sábado, 29 de dezembro de 2018

O ÚLTIMO ANO

Era o último dia do ano.
Nada havia a comemorar.
Era o último dia do resto de toda a vida.
O fim quase dobrava a esquina.
Ninguém tinha algo a dizer.
É sempre muito triste no fim.
Era o último de todos anos,
Mas ninguém ainda sabia...
Mesmo assim tudo tinha gosto de fim.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

PENSAR É UM TRABALHO DE MORTE

É impossível compreender a vida na curta duração de uma banal existência. Por isso a atividade do pensamento é uma experiência coletiva dentro da qual cada pensador desaparece na arte de se perder de si mesmo.

Pensar é um trabalho de morte.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

SOBRE O TEMPO VIVIDO

É melhor nunca ter nascido do que envelhecer e morrer, do que sofrer o perecer de uma época, das pessoas e experiências que um dia nos definiram o mundo como experiência de um si mesmo.

Quem eu sou é tudo aquilo que se perdeu e em mim se cala para sempre, intransmissível a qualquer outra pessoa.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O SILÊNCIO

O silêncio não é aquilo sobre o que se cala. Ele é o vazio que escapa a linguagem como ato de pensamento e ação.

O silêncio é um afeto que nos move e preenche como um agir de morte. Ele é sempre um acontecimento que escapa a compreensão.

O MORRER DOS DIAS


Antigamente os dias tinham gosto de dia.
Agora tem um sabor de calendário.
O tempo perdeu substancia.
Não é mais experiência.
Não se converte em lembrança.
Tudo agora passa para sempre.
Não há permanências.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

CAMINHANTE

Caminho para um final sem fim,
Para a morte que há em mim.
Mas por enquanto sou presença,
Voz e ato em movimento.
Sou um rosto,
Um momento de humanidade
Perdido no tempo do mundo.
Amanhã seria nada.
E isso é tudo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

OS FARRAPOS DO PASSADO


Inventariamos os farrapos dos fatos passados.
Neles, o insólito e o efêmero emergem como irmãos siameses.
Evitam sentidos e reconstruções.
Não qualificam qualquer ontem,
Não permitem interpretações.
Não passam de testemunhas mudas
Daquilo que não é mais,
Que não se faz presente,
Nem mesmo como lembrança.
Não há neles qualquer vestígio,
Qualquer forma de virtual sobrevivência.
Os farrapos dos fatos tem cheiro de morte.

DESPEDIDA DO EMPREGO


Percebo que não sou mais aquele que chegou aqui. Não me reconheço em meus atos e nada aconteceu. Mas desde algum momento impreciso tudo já é outra coisa dentro de mim. Os sentimentos escrevem minhas vivências, que cavalgam meus pensamentos, são outros.

A sensibilidade muda com as coisas e as coisas mudam a sensibilidade até que nada mais seja reconhecível. É assim que o tempo passa na sucessão de cenários, oportunidades e reconstruções.

Ontem eu era aquele que aqui chegava como um estranho. Hoje saio estranhando a mim mesmo. Não é que o lugar tenha me transformado. Nada aprendi aqui que no fundo eu já não soubesse. Apenas estou diferente e o próprio lugar não é o mesmo. Por isso saio paradoxalmente do mesmo modo como cheguei. Isso faz parte desta incerta viagem que é a vida.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O ABSOLUTO E A MORTE

O futuro é a morte. Vivemos com uma marca fatal escrita no corpo. Um M de morte. Cada nascimento é o início de um fim. E é só isso que define a vida. 

O esquecimento superará a  ausência. Não importa a importância dos seus atos e vivências. 

A morte é a melhor definição do absoluto.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

SOBRE A INDIFERENÇA

Tudo se resume em nascer e morrer. A vida em si mesma é um acontecimento coletivo e impessoal. Algo que nos escapa em suas consequências mais radicais. Vivos ou mortos somos definidos por certa invisibilidade. Assim como os outros nos escapam na percepção cotidiana das coisas, escapamos a todos como viventes. A vida acontece e sempre continua apesar de cada um de nós. Mas essa é a verdadeira magia, é o que realmente nos une....

VIVER É GRITO

Cedo ou tarde tudo desaba sobre nós.
A vida não resiste.
Ela é menor do que os afetos que nos movem.
Por isso tudo é urgente,
Definitivo e inacabado.
Viver é grito!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O CORPO E A VIDA

O corpo não conhece a morte. Ele apenas se gasta e perece. A morte é obra da consciência que reduz a vida a um valor, que a transforma em um conceito vazio, é tenta impor propósitos a nossa existência.

O corpo só conhece a vida em sua imersão no mundo.