segunda-feira, 26 de março de 2018

VERSOS OCOS


O superficial destes versos
Não esconde profundidade alguma.
Guarda apenas o oco de suas letras
Em um dizer banal e imediato
Sem qualquer pretensão a grandeza.
São versos simples e cotidianos,
Quase deselegantes,
Que não seduzem os olhos.
São versos vazios como a própria vida.


quinta-feira, 22 de março de 2018

DISPERSÕES


Toda integridade é provisória.
Tudo tende a dispersão.
Das moléculas aos pensamentos,
Das palavras a ação
Há sempre um não,
Um movimento de evasão.
Tudo tende ao silêncio.


terça-feira, 20 de março de 2018

UM LEMBRETE


MORTE E EXISTÊNCIA



A morte é silencio e ausência. Mas o silencio e a ausência não definem a morte. Basicamente ela revela a existência como uma experiência extrema, insólita, a uma consciência perplexa diante de sua própria fenomenologia. É preciso perder-se da realidade, provar vertigens, para saber a ideia de morte como um transbordamento da existência.  

quarta-feira, 14 de março de 2018

IMPACIÊNCIA


Estou velho demais para explicar o mundo,
Chato demais para buscar soluções,
Sonhar utopias e viver de ilusões.

Tenho pouco futuro e nenhuma razão.

Vivo os dias transbordando as horas.
É o que me resta,
o que me sobra.


terça-feira, 13 de março de 2018

GOYA: TEMPORALIDADE



SOBRE A INEXISTÊNCIA


A não existência é um conceito que escapa a possibilidade racional. Uma coisa que não existe não pode ser pensada ou concebida como representação. Entretanto, do ponto de vista cronológico, cada um de nós não existe por uma eternidade. É o que nos ensina o conceito de morte como medida da vida. A inexistência é a nossa trágica e indesejável condição, o que torna a existência um capricho biológico sem qualquer sentido.

segunda-feira, 12 de março de 2018

SOBRE A VAIDADE DE EXISTIR


É atribuída a Empédocles, filosofo pré Socrático que ainda escrevia em versos e que estabeleceu a teoria dos quatro elementos, a máxima segundo a qual, “Do não existente nada pode nascer e nada pode desaparecer no nada absoluto”. Tamanha era sua afirmação da vida e desconsideração da morte que, segundo a lenda, teria morrido atirando-se no vulcão Etna na expectativa de ser venerado pelos seus concidadãos.

Esta obsessão pela vida, esta vontade de existência, que chega ao extremo de recusar a própria ideia de morte, parece ser um traço comum a todas as culturas humanas.  O “narcisismo ontológico”, ou a vaidade de existir, é de fato um dos grandes condicionantes de nossa autoconsciência tão avida por transcendência.

Mas o processo vital, em sua dimensão biológica, é descontínuo e provisório. Não sobrevivemos a nós mesmos porque existimos para morrer.


sexta-feira, 9 de março de 2018

SONHAR A MORTE


Sonho a morte como quem adivinha a vida
Através da inerte imanência de um corpo sem alma.
Colho segredos nas evidências das coisas soltas
Que compondo o mundo descompõem o ser.

Aprendo a ler o ilegível,
A brincar de infinito,
Onde tudo é perecível.


quinta-feira, 8 de março de 2018

A MORTE



A morte esta no meu corpo....
O tempo todo.
Acontece durante o banho
E através do almoço,
Da fome,
Do desejo...
A morte é o que nos move.


quarta-feira, 7 de março de 2018

O IMPERATIVO DO NÃO SER


Quando o morrer do outro se confunde com o nosso próprio processo de morte, finalmente entendemos de modo passional e absurdo, o quanto a existência é medíocre e um exercício de morte que reduz a vida a uma mentira insólita. Afinal, por um curto período existimos contra nossa eterna inexistência.

O que nos define não é fantasia do Ser, mas a realidade do não ser.