segunda-feira, 28 de novembro de 2022

CATÁSTROFE

Nada no mundo me diz respeito.
Estou condenado a miséria da minha existência,
ao meu silêncio,
e inabalável indiferença
diante da experiência do Ser e dos outros.


Entre finitude e imanência
sou apenas um corpo que come,
que se consome,
e que, em algum amanhã,
Já apodrece em segredo.

Enquanto isso,
o mundo segue em desastre
e contemplo a impotência dos meus atos,
a inutilidade de tudo que hoje é possível,
diante da muda catástrofe que define o universo
e este triste fim de tarde.

.

sábado, 26 de novembro de 2022

O FIM

O fim é frio,
urgente,
definitivo,
e quase irresistível.

É um fogo que apaga,
quase em segredo.
O fim é o tudo e o nada.

É silêncio,
mas deixa um registro,
quase ilegível.




terça-feira, 22 de novembro de 2022

TEMPO QUE MORRE

Um tempo definha comigo,
desaparece nos meus caminhos,
Apagando-se com os mortos
que me sustentam a memória.

É tarde.
É sempre tarde.
Mas sou contemporâneo do antigamente,
sabendo que nada será para sempre 


terça-feira, 15 de novembro de 2022

CORPO A DERIVA

Não passo de um corpo a deriva no tempo,
Desaparecendo nos atos cotidianos,
se tornando silêncio,
enquanto a vida se conforma ao mundo,
aos discursos,  certezas, delírios, e promessas,
que se inventam verdades,
onde nada perdura ou faz sentido.

Sou apenas um corpo a deriva
que ignora as ilusões da vida,
o equívoco da condição humana
na afirmação da Terra contra o mundo.





sábado, 12 de novembro de 2022

QUASE ADEUS



Pode ser tarde demais
para recomeçar,
sonhar e esperar.

Talvez me acorde
para o nada
alguma morte
antes do dia acabar.

Mas não direi adeus,
pois é sempre antes do fim.
Todo dia é despedida.


É sempre tarde demais
para despedidas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

SER NINGUÉM ATRAVÉS DO NADA

Nada espero da vida,
da morte, 
ou desta inútil vontade de eternidade.

Nada em mim é para sempre.
Pois sou despido de alma.

Sei que o tempo é inimigo da fé e da vaidade.
Amigo da liberdade de perder-se de si,
de sumir do mundo,
na arte de inventar-se nada.

Existo para e através de Gaia
na concretude de um corpo
que me faz ninguém,
que me transforma em nada.





sábado, 5 de novembro de 2022

O TEMPO DAS ÁRVORES

Preciso aprender a roubar
o tempo das árvores,
pois o tempo do corpo é curto,
quase nada,
e não vale uma vida humana.

A humanidade, entretanto,
 não existe. 
Há apenas coisas,
entre e dentro de coisas,
preenchendo a paisagem
onde governam as árvores.

Nenhuma vida é humana.


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

EPITÁFIO

Vivi à deriva,
quase afogado nos dias,
a espera de qualquer acontecimento
que justificasse a vida.

Morri abraçado a melancolias,
atravessado  pelo meu tempo,
desaparecido nos meus passados,
e sufocado pelos meus atos.

A vida foi para mim 
a silenciosa intimidade
de uma agonia.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

MEMÓRIA E SONHO

A memória é a parte ativa da morte
que cresce dentro dos vivos,
como um passado que  devora futuros.


A memória é mais esquecimento
do que lembrança.
Ela é uma forma de imaginação
Livre de toda necessidade.

Quem lembra ou esquece
habita um sonho vivido
que nunca se limita
aos limites da consciência.