... respiro: é o
bastante para que me enclausurem. Incapaz de alcançar as claridades da morte;
rastejo na sombra dos dias, e ainda existo somente pela vontade de deixar de
existir.”
Por isso, é natural afirmar a
vida, este intervalo que nos separa do cadáver, como uma ferida. O ser humano é
um animal sem porvir empurrado para o rebanho como um fantasma de si mesmo. Eis
o que resta em meio ao grande cemitério de todas as formulações e invenções frívolas
das civilizações.