terça-feira, 26 de novembro de 2019

MORTE E SOCIEDADE

A morte  é  uma construção social.
Os pobres vivem menos que os ricos,
Os negros morrem mais do que os brancos.

O Estado mata,
A cidade mata,
A comida mata.

É um mundo cheio de vidas interrompidas
Em sociedades que produzem  morte.

VIVER É MORRER II

O passado é uma morte que cresce,
Que nos envolve e nos cobre
De silêncio.
Nisso reside 
Todo absurdo
Do simples acontecer do tempo. 
A vida é o caminho da morte.

domingo, 24 de novembro de 2019

TEMPO E MUSICALIDADE


A música que agora me encanta,
Antecedeu minha existência. 
Depois de mim,
Há de embalar outros ouvidos,
Enfeitar futuros onde serei silêncio. 

A música permanentemente presente,
Entretanto,
Será sempre outra
Para cada ouvinte,
Para cada tempo que embala, 
Em sua insistência
contra a  eternidade.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

QUANDO A VIDA APODRECE

Há  sempre qualquer coisa apodrecendo dentro de nós. 
Suportamos a morte todos os dias,
Até  o momento em que a morte
Já não suporta nossa própria vida.
Mas isso é  um detalhe insignificante da realidade.


VIVER É MORRER

O tempo é como uma doença do corpo. 
Uma doença sem cura,
Cujo sintoma é a vida.

A preguiça e o sono
Agravam esta  patologia
Que com o passar dos anos
Impõe ao corpo
Cada vez mais concretamente
A ausência do mundo.

Morrer é um exercício cotidiano
Que se confunde com a vida.


A NOITE UNIVERSAL

Sei a noite que arde,
Que inquieta,
Antecipando a morte.

Sei a escuridão primitiva,
O caos e o vazio
Que tudo preenche
E permite ouvir a natureza gritar.

Sei o pânico de existir,
O medo do futuro,
E o definitivo silêncio 
Que reduz tudo a um inacabamento existencial.

Sei a confusão primitiva
De uma grande noite universal
Que habita todos os tempos
Da finitude do humano.



sábado, 16 de novembro de 2019

A VIDA QUE NÃO FOI

A vida tem estado ausente da minha existência.
Tenho habitado um cemitério de vivos,
Entre obrigações  e rotinas vazias.

Abrigo silêncios e abismos,
Ausências e inconstâncias. 
Sou na vontade de ser
A impossibilidade de mim mesmo.
Sou quase um aborto vivo
Em um mundo morto.


terça-feira, 12 de novembro de 2019

PARTIDA


A partida nunca tem volta.
Em cada nova visita
Há sempre outro lugar
para o mesmo destino.
É sempre outro momento
e depois apenas o vazio.
Viver é um  multiplicar de ausências.
Ou, talvez, nem isso...


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

VELHICE


A que distância estou hoje
de quem fui
nos dias em que o tempo
sorria minha juventude
e tudo me parecia possível?

A intensidade do meu corpo
não carecia de alma
na plenitude de desejos e caprichos
que decoravam o infinito.

Agora,
meu próprio eu é memória
diante de um mundo
que não reconheço,
que não tem alma.
Tudo em mim se perde em passado.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

BIOGRAFIAS

E tudo se resume nisso:
Depois que a criança 
Agoniza e morre
Dentro da gente,
Apodrecemos como adultos
Até que a morte nos enterra
Velhos e desfigurados. 
Ninguém,
absolutamente ninguém,
Sobrevive a própria infância. 

A FORMIGUINHA



Ninguém presta atenção na formiguinha que atravessa a parede como quem explora um novo continente. Mas, ironicamente, somos todos como aquela  formiguinha.  O drama da nossa existência é também uma absoluta nulidade na microfísica de nossa duvidosa realidade

A  humanidade inventa-se importante quando toda a sua história não passa de um grande nada.



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A BANALIDADE DA MORTE

Até  as estrelas morrem.
No universo
A morte é  um espetáculo banal
E vazio de significado.

Vida e morte definem a ordem do caos,
A dança  do ser e do não  ser.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

SOBRE A BANALIDADE DA EXISTÊNCIA

A ilusão  de sentido  que inutilmente nossa consciência coletiva  tenta impor a vida,  impregnando-a de valor, torna a morte insuportável. 

Existimos para o nada. Tudo que realizamos é  nada.  Nenhuma virtude define a existência. Morrer é  um fato banal.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

DESAPARECIMENTO


Não sei se é o tempo que passa
ou se simplesmente sou eu
que me perco de mim mesmo
no ato de quase ser
este corpo,
este pensamento,
enterrado na paisagem
que nunca é a mesma.
só sei que tudo realiza
um desaparecimento.


sábado, 2 de novembro de 2019

A MORTE COMO META

Uma boa morte
É tudo o que esperamos
Como resultado
De uma vida inteira.
Mas poucos são  dignos
De ima grande morte 
Por não alcançar 
As últimas consequências
De sua própria existência.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

MEMÓRIA DO ESQUECIMENTO


Quantas histórias escritas na casa de quintal
foram perdidas,
apagadas pelo tempo,
e enterradas com seus mortos?

Quantos silêncios pesam naquele endereço?

A vida segue ingrata.
Descarta o passado
buscando sempre a novidade do agora.

O esquecimento é a matéria prima do presente.
Pouco importa nossas lembranças...