quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ETERNO LUTO

 

Nunca mais a vida será intensa.

Pois a vida acontecia em você.

Você era imensa…

agora, mora em mim

apenas sua ausência

arruinando lentamente

o que resta da minha existência.

O NÃO SER DO CORPO

 

Esta estranha soma de coisas que fazem de mim um corpo sustenta a ilusão do tempo dentro do espaço, inventa a vida como um acontecimento sempre passado, sempre ausente.

A soma das minhas partes subtrai minha existência.

Meu corpo é minha sorte,

minha morte.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

CANTO DE CEMITÉRIO

 


Não levo a vida a sério.

Nem mesmo a tomo como um valor.

Por que o faria se todos os afetos,

ambições e conquistas

são esquecidas um dia

em algum canto de cemitério?

POR MAIS UM DIA...

 


Por mais um dia

respiro o ar impuro do mundo

e piso, com má vontade,

o chão sujo

da antiga cidade.


Por mais um dia

choram em mim memórias

de rostos perdidos.

Tudo é exílio e absurdo.


Por mais um dia

espero a noite e a morte.... 

sábado, 23 de janeiro de 2021

DEFINIÇÃO DE PAZ CONTRA A FELICIDADE

Um dia serei livre do mundo,
Dos outros e do eu.
Retornarei ao nada
De antes do nascimento.
Nenhum ideal ilusório
De felicidade
Substitui a paz da morte.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

NÃO HÁ RESPOSTA

 

Não há resposta.

Se quer me lembro

da questão formulada.

Odeio tantos questionamentos sem sentido.

A vida não é uma equação matemática.

Não há resposta.

O futuro é a morte….


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

CONTRA EXISTÊNCIA

Desde sempre estive entre os mortos.
Meu existir não diz a vida,
Mas minha ilusão de presença
E a assignificancia de ser.
Tudo em mim é o simulacro
De um desejo sem objeto
Ou mundo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

SOBRE SER E NÃO SER

 

Talvez o sofrimento não tenha justificativa alguma, assim como a existência, em geral. A existência deveria existir? Há alguma razão no fato de existir? Ou a existência não teria outra razão senão uma imanente? A existência existe apenas como existência? O ser é apenas ser? Por que não admitirmos um triunfo final do não ser, por que não admitirmos que a existência se encaminha para o Nada e o ser para o não ser? Não seria o não ser a única realidade absoluta? Eis um paradoxo à altura do paradoxo deste mundo.” (E. M. Cioran)


Entre ser e não ser me faço vivente, reticente, incerto, impertinente. Toda certeza é que venho do nada e me desfaço no nada a cada segundo de afirmação da vida como ilusão de um corpo condenado ao não ser.

No fundo, a vida é questão de não ser dentro da natureza ilegível de um acontecer sem sentido dentro da ilusão da consciência das coisas.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O FIM DE UM ORGANISMO VIVO

 


O fim de um organismo vivo

não afeta a vida.

Muito menos define a morte.

É apenas uma descontinuidade  banal

No ciclo da natureza.


Por outro lado,

não há alma, nem espirito,

nenhuma pós vida pode ser provada.


Tudo que sabemos é o fim do organismo vivo,

que não afeta a vida

e muito menos define a morte.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

REDENÇÃO

 

Uma hora tudo que sou

será passado,

ponto morto no tempo,

Insignificância e esquecimento...

E a vida vai continuar sendo,

acontecendo como antes do meu nascimento.

Finalmente ficarei livre da consciência,

do ser e da sobrevivência.

Serei nada,

serei tudo.

Estará finalmente desfeito

o grande erro da minha existência.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A MORTE COMO POTÊNCIA

A morte é um acontecimento absoluto.
que se faz contra o tempo e o espaço,
Contra toda memória e significado.
É o corpo livre do mundo se desfazendo na terra.

A morte é, simplesmente, a natureza  em potência cega.

sábado, 9 de janeiro de 2021

CORPO MORTO

O mundo segue
Enquanto um corpo apodrece.
A morte, indiferente a vida,
Da sempre o tom de toda existência.
Viver é mera miragem
na ilusão de cada existência.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O SOBREVIVENTE II

Saudade é morrer aos poucos através da vivência da ausência dos outros. É perceber os limites da própria sobrevivência através da lembrança dos mortos na impossibilidade de calar a agonia de experiência do adeus.


A FALÁCIA DA ETERNIDADE

 

Como é falsa a ideia de eternidade!

Uma vida inteira cabe na brevidade de um único dia

do tempo dos vivos

quando se faz ausência,

quase esquecimento

no continuar banal da existência

Onde o tempo não tem substância.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

O LADO SOMBRIO DA MORTE...

 


Tudo possui um lado sombrio. O lado sombrio da morte é a vida. Uma vez vivos (seja lá o que isso realmente seja), padecemos no grande teatro da condição humana, ficamos a mercê de todas as mazelas da sobrevivência, de todas as necessidades e carências biológicas, individuais e coletivas, definhando no tempo, até o colapso do corpo como vitória definitiva da vida da espécie sobre à existência precária e medíocre de cada um de nós na demanda de nossa sobrevivência.

Nascer é estar condenado a vida e cada pensamento, emoção ou condição ´psicológica gerada por tal estado, no fundo, não tem a mínima importância diante da natureza ou do universo. Tudo que somos nós  é esquecido no ciclo quase infinito da espécie, que sempre segue na iminência de qualquer catástrofe, enquanto promove em sua generosa insanidade, a destruição da Terra.


domingo, 3 de janeiro de 2021

O SOBREVIVENTE

O tema do presente monólogo é a vida que já não é mais e contamina todo dizer possível do momento de agora como um pós existir. O eu que narra é a sobra de uma vida comum desfeita pela morte dos protagonistas. Ele é o sobrevivente entregue a sua pós vida antes que a morte consuma a história de sua existência. Mas ele já não existe. Vive para preservar a memória dos que se foram, dos tempos em que os outros estavam vivos. Pois a história da sua existência, não lhe pertence. Ele agora é o velho de sua própria infância. Em sua solidão na há futuros, não há crianças, para continuar a história de uma vida comum interrompida e cujos vestígios são cada vez mais ilegíveis.
O sobrevivente é aquele para o qual o mundo tornou-se indiferente sob o signo das ausências.
A casa vazia dos outros antecipa minha cova, minha impossibilidade de ser plenamente quem sou onde os outros  já não existem .