domingo, 23 de abril de 2023

O SEGREDO DO TEMPO

O tempo que passa,
o tempo que mata,
e o tempo que morre,
é o mesmo tempo
em que a vida recomeça
todos os dias 
como se nada fosse perdido
ou destruído,
pelo tempo que tudo devora.

Quantos tempos, afinal,
existem dentro do tempo?


sábado, 22 de abril de 2023

O INDIVÍDUO E A VIDA

A breve duração de uma vida é insuficiente para plena  inserção do indivíduo no devir do mundo.
Cada um de nós jamais realizará a espécie, o universal, pois a finitude e o inconclusivo é o que nos define como potência, já que somos mortais.
Somos movidos pela sobrevivência, pelo sensível e pela imediata percepção da existência.
Somos provisórios, como são provisórias nossas certezas e verdades.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

A GRANDE NOITE

A grande noite desabou sobre nós
antes do meio dia.
Tudo virou silêncio,
após  uma breve agonia.

Desfeita a realidade dos atos e ditos,
apagou-se a cidade,
imperou o vazio e o silêncio,
em toda a paisagem que os olhos cegos  comiam.

Anoitecendo no sem tempo da morte 
deixamos de ser e não ser
em um absoluto descanso.

A grande noite se fez absoluta
e ninguém mais saberá de nós
Pelos restos dos dias da humanidade.





segunda-feira, 17 de abril de 2023

ANTIGAMENTE

Ainda estou vivo,
mas existo inteiramente em meus antigamentes,
aquém do hoje e do amanhã,
constantemente em busca do sempre .

Toda a minha história já foi contada,
vivida e esquecida.
Meus parentes e amigos estão todos mortos.

Ainda, assim, estou vivo,
é verdade,
mas quase não existo,
nesta atualidade a qual não pertenço.

Aconteço  anoitecido em meus passados,
perdido nos labirintos dos meus íntimos onteontens
como se fosse um morto vivo.


sábado, 15 de abril de 2023

EPÍLOGO

Hoje há mais vida no meu passado
do que em qualquer futuro possível,
pois todos que me amavam estão mortos
e levaram consigo minhas pequenas conquistas, certezas e alegrias.

Hoje meu mundo é um deserto
que cresce com o passar dos anos
devorando todos os meus horizontes.
Sigo inútil e enterrado em rotinas
 como um fósforo frio.



sexta-feira, 14 de abril de 2023

VIVER NIILISTA

Viver intensamente
seu próprio tempo
é estar em permanente
estado de perplexidade e luto.
É saber a vida 
através do efêmero,
do imanente e do inútil.

É não acreditar em nada,
duvidar de tudo,
desinventando futuros .


domingo, 9 de abril de 2023

DEPOIS DA MINHA MORTE

Depois da minha morte
não haverá nos lugares
que frequentei
nenhum vestígio da minha existência.

Minha casa será de outros.
A rua onde morei
nunca terá o meu nome.

Não deixarei filho algum
para perpétuar  minha memória
ou do meu  tão comum sobre nome.

Depois da minha morte
ninguém saberá de mim.
Não lembrarão meus fracassos,
minha má vontade com o mundo
ou meu permanente estado
 de indignação e perplexidade
diante da época e do tipo de sociedade 
na qual modestamente existi
a contra gosto.

Fora isso,
nunca tive pretensão alguma.
Nunca me iludi com a vida
e sei que nada há para se esperar da morte.



sábado, 8 de abril de 2023

O FIM DE UMA VIDA

E a vida será só isso.
Nada que faça sentido.
Nenhuma conclusão.
Apenas um final repentino...
Depois esquecimento.
Nada de mais.
Nada de menos.
Só isso.
Sem legado ou balanço final.

sábado, 1 de abril de 2023

A GRANDE NOITE

A grande noite sem dia
que veste o universo
é fria e silenciosa.
Nela nada que é importa
e o tempo não tem substância.

A grande noite é a exterioridade absoluta,
a escuridão que nos abriga
nivelando vida e morte.
Dentro dela não há identidade,
singularidades.

Ela é o espaço elevado a condição de enigma
e convertido a um labirinto infinito onde tudo se perde em espanto.