sábado, 30 de março de 2019

O NADA DO TEMPO

Tenho um passado em meus passos,
Um presente que angústia
e um futuro que não existe.


Sou feito de nada.
Nada me define.


O tempo me diz que quase existo.
Mas a memoria dos séculos sabe apenas do mundo.
Dentro de qualquer abismo
Um silêncio desde sempre espera por mim.

quinta-feira, 28 de março de 2019

A ILUSÃO DO FUTURO

A mais franca ilusão que nos é cotidianamente imposta é a crença no futuro. Ninguém tem futuro. O futuro é morrer. Podemos ser jovens ou velhos, saudáveis ou doentes, o futuro é morrer. Pouco importa o que fazemos ou nos acontece através  do presente, o que nos diz o passado que a memória inventa. O "eu" não nos sustenta, não nos realidade capaz de ser mais do que está verdade: seguimos para o nada. Jamais conheceremos o futuro, pois ele sempre  está onde somos ausentes.

segunda-feira, 25 de março de 2019

A FERIDA



Não era mais o vazio....
Não havia angústia.
Existia apenas a dor física e concreta
Que me dizia o corpo,
Que  me  fazia nada.


Toda a realidade se resumia a ferida.
Tudo era simples,
Direto e insuportável.

sábado, 23 de março de 2019

TRAGÉDIA CULTURAL

Uma cultura que coisifica o corpo, que dissocia afeto e pensamento, está condenada à fugir a morte e fazer da angústia sua confissão mais secreta.


Quanto mais sofisticada e elevada a vaidade de uma consciência, mas dolorosa será sua queda no caos que define desde sempre a existência.

quinta-feira, 21 de março de 2019

EGOISMO SOCIAL

Para a sociedade, eu não passo de uma nulidade, de um insignificante pedaço de multidão. Não faz diferença se estou vivo ou morto.

A ideia de ser uma pessoa é mais importante do que a pessoa real e concreta que ao mundo se apresenta. Afinal, a  vida só tem valor em sua dimensão abstrata e incerta. Pessoas morrem todos os dias e o mundo segue. A sociedade é egoísta diante do   narcisismo  de cada indivíduo.

quarta-feira, 20 de março de 2019

A ILUSÃO HUMANA


A verdade é que estamos condenados a morrer sem saber o que é a vida.
Vivemos na cegueira dos pensamentos,
Inventamos a alma para calar o corpo.

Acreditamos que o ser humano é a medida de todas as coisas, que as palavras, as técnicas e a filosofia, nos colocam acima da natureza. Acreditamos até mesmo que realmente existimos.

terça-feira, 12 de março de 2019

AMBIÇÃO


Tenho sonhado alto,
Pensado em abandonar tudo
Só para ver um por do sol.

Depois tomar banho de lua,
Sorrir às estrelas
E apagar o mundo
Esvaziando garrafas de cerveja.

Tudo é tão frágil e efêmero
Que não vale a pena
Perseguir certezas
Que perderemos num cemitério.

segunda-feira, 11 de março de 2019

O TEMPO E O UNIVERSO

Há quem diga que com o tempo tudo se resolve. Mas a verdade é que com o  tempo tudo se dissolve. Nada é permanente. E isso é mais um tormento do que um consolo. Mas é também verdade o contrário: tudo permanece. É nossa existência que escapa ao tempo. Pois o universo existe e nós não. Somos pequenos demais para caber no tempo, para pertencer ao universo. Os astrônomos são os poetas do impossível. Explorando as estrelas desvelam o infinito  silêncio que além de nós existe.

SOBRE NOSSAS MAIS INTIMAS INQUIETAÇÕES


Somos constantemente coagidos por nossas expectativas de realidade, pela necessidade de construção de uma persona social, a reproduzir um comportamento padrão. 

Nos adaptamos as representações coletivas da vida a revelia da experiência concreta de viver. Trata-se de uma questão de sobrevivência. Cada um deve encontrar seu lugar na realidade que a todos nós se apresenta cotidianamente como um fato social. 

Mas mesmo quando nos conformamos a elas, as coações coletivas geram ansiedades e inquietações. Algo dentro de nós quer ir além do jogo social. Algo que sabe que a vida é também o desejo, o grito, a passionalidade que nos afeta, que nos chama sempre de novo para experiência concreta de viver uma vida plena. Seja lá o que isso for.

Por isso há tantos rituais lúdicos que nos arrancam temporária e regradamente da realidade. Festas, shows, cinema, gastronomia, etc... Mas nada disso é suficiente. Permanecemos com a impressão ou intuição de que a vida esta em qualquer coisa ausente de nosso modo de viver. Algo nos falta e na sua condição de ausente  nos preenche de vontades abstratas. Este algo é indeterminado e fugidio e espalha um embriagante cheiro de delírio. Trata-se do caos que a margem da vida possível define em segredo o grande absurdo da nossa vã existência.

sábado, 9 de março de 2019

TEMPESTADE

A perplexidade que me provoca o fato da existência fez de mim tempestade.
Meu pensamento é relâmpago
E furioso vento.
Não me conformo ao existir cotidiano,
ao artifício civilizacional
Que nos rouba o vigor animal.
Sou selvagem, ingovernável,
E rebelde.
Sei a morte da vida que nos frequenta,
A potência do por vir
E de uma nova terra
Onde não seremos humanos,
Mas raio, trovão e vento.

quinta-feira, 7 de março de 2019

DORMÊNCIA NIILISTA


Uma dormência me pesa nos pensamentos e nos atos.
Tenho vontade de nada,
De não ser através de todas as coisas.

Quase desejo a inexistência, um beijo da morte.
Afinal, para que esperar tanto
Se tudo que sou desde sempre será desaparecimento?

A metafisica preguiça dos niilistas inspira minhas inercias
Através desta física dormência.
Longe de mim a demência dos otimistas e esperançosos
Que seguem firmes os imperativos de qualquer tipo de fé.



quarta-feira, 6 de março de 2019

POUCO IMPORTA

Pouco importa o que eu vivi ou senti durante uma vida inteira. Outros sentirão o mesmo ou melhor que eu. 

Pouco importa o fato de eu ter existido e desaparecido da face da terra como milhões e milhões de outros.

Existimos para o nada, como um acidente absurdo no jogo insano da reprodução inútil da espécie. Nada é mais insensato do que a biologia...mas isso também pouco importa.

OS OUTROS

É a experiência dos outros que torna minha existência significativa. Contra todas as expectativas em torno de mim mesmo, existo através de encontros e convivências, de ausências e despedidas.. 

Sou feito de todos aqueles que amei. Não guardo  grande certeza de mim, mas uma imensa consciência dos outros.
Viver sempre significou estar sempre distante de mim.