segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ANTECIPAÇÕES DA MORTE

A morte concreta ganha diversas antecipações ao longo de uma biografia.
Estamos sempre acumulando mudanças e diluídas rupturas, nos deixando  para trás.
A vida de agora nunca é como era a cerca de alguns anos. Muitas coisas mudaram pelo simples devir das coisas sem que você se desse consciência do processo.
A economia destas mudanças e a consequente sucessão de cenários vitais  é uma questão crucial para qualquer codificação da vida cotidiana.
Arbitrariamente, as tomo aqui como antecipações da morte por  personificarem brandas rupturas que parecem nos conduzir a algum momento vital e significativo de nossa trajetória de vida. Há um significado específico para tal momento na peculiaridade da história pessoal  de cada indivíduo na experiência da perenidade de si mesmo.

O GRANDE SILÊNCIO




Não há escolha. Estamos condenados a seguir pelas gramáticas da  existência, inventando a vida, até o definitivo arrebatamento do grande silêncio.

Não faz diferença se nos definimos felizes ou infelizes com nossas experiências, afetos e definições. Enfrentamos o Grande Silêncio da mesma maneira.
De certa forma, ele é a origem de todos os discursos possíveis.  

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

BILHETE DE UM DESVAIRADO

Desescreveria, se pudesse, as linhas tortas da minha vida, para inventar-me em outras narrativas, onde sonhos e aventuras superassem a melancolia, o tedio dos dias e essa vontade rouca de ir além de tudo que me define hoje a existência.

Não falo, entretanto, de qualquer falácia de felicidade, de qualquer busca impossível por um bem estar pessoal que transcenda o mal estar do mundo atual. Falo apenas da vontade de que tudo fosse diferente, de viver outros dilemas, testar-me com outros problemas que não fossem aqueles dolorosamente ridículos que me impôs o infortúnio e o destino .

Sim, tenho febre de diferenças, vontade de mudanças. Mas não antecipo as mudanças que me fariam sorrir sem um travo de desconforto. Não sei que outros mundos possíveis me fariam outro ou que fatos me livrariam finalmente de mim mesmo. Admito não ter na língua se quer um pedaço desta resposta.
 
Por isso joguei-me as ruas hoje sem um pingo de propósitos mundanos. Decidi-me a cair fundo no cotidiano do mundo. Deixar-me levar pela embriaguez mais delirante depois de quebrar o juízo e obrigações pessoais.

Estou agora saindo... Saindo da vida como até agora conheci e vivi. Muito provavelmente, aqueles que me conhecem e frequentam diariamente, não mais terão noticias dos meus caminhos. Preservarei  meu destino para que ninguém tente, em patético gesto de piedade, salvar-me de mim mesmo.

Contentem-se todos, portanto, com este pequeno bilhete de adeus onde espalho em ordinário papel minhas ralas justificativas.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A CRIANÇA SEM MORTE



Para aquela criança a morte simplesmente não existia. Os mortos eram para ela pessoas que   viravam as costas as rotinas, a vida social e obrigações  de todo tipo para serem livres. Por isso não eram mais vistas.

A quem lhe questionasse sobre cadáveres e túmulos ela simplesmente respondia que tudo aquilo não passava de fingimento, uma encenação para que ninguém soubesse a verdade.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

MORTE E VIDA

A morte é definida por nossas ausências, por nossas carências e fragilidades. Por tudo aquilo que de algum modo desdiz nossa vontade, nossa capacidade de afirmar-se no mundo como subjetividade.
As representações da morte são também representações da vida, construções coletivas  que buscam dar conta do ilegível da existência, de suas sombras que nos perturbam cotidianamente.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SOBRE O EFÊMERO E A INTENSIDADE DAS COISAS

Poucos são capazes de suportar a intensidade das coisas e dos atos até o ponto de levar a si mesmo as últimas consequências, de apagar a morte e a sorte, superando duvidas, vendo  cada dia como se fosse o último sob o signo da urgência das coisas.
Este é  uma das melhores formas de conduzir a bom termo os  desafios da  de existência em seus labirintos cotidianos.
Afinal, tudo é efêmero ao ponto de na superficialidade de tudo buscarmos o mais que profundo da condição humana.