terça-feira, 31 de janeiro de 2023

UM POUCO DE DESESPERO

 Dentro de nós
viaja clandestinamente
algum tipo de desespero.

Com o passar dos anos
 ele se torna
parte de tudo aquilo que somos
e faz desaparecer, aos poucos,  quem somos.

Dentro de nós
morre sempre alguma esperança
enquanto a vida
segue incerta
e tudo se resume, cada vez mais, 
a saudades dos mortos e da infância.


domingo, 29 de janeiro de 2023

MORTE E ANTI HUMANISMO

Um dia estaremos desaparecidos
no mesmo silêncio,
igualmente desfeitos e esquecidos
para toda eternidade possível do mundo.

Superaremos inteiramente a existência,
toda miséria de nossa incerta condição humana,
esta insana mistura de tempo e matéria.





sábado, 28 de janeiro de 2023

SOBRE A REALIDADE QUE NOS ESCAPA

O que há de realidade na realização deste instante,
há de desaparecer para sempre,
escapar entre os dedos como um sonho bom.

Cada um de nós desaparecerá com a mesma naturalidade com que se desfaz este instante.

Então não se importe, não se aborreça.
Tudo é perenidade e incerteza.
A realidade é feita de mortes.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A MORTE COMO SILÊNCIO

Em um dia qualquer
tudo termina sem cerimônia.
A gente morre,
o mundo segue,
e ninguém mais fala sobre isso.

Morrer é um silêncio absoluto.
que transcende toda forma de ausência,
qualquer possibilidade de lembrança.

Morrer é escapar a linguagem,
é perder a alma.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

BEM VIVER

Vive bem quem sabe dançar a morte.
Quem morre todo dia
porque nunca acabou de nascer
e, por isso,
é incapaz de ser.

domingo, 22 de janeiro de 2023

E CASO VOCÊ MORRESSE HOJE?

Caso você morresse hoje,
o mundo seguiria de mal a pior
tal como se você  fosse ainda vivo.

Seus vizinhos não notariam sua ausência 
mas sua conta bancária seria broqueada
e seus pertences mais pessoais acabariam no lixo
pelas mãos de algum parente.

Como você continua vivo, 
nada disso aconteceu.

Tudo segue  na mais costumeira normalidade
e seu CPF continua ativo,
mesmo que ninguém se importe com isso.




sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

O TEMPO E A MORTE

Nada me importa agora.
A hora é morta.
Tudo em mim é passado,
tudo que fui,
tudo que foi,
nunca mais será.

Mas a vida segue.
As coisas mudam.
O tempo é outro sem nós.
Ele não envelhece,
não morre,
ao contrário da gente.

O tempo nunca será nosso,
nunca seremos para sempre.

A vida do tempo 
sempre será nossa morte,
nosso silêncio.

A existência,
 como o tempo,
Não tem rosto,
nem passado.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

MORRER

Morrer é não mais querer,
 Sentir, pensar ou amar.

É não mais agir, fazer,
acontecer ou ignorar.


Morrer é não mais se importar,
nunca mais acontecer.
É livrar o mundo de si mesmo.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

NA IMINÊNCIA DO FIM

Há sempre uma sombra de ponto final
em toda parte do meu caminho,
qualquer sinal de despedida,
Interrupção,
ou simples certeza
de uma não conclusão.

O fim, 
como também o início,
é uma experiência que nos escapa
e discretamente nos desafia.




CADÁVER

O corpo que cala, 
 Que morre, 
Que descartamos solenemente 
Como objeto,
 É apenas carne. 
Nada além disso.

 Quando vivo, entretanto, 
 nunca foi outra coisa. 

Como organismo,
 sempre foi carne;
Apenas carne.
 E, como tal,
agora apodrece.

Nenhuma memória importa
na ausência do corpo
que em si mesmo 
para sempre desaparece.



domingo, 15 de janeiro de 2023

VIDA DANIFICADA

Todos os dias acordar
para mesma vida danificada,
Precária e absurda.
Sobreviver a uma rotina de limites,
angústias e necessidades.
Acreditar, sem motivo,
que tudo vale a pena,
e sufocar, aos poucos,
com o grito de revolta
que nos fere a garganta
e denuncia em segredo
o quando o mundo
não funciona direito.

O QUE É A MORTE?

A morte não é o avesso do nascimento.
O corpo que morre não é o mesmo que nasceu
e a vida é apenas um sonho da matéria
se repetindo diferente
através consciência de cada um de nós.

A morte é o colapsar da consciência,
o fim do sonho da matéria,
enfim, reduzida a sua própria inércia
em um mundo sem alma
enterrado no tédio do seu próprio caos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

O MAIS PROFUNDO DOS SONOS

Tenho vontade de dormir.
Dormir tão profundamente
que meu corpo desapareça.

Dormir e esquecer,
desfalecer,
não saber mais de mim,
dos outros e do mundo.

Afinal, tudo finda
e nem mesmo as lembranças
são eternas.

Não faz diferença viver ou morrer.
Melhor dormir
até que se apague de vez
o dia do meu nascimento.

Dormir para escapar da lei,
da ordem e das vontades que tanto me 
assujeitam
até que eu me surpreenda nada.

fotografia de Philiph Halsman

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O ABSOLUTO SILÊNCIO DA MORTE

Vejo a morte como um silêncio em estado bruto ou absoluto.
Diante dela é insuficiente falar sobre ausência,
pois ela é algo além da falta.

A morte está acima dos deuses, do cosmos e da natureza.
Ela não cabe nem mesmo no avesso do verso.

Nada que existe pode alcança-la,
mas tudo por ela é determinado.

A morte é a revelação da vida como um banal e pessoal fracasso existencial.



terça-feira, 10 de janeiro de 2023

FIM DE JOGO

Seu futuro  durará apenas algumas horas
e todo o seu passado, logo, não fará qualquer diferença.
Não nutra esperanças.
Já é tarde demais.
Não há nada a fazer.
Apenas beba mais um pouco antes de morrer.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O ATEMPORAL DE UMA VIDA APAGADA

Tudo em mim é gasto, 
Passado e ultrapassado.

 Sou composto por arcaísmos e nostalgias. Não passo de uma sucata de gente 
Perdida no tempo e no espaço. 

 Digo adeus todo dia,
esperando ansiosamente 
pela hora da minha fatal despedida. 

 A banalidade de um final sereno
 é a grande realização de uma vida inteira. Afinal, não existe progresso 
nem sucesso 
no acontecimento
 de uma vida humana. 

 Não tenho tempo e não deixo vestígios. 
Estou preso a minha bolha pessoal 
de esquecimento.

OS VIVOS E A MORTE

Dizem que a morte é um sono sem fim,
sem sonho, sem corpo ou realidade. 
Pois eu acho que a morte existe apenas para os vivos, na medida que eles não sabem que já estão mortos e seguem iludidos por uma breve existência sem sentido.


DESAJUSTADO

Aprendi a suportar ausências,
sobreviver a perdas,
subtrações materiais,
e a incerteza de qualquer amanhã.

Mas confesso que não suporto
este tédio,
está falta de alma,
corrosiva inquietação 
ou urgência de destruição,
que me faz avesso
a prisão das rotinas
e a ditadura da significação 
que nos é imposta pela deusa razão.

domingo, 1 de janeiro de 2023

O TEMPO E A VIDA

O futuro dura todo tempo do mundo
contra um presente sempre incerto
e um passado que nos consome a existência
através dos dias.

Por isso pouco me importa o dia de hoje,
o amanhã sonhado
ou o que ontem se perdeu.

O tempo reduz tudo a nada.
Mas a vida não cabe no tempo.
Pois ela é menos que nada.