terça-feira, 27 de junho de 2023

RÁPIDO DEMAIS

O nada devora a vida antes que ela  se faça inteiramente visível ao pensar.
Por isso
a fala não distingue mais
 a vida do nada.
Não há diferença.
Pois tudo passa rápido demais.
Os anos passam rápido demais.
Tudo acaba sem deixar marcas ou
vínculos.


 Não temos razão ou tempo para saudades,
melancolias e lutos.
É sempre rápido demais,
tarde demais.
Nunca há momento.

O nada se alimenta da vida,
sem alarde e em silêncio,
em uma poça de eternidade.
Isso não é mais segredo.
Só é rápido demais.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

MORTE SEM ADEUS

Ninguém se lembrará
do meu último sonho,
da minha última refeição,
da minha última saudade,
ou da minha  angústia
 frente ao não sentido da vida.

Ninguém vai se lembrar do meu último instante,
do horror que me define o mais profundo do mundo.

Hoje morremos sem tempo para despedidas.
Já não há dignidade nos velórios
nem lembranças que perpetuem
o raso acontecimento  de uma vida inteira.






quinta-feira, 22 de junho de 2023

A IMPOTÊNCIA DOS CORPOS

Nossos corpos exitam
entre ser e não ser,
entre tentar e esquecer,
 ganhar ou perder.

Eles se perdem 
em encruzilhadas de dúvidas,
imobilizados por angústias,
 descrentes de suas próprias possibilidades.

O mundo, afinal,
 é muito maior que os corpos
que desafiam a paisagem selvagem 
e menor que o tempo
que devora tudo que existe.

Os corpos não podem vencer a realidade,
não sabem mais como ser
ou como se deve morrer.










terça-feira, 6 de junho de 2023

A PAZ E O NADA

Só há paz quando deixamos de existir.
Ela é a consequência de nossa ausência
e só acontece onde cessamos de ser,
onde nós identificamos com a não identidade de um "fora absoluto" onde nada mais é possível.
Em poucas palavras, a paz não existe.

SOBREVIVÊNCIA

Sobreviver ao tempo e ao mundo,
que diariamente nos consome,
é um desafio diário,
um eterno retorno do inverossímil
de um existir gregário
que afirma o inautêntico de uma impessoal e opaca rotina.
Tudo se resume a pragmatismo,
obediência e conformismo
as precárias rotinas da ordem dos dias possíveis.

Isso é o que hoje habituamos a chamar erroneamente de vida.



sábado, 3 de junho de 2023

NÃO ACREDITO

Não acredito
em nada disso
que nos mata
enquanto a vida
nos come a existência.

Eu não acredito
em nada que existe.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

ENTRE A PALAVRA E O SILÊNCIO

Sou apenas um intervalo incerto
 entre a palavra e o silêncio
 onde o corpo se movimenta
do lado de fora do verbo.

 Sou apenas esta frágil ilusão de consciência e ação 
que reduz o mundo a sua própria aparência e imaginação.

Sou apenas a quase certeza de um eu
indeciso
entre o acaso, a sorte e a ilusão,
impreciso na constante expectativa de seu próprio e inevitável fim.

Sou apenas qualquer coisa na medida em que nada sou.