sábado, 26 de fevereiro de 2022

CONTRA UTOPIA NIILISTA

É pelo nada que nascemos, vivemos,
morremos,
e lutamos contra todas as tragédias
e misérias humanas;
que desprezamos todos os valores, costumes,
verdades e autoridades
de qualquer fé totalitária e insana.

Sabemos que no final,
tudo será nada
na paz perpétua
de um absoluto silêncio
escrito no avesso do absurdo
que nos dilascera a alma.

Não precisamos de esperanças...

TEMPO TRISTE

Os mortos persistem
no não tempo dos vivos.
A terra é tudo que existe
na perenidade dos corpos
que descobrem o mar.
Só há liberdade nas madrugadas tristes,
nas infâncias despedaçadas, desesperadas,
que assombram nossos futuros virgens.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

UMA MORTE JUSTA

Não quero morrer na guerra,
de peste,
ou como protagonista anônimo de alguma tragédia absurda.

Quero morrer de tempo,
tristeza, e de cansaço,
Porque sou niilista e filho da terra.

Quero morrer porque a morte
é bela e liberta,
e não porque fui vítima da brutalidade de  nossa maldita humanidade.

NÃO ME MATEM NA GUERRA

Espero sobreviver tempo suficiente ao mundo para sofrer serenamente a arte de me desfazer.

Que a morte me seja serena, natural processo de decomposição da matéria,
 e não violênta expressão da brutalidade do mundo.

Que eu não morra atônico em qualquer canto de um campo de guerra.
Há muitas guerras ocultas
em nosso triste cotidiano.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

O DIA QUE NÃO FOI

Não me lembro do dia em que nasci.
Sei que não comecei a existir
no dia em que nasci
e, tantos anos depois,
ainda estou esperando o dia
de começar a viver
antes de morrer.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

APRENDER A MORRER

Aos poucos,
aprendi a morrer
com a morte dos outros
sobrevivendo a mim mesmo.

Desisti de ter esperanças,
colecionei silêncios,
até alcançar o consolo
de uma indiferença radical.

DA PALAVRA AO SILÊNCIO

Cada palavra é um passo para o silêncio,
a promessa, sempre adiada,
de um ponto final,
do inevitável triunfo do fundo branco da folha
sobre a ferida da minha escrita,
sobre minha busca infinita  pelo sentido último das coisas,
pelo significado impossível e definitivo da vida.

Cada palavra é sopro,
alma desfeita,
de uma verdade quebrada
pela rigidez da combinação de letras abstratas e apavoradas
esoalhadas pelo corpo da folha.





sábado, 19 de fevereiro de 2022

AFORISMA NATURAL



A morte é a mais radical expressão de natureza contra nossa ilusão de humanidade.
tudo que é vivo e  humano me é estranho e provisório na ilusão do tempo e do espaço.


sábado, 12 de fevereiro de 2022

OS DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO

A percepção do evelhecimento, das mudanças que o tempo impõe a experiência de nosso próprio corpo, despertam  um misto de perplexidade e resignação. Não é somente nosso status social que muda com a velhice. Muda também nossa senaibilidade, nosso modo de envolvimento com a vida. Envelhecer nos faz naturalmente niilistas, um pouco a parte do mundo, e mais voltados para nossa finitude. Afinal, o declínio de nossas faculdades e percepção, nos leva cada vez mais a condição de um ponto cego na paisagem humana. Tal processo de despersonalização nos aproxima dos instintos primordias, de um modo de vida mais natural e despido dos rigores da civilização.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O DESAPARECIMENTO DE SI

Desaparecer de si,
apagar-se em seus
próprios vestigios,
calar-se de mundo,
transpor o limite do fim.
Eis o único acontecimento íntimo
de qualquer biografia que sucumbe ao próprio esquecimento.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

CORPO & PEDRA

Qualquer momento
abriga o silêncio,
a  ausência de mundo,
palavra, e argumento.

Qualquer momento vazio,
onde expectativas,
necessidades, e vontades,
desaparecem na paisagem,
e o corpo se deixa inerte,
entre o sonho e a vigilia,
desfeito em outra realidade.

A paz é possivel
em algum estado intermediario
entre o corpo e a pedra.





quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

MORTOS VIVOS

Quem vive para sobreviver não passa de um morto vivo,
de um corpo perdido no mundo,
doente de natureza,
vazio de si mesmo.
Somos uma sociedade
de mortos vivos.