Nunca mais a vida será intensa.
Pois a vida acontecia em você.
Você era imensa…
agora, mora em mim
apenas sua ausência
arruinando lentamente
o que resta da minha existência.
Nunca mais a vida será intensa.
Pois a vida acontecia em você.
Você era imensa…
agora, mora em mim
apenas sua ausência
arruinando lentamente
o que resta da minha existência.
Esta estranha soma de coisas que fazem de mim um corpo sustenta a ilusão do tempo dentro do espaço, inventa a vida como um acontecimento sempre passado, sempre ausente.
A soma das minhas partes subtrai minha existência.
Meu corpo é minha sorte,
minha morte.
Não levo a vida a sério.
Nem mesmo a tomo como um valor.
Por que o faria se todos os afetos,
ambições e conquistas
são esquecidas um dia
em algum canto de cemitério?
Por mais um dia
respiro o ar impuro do mundo
e piso, com má vontade,
o chão sujo
da antiga cidade.
Por mais um dia
choram em mim memórias
de rostos perdidos.
Tudo é exílio e absurdo.
Por mais um dia
espero a noite e a morte....
Não há resposta.
Se quer me lembro
da questão formulada.
Odeio tantos questionamentos sem sentido.
A vida não é uma equação matemática.
Não há resposta.
O futuro é a morte….
“Talvez o sofrimento não tenha justificativa alguma, assim como a existência, em geral. A existência deveria existir? Há alguma razão no fato de existir? Ou a existência não teria outra razão senão uma imanente? A existência existe apenas como existência? O ser é apenas ser? Por que não admitirmos um triunfo final do não ser, por que não admitirmos que a existência se encaminha para o Nada e o ser para o não ser? Não seria o não ser a única realidade absoluta? Eis um paradoxo à altura do paradoxo deste mundo.” (E. M. Cioran)
Entre ser e não ser me faço vivente, reticente, incerto, impertinente. Toda certeza é que venho do nada e me desfaço no nada a cada segundo de afirmação da vida como ilusão de um corpo condenado ao não ser.
No fundo, a vida é questão de não ser dentro da natureza ilegível de um acontecer sem sentido dentro da ilusão da consciência das coisas.
O fim de um organismo vivo
não afeta a vida.
Muito menos define a morte.
É apenas uma descontinuidade banal
No ciclo da natureza.
Por outro lado,
não há alma, nem espirito,
nenhuma pós vida pode ser provada.
Tudo que sabemos é o fim do organismo vivo,
que não afeta a vida
e muito menos define a morte.
Uma hora tudo que sou
será passado,
ponto morto no tempo,
Insignificância e esquecimento...
E a vida vai continuar sendo,
acontecendo como antes do meu nascimento.
Finalmente ficarei livre da consciência,
do ser e da sobrevivência.
Serei nada,
serei tudo.
Estará finalmente desfeito
o grande erro da minha existência.
Como é falsa a ideia de eternidade!
Uma vida inteira cabe na brevidade de um único dia
do tempo dos vivos
quando se faz ausência,
quase esquecimento
no continuar banal da existência
Onde o tempo não tem substância.
Tudo possui um lado sombrio. O lado sombrio da morte é a vida. Uma vez vivos (seja lá o que isso realmente seja), padecemos no grande teatro da condição humana, ficamos a mercê de todas as mazelas da sobrevivência, de todas as necessidades e carências biológicas, individuais e coletivas, definhando no tempo, até o colapso do corpo como vitória definitiva da vida da espécie sobre à existência precária e medíocre de cada um de nós na demanda de nossa sobrevivência.
Nascer é estar condenado a vida e cada pensamento, emoção ou condição ´psicológica gerada por tal estado, no fundo, não tem a mínima importância diante da natureza ou do universo. Tudo que somos nós é esquecido no ciclo quase infinito da espécie, que sempre segue na iminência de qualquer catástrofe, enquanto promove em sua generosa insanidade, a destruição da Terra.