sexta-feira, 29 de setembro de 2017

MEUS SENTIMENTOS

Meus sentimentos estão gastos,
Me afastam de tudo que existe
Ensinando o nada
Como meta e caminho
Contra a realidade.
Por isso sigo em silêncio
Indiferente a tudo.
Sei que todas as coisas
Dispensam valor,
Que todos os dias
Ocorrem em um só momento
Onde tudo se perde,
Onde nada acontece
E a vida se faz ilegível
Em sua essencial perenidade.

No fim tudo acaba em esquecimento.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A VAIDADE É UMA QUIMERA


“Sem nossas dúvidas sobre nós mesmos, nosso ceticismo seria letra morta, inquietude convencional, doutrina filosófica” 


Emil Cioran

A vaidade ou a valoração irracional de si mesmo, em decorrência da simples existência, é uma fantasia saudável. Precisamos cultivar alguma auto imagem que imponha sentido a realidade vivida. Precisamos acreditar que somos social e pessoalmente importantes. Sem isso não seria possível suportar a existência. Todavia, tal afirmação de si mesmo, não deve ser maior do que a consciência de nossa finitude, de nossa nadificação. Deve-se sempre saber o devir da existência como um paradoxo entre o sentido e o não sentido. A boa consciência de nossas experiências depende sempre de algum grau de miopia.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017


SUSTO

Não tenho a ridícula pretensão
De impor a existência
Qualquer explicação.
A vida é apenas um grande susto.
Um susto que nos consome.
Todos os meus dias
São como um grito
E não há muito
A dizer sobre isso.


sexta-feira, 15 de setembro de 2017


UMA DOSE DE NIILISMO

O que hoje se coloca como meta para os espíritos críticos é a construção de uma estética do não sentido. É preciso desconfiar de todos os enunciados e banalizar todos os discursos.

Não é mais possível levar a sério as criações da imaginação humana. Seja no plano moral, filosófico, existencial e até mesmo cientifico. Somos criaturas ocas que se tomam por semi deuses.

Tudo que é humano me  é cada vez mais estranho e despido de qualquer valor. A existência não passa de uma mansa agonia, de um nada que conduz a nada.




quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O NÃO SER DO SER


Precisava muito de um minuto sem tempo, fora de mim e do mundo, vazio de tudo e pleno dos absurdos que me definem na impessoalidade de signos e símbolos....

Precisava não ser por um impreciso segundo para suportar a fantasia de ser....

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A ESPERA DO FIM

Vivemos da imaginação da catástrofe,
Da sua eterna iminência.
Apenas um fim proporciona significado
Aquilo que não faz sentido.
Nisso se resume a insólita experiência
Da nossa existência....


DESENCANTO

Chega sempre uma hora em que a existência simplesmente perde o sentido. É quando nos surpreendemos fartos da rotina, do destino e de tudo aquilo que ficou para depois. Nesta hora, diante do espelho, nos surpreendemos medíocres, limitados e frustrados. Simplesmente, não valeu a pena levantar da cama. As pálidas paisagens da existência não encantam, nada oferecem de interessante. No fundo, o mundo inteiro é uma grande piada, uma perda de tempo. Um dia você morre e tudo acaba sem se quer um ponto final. Não há conclusão. A vida é isso: um correr atrás do próprio rabo.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

BREVIÁRIO DE DECOMPOSIÇÃO

Breviário de Decomposição ( 1949) foi o primeiro livro do romeno Emil Cioran escrito em francês. Não apresenta, ainda, a elegante angustia de seus Silogismos da Amargura ( 1952), mas sua  repercussão à época contribuiu decisivamente para estabelecer o autor como um dos mais singulares intelectuais europeus do pós guerra.

O Breviário lembra, em estilo e temática,  lembra uma obra anterior, Das Lágrimas e dos Santos (1937), que nos oferece  uma espécie de “teologia negativa” ou uma “mística do desespero”.

O niilismo de Cioran tinha à época, como pano de fundo a barbárie de duas guerras mundiais e a sombra por ela projetada sobre qualquer futuro possível à civilização ocidental. Não é, portanto, insólita sua retórica anti humanista, seu desprezo pela condição humana, pela cultura e a civilização.  
Para ele, todo sistema de crenças nos conduz  da logica a epilepsia, a própria existência é um fato insano e ilegível .

Como ele mesmo afirma em seu Breviário,

“ A vida, acesso de loucura que sacode a matéria... respiro: é o bastante para que me enclausurem. Incapaz de alcançar as claridades da morte; rastejo na sombra dos dias, e ainda existo somente pela vontade de deixar de existir.”

Por isso, é natural afirmar a vida, este intervalo que nos separa do cadáver, como uma ferida. O ser humano é um animal sem porvir empurrado para o rebanho como um fantasma de si mesmo. Eis o que resta em meio ao grande cemitério de todas as formulações e invenções frívolas das civilizações.



terça-feira, 5 de setembro de 2017

SOBREVIVÊNCIA



Não tenho a intenção de dar certo.
Basta conseguir permanecer vivo
Por um longo tempo.
O resto, definitivamente,
Não importa.       
Sigo em silêncio

Através do gritar do mundo.

O DEVIR DA HISTÓRIA

“Neste mundo, onde os sofrimentos se confundem e se apagam, só reina a fórmula.”
Emil Cioran in BREVIÁRIO DE DECOMPOSIÇÃO

O fracasso é o motor da História. Esta pequena frase resume o devir humano através das épocas. Pois a realização de todas as civilizações é a ruina e o esquecimento. As coisas estão sempre se perdendo de si mesmas. Nada é permanente. Esta falta de durabilidade do mundo é o que nos oferece o tempo.

Contra a angústia do devir absoluto inventamos a verdade, o sentido e o significado. Assim, aprendemos a interpretar o mundo inventando a nós mesmos. Mas não duramos mais do que um segundo.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

DESPERSONALIZAÇÃO

Ontem não me  arrebatou uma solidão qualquer.
Fui abandonado por mim mesmo,
Por toda vaidade, certeza e dignidade.
Minha própria consciência se voltou contra mim.
Me apartei de todas as conquistas e discursos,
De tudo aquilo que me fazia digno.
Surpreendi em mim um mendigo absoluto,
Um indigente indiferente a própria sorte,
Ao próprio silêncio.
Provei o amargo sentimento do não sentido,
Duvidei até mesmo da minha existência.
Ontem eu, simplesmente,

Deixei de ser eu por um longo momento.