quarta-feira, 26 de julho de 2023

A MORTE É SILÊNCIO

A morte é o passado,
o futuro,
o presente,
a festa, o luto e o silêncio.

A morte são os outros,
 a ausência,
o fim sem despedida
e, como sempre, o silêncio.

A morte é sempre o silêncio
em seu estado bruto
devorando tudo,
crescendo dentro da gente,
reduzindo a vida ao absurdo
de um absoluto silêncio.


sábado, 22 de julho de 2023

PUTREFAÇÃO

Um corpo se desfazendo
em matéria morta
não é mais um corpo.
É apenas matéria morta.
Não é mais ninguém.
ou, simplesmente,
é apenas algo que não mais importa,
que não tem lugar entre nós.
Alguma coisa a ser ocultada,
destruída e esquecida.
Um corpo, depois de morto,
não é mais um corpo.
É qualquer coisa sem nome
ou esperança.


domingo, 16 de julho de 2023

SOBRE A ILUSÃO EXISTÊNCIA

Minha existência
é um absurdo,
uma incerteza,
que se resume 
ao provisório arranjo
de um corpo vivo.

Entre a ilusão da consciência
e a vontade que anima a matéria 
o corpo persiste até seu limite.

Depois jaz inerte 
como qualquer coisa quebrada.
Apodrece e desaparece,
sem deixar vestígio.
Pois sua  existência é  nada.



sábado, 15 de julho de 2023

GEO EXISTÊNCIALISMO

Qualquer parte do mundo
pode dizer em mim o universo.
Pois todos os lugares e cantos
são expressão de um único abismo,
vasto e incompreensível,
a desfazer meu corpo 
em um silêncio infinito.

Qualquer ponto do mundo
é um túmulo aberto
como o frio e silêncioso vácuo
que nos define o universo.

Qualquer parte do mundo dentro de mim é silêncio.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

SOBRE NOSSA PUERIL IRRELEVÂNCIA ONTOLÓGICA



Morrer não significa apenas deixar de existir, desaparecer para sempre. Morrer é acima de tudo ser superado pela vida,  desfazer-se em irrelevância, insignificância.
A certeza da morte nos faz pensar o quanto é pueril, do ponto de vista da natureza e do corpo, toda  fenomenologia de um ego ou de uma consciência diferenciada, singularizada, articulada pela memória de um fluxo de experiências, por um estável padrão de percepção e sensibilidades.
 Ser alguém é algo no fundo insólito e completamente absurdo. Mas naturalizados as sutis contradições que caracterizam o exercício ininterrupto, mas finito,  de uma vida consciente  de si e da sua precariedade. Levamos demasiadamente a sério nossa condição de viventes.


quinta-feira, 13 de julho de 2023

A CORAGEM DE MORRER

É preciso coragem para morrer
antes do corpo,
para desistir de si,
dos outros e do mundo
enquanto ainda se respira.


É preciso descobrir alegria
no abraço do nada,
do caos e da incerteza mais brutal
de todas as coisas e atos possíveis
na mais desesperada orgia dos sentidos.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

QUERO MORRER SEM ALARDE

Quero morrer sem aviso,
 serenamente,
 em qualquer noite de sono.
 Desaparecer sem alarde,
pura e simplesmente,
sem  sentimentos ou testamentos.
 
 Quero morrer, 
saber a liberdade da inconsciência absoluta,
nunca mais ser e sofrer,
enquanto o dia amanhece 
sem novidades para os sobreviventes.


quinta-feira, 6 de julho de 2023

A MORTE COMO PROCESSO VITAL

A vida é um processo de morte Simplesmente isso. 
No fundo não há vida.
 Existir é morte
 e a consciência 
não passa da ilusão de um corpo
 em permanente estado de degradação.

METAMORFOSES

Um dia fui um menino, 
outro uma pedra, 
uma mosca, 
depois pó 
e finalmente nada.

Sempre seremos nada
enquanto , através de nós,
a vida passa,
indiferente ao presente
e a agonia do agora e sempre.




quarta-feira, 5 de julho de 2023

A RADICALIDADE DA MORTE

Hoje, todos os meus destinos
amanheceram longe demais.

A distância me ensina a morte
como algo impreciso
 que nos rouba da gente,
que acrescenta ao luto um segredo sombrio
entre a saudade e a ausência.

Hoje, todo tempo do mundo
parece tarde demais.