Desescreveria, se pudesse, as linhas tortas da minha vida, para inventar-me em outras narrativas, onde sonhos e aventuras superassem a melancolia, o tedio dos dias e essa vontade rouca de ir além de tudo que me define hoje a existência.
Não falo, entretanto, de qualquer falácia de felicidade, de qualquer busca impossível por um bem estar pessoal que transcenda o mal estar do mundo atual. Falo apenas da vontade de que tudo fosse diferente, de viver outros dilemas, testar-me com outros problemas que não fossem aqueles dolorosamente ridículos que me impôs o infortúnio e o destino .
Sim, tenho febre de diferenças, vontade de mudanças. Mas não antecipo as mudanças que me fariam sorrir sem um travo de desconforto. Não sei que outros mundos possíveis me fariam outro ou que fatos me livrariam finalmente de mim mesmo. Admito não ter na língua se quer um pedaço desta resposta.
Por isso joguei-me as ruas hoje sem um pingo de propósitos mundanos. Decidi-me a cair fundo no cotidiano do mundo. Deixar-me levar pela embriaguez mais delirante depois de quebrar o juízo e obrigações pessoais.
Estou agora saindo... Saindo da vida como até agora conheci e vivi. Muito provavelmente, aqueles que me conhecem e frequentam diariamente, não mais terão noticias dos meus caminhos. Preservarei meu destino para que ninguém tente, em patético gesto de piedade, salvar-me de mim mesmo.
Contentem-se todos, portanto, com este pequeno bilhete de adeus onde espalho em ordinário papel minhas ralas justificativas.
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