sexta-feira, 24 de agosto de 2018

VIVEMOS APENAS O TEMPO DE UMA CANÇÃO


O tempo de duração de uma vida não pode ser medido de forma cronológica ou linear. Ele é qualitativo e, como tal, marcado por diferentes compassos, intensidades, ritmos e velocidades.

É como o tempo de uma canção e, como tal ,nossa percepção dele depende de como somos afetados, contaminados pelo seu próprio movimento/ acontecimento. O modo como somos preenchidos pela duração do tempo vivido define nossa percepção dele através da memória.

Não há como traduzir a duração de uma vida através de palavras. Sua textura não cabe satisfatoriamente em qualquer descrição ou significado. Pois em seu movimento há algo de indeterminado, de imaterial ou extra existencial, na falta de um termo melhor e mais preciso.

O tempo de uma vida “significa-se”, marca a superfície do corpo, é expressão de finitude. Sua duração acontece engendrando o fim, seu último movimento, como introdução ou prenuncio de uma ausência, de um silencio, onde já não existe tempo e memória e consciência se nivelam.


Uma vida é como um tema musical executado através de variações diversas cujo tema original nos escapa ou, antes, não remete as suas próprias variações interditando, assim, qualquer genealogia porque é a experiencia de um eu que sempre remete a exterioridade de um outro. 


O DESERTO E O TEMPO



Imensos são os desertos que nos consomem,
Trágicos são estes abstratos espaços de afeto
Onde nos inventamos em silêncios e desaparecemos.

Somos uma ponte entre o nada e o vazio
Através de desacontecimentos  que percorrem o tempo.

Nos fazemos teimosamente instantes e virtualidades em bolhas de memória e afeto.
Assim, insistimos contra nós mesmos afirmando o perene,
Nos desfazendo na paisagem aberta em múltiplas reedições do que poderíamos ser.  


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

AFORISMO SOBRE A BANALIDADE DA EXISTÊNCIA



A simples conclusão lógica de que a vida é um borrão entre duas linhas infinitas de inexistência, é mais do que suficiente para me fazer duvidar de mim mesmo ou, no mínimo, de qualquer relevância que eu possa ter enquanto representante da espécie humana. A própria vida biologia é um mero apêndice da natureza que parece mais concentrada em si mesma através do acontecer despretencioso das coisas inanimadas.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

TEMPO E EXISTÊNCIA





A insistência é o que melhor define uma existência.
Afinal, o tempo que nos sustenta,
É o sempre acontecer de um depois,
Uma desconstrução constante do agora.

Contra ele insistimos,
Resistimos.
Em rearranjos e desgastes,
Persistimos até o limite.

Apenas a morte  põe fim a agonia.
Através dela escapamos a angustia
Que nos faz gente.





sábado, 18 de agosto de 2018

TUDO LEVA AO NADA


Tudo na vida é tempo perdido,
Passado crescendo e engolindo a gente.
Não importa o afeto que anima os atos,
Os momentos e os fatos.
A vida dura apenas um segundo
E tudo que é agora
De alguma forma já está morto.

Esquece sua vaidade,
Pois o nada é o que te resume.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

SALA VAZIA




Meus pés percebem o correr do tempo
Enquanto um horizonte de coisas velhas me persegue.

Coisas que se reacomodam na sala e envelhecem
Desfazendo futuros enquanto a vida segue.

Como tudo é tão breve...
De repente já não há mais tempo.
O mundo mudou tanto
Que já quase não me reconhece
E o tempo escapa sob meus pés.

Sei que em breve me perderei entre as coisas.
E tudo será para sempre.
A sala ficará vazia.


FILOSOFIA DO SER E DO NÃO SER



Entre o infinito movimento de habitar o pensamento e o finito instante de pensar, um absurdo se estabelece na perplexidade de saber que existo.

Sou parte do mundo como acontecer da diversidade de coisas finitas. Existo em meio ao disforme e ao fragmentado, através do caos que define tudo que há como unidade do diverso.

Sou essencialmente o virtual deste corpo composto pelas interseções de diversos micro realidades orgânicas e abstratas.

Mas na medida em que sou no dizer que me define como coisa e sujeito, me percebo como não ser, como desfocado acontecimento no tempo que carece de real substancia.

Estamos vivos. E isso nada significa. É um acontecimento contra nós mesmos.


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O NÃO SER DA MORTE




O dia da minha morte será um acontecimento único.
Mas talvez eu nem o perceba...
A morte, afinal, não existe.
É algo que acontece através da falência do corpo.
Mas não é  tão evidente quanto o morrer.
Ela não é se quer pessoal.
Pelo contrário.
Acontece justamente quando o indivíduo é arrebatado de si mesmo.
Quando nada mais existe além da vida que continua.
A morte apenas nos faz prevalecer o passado
Contra nós mesmos
Na ausência de qualquer futuro individual.
A morte é aquilo que a todos definem,
Mas que ninguém sabe.

A ONIPOTÊNCIA DO PASSADO


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

RODA DA FORTUNA



A vaidade inventa os homens.
A morte os coloca em seu devido lugar.

Os altos e baixos da existência
Consumam a miséria de nossa condição humana,
Nos roubam o nome e nos reduz a pó.

Gira sempre a roda da fortuna
Afirmando a lei do tempo
Contra nossas infinitas ambições.


O ABSOLUTO DO SOFRIMENTO

Sofremos os fatos, o tempo e a morte.
Não no sentido da passividade,
Mas do movimento.
Sofremos...
A vida é a potência do sofrimento.
É como uma ferida na pele da imanência
Que define o acontecer do mundo.
Faça do seu riso um grito
Contra o delírio da consciência.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A DOENÇA COMO DESTINO

A doença está em todas as partes.
Mesmo quando exilada nos hospitais.
Dela poucos escapam.
Sempre chega a hora de algum flagelo.
Não importa se rico ou se pobre.
O mundo não é feito apenas de jovens saudáveis
desfilando felicidades.
Há muitos que padecem.
Mas fomos educados para evita-los,
Viver a vida de forma produtiva e alegre,
Como se existisse felicidade.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

O PARADOXO DE SER E NÃO SER


A NOITE QUE CAIU SOBRE NÓS


A noite caiu sobre nós.
Cobriu a paisagem como uma sombra densa,
Contaminou todos os lugares,
Escrevendo vazios em portas e janelas.
As ruas já não conduziram a parte alguma
E todos os rostos ficaram mudos e turvos.
Um gosto de fim amargava o tempo.
O céu era o nunca,
O chão um abismo.
Era o fim de todas as soluções.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O QUE NÃO SE DEFINE

Quando a morte acontece já não existe morte,
Apenas silêncio que supera a ausência
E transcende a perplexidade.
Não há percepção da morte.
O morrer é absoluto e indefinido.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

NADA É IMPORTANTE


Existe uma doce irrelevância 
Em tudo aquilo que desejamos.
Nada no fundo importa.
Tudo termina em esquecimento.

Qual o valor do nosso desejo
Se de nada vale nosso sentimento
Contra a crítica do tempo?

Apenas a vaidade nos inspira a vontade.

O ÚLTIMO DIA


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

ENTRE O PASSADO E O FUTURO

De alguma forma meu nascimento e minha morte se comunicam,
Realizam o encontro entre o passado e o futuro.

São dois momentos nulos, ausentes,
Através da indeterminação do tempo presente.

Um dia eles serão um único instante de eternidade
E eu não serei nada.