quarta-feira, 28 de maio de 2014

MUDANÇAS

Antigamente
eu tinha um sorriso
que hoje não consigo mais.
Vivia sonhos, vontades e futuros
que agora não percebo mais.
Chego a pensar
que não é o tempo
que passa,
mas a gente que dele se afasta
no corpo que somos
e que aos poucos
se desfaz.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

REFLEXÃO SOBRE A MORTE DE UMA CRIANÇA

A morte de um infante é um acontecimento  provocante a nossa imaginação social.

Afinal,  as nossas representações da infância não permitem uma consciência da morte capaz de abarcar a complexa problemática do fim derradeiro da existência do puer. Uma criança, do ponto de vista psicológico, ainda é um indivíduo em construção cuja simplicidade de vivências consideramos além do alcance da morte segundo nossa suposta ordem natural das coisas.

Para nós, a morte  prematura de um infante é contaminada pela ideia de inacabamento ou interrupção abrupta de uma  vida ainda apenas potencial.

O irônico de tal condicionamento cultural é que, em contrapartida, não existem “vidas acabadas”, que tenham cumprido algum projetado propósito subjetivo que lhes justificasse um ponto final.  

Não importa em que idade, a morte é sempre o cancelamento repentino do porvir de uma individualidade em permanente construção. Não importa o quanto já vivemos ou realizamos no acumular dos anos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

POST MORTEM

Daqui a duas gerações
Ninguém terá ouvido falar de mim.
Todos os meus amigos estarão mortos,
Todos os meus problemas resolvidos.
Ninguém  saberá o dia do meu aniversário.
Não terei um “eu”
Para reivindicar atenções.
Será como se nunca tivesse
Realmente existido...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

SOBRE A EVIDÊNCIA DA MORTE

"A menos que se tenha desejado e premeditado, não se pode imaginar a morte de alguém próximo. Não há imaginação da morte
Ela é uma evidência absoluta, e não podemos representar essa evidência absoluta."
JEAN BAUDRILLARD in  COOL MEMORIES IV- CRÔNICAS 1996-2000.


A morte de alguém com quem compartilhamos a existência é como um golpe em todas as certezas da vida cotidiana.
Não se trata apenas da perda de um ente querido, mas do próprio significado de todas as coisas.
Seguir em frente diante da crua evidência da morte é mais uma questão de inêrcia do que de aceitação.
Talvez por isso, muitas pessoas precisam desesperadamente da falácia da crença na vida eterna."

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A MORTE DE UM PAI

No dia em que você morreu
eu estava distante.
Não ouvi de ti despedidas,
nem chorei sobre teu corpo morto
a agonia do meu derradeiro adeus.


Doeu a notícia.
Doeu teu silêncio.
Doeu até mesmo a dor
que de tão intensa
me matava.


Mas sobrevivi na inexistência de deus,
ciente da morte como aquilo
que mais  íntimo compartilhamos.

terça-feira, 13 de maio de 2014

AFORISMA SOBRE A FELICIDADE

Qualquer um que se exponha ao sonho de alguma felicidade, deve estar disposto a sacrificar sua inteligência.
Pois entre a realidade e a felicidade existe um abismo. não há como ser feliz e realista ao mesmo tempo.
A vida, afinal, não possui propósitos ou metas. Ela não passa de uma luta constante pela própria sobrevivência.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

CONTRA A FALÁCIA RELIGIOSA DA VIDA APÓS A MORTE

Rio das idiotices religiosas sobre a crendice de uma eventual vida após a morte.
Tais supertições brincam com o bom senso, o luto e o medo das pessoas.
Um dos maiores crimes religiosos é tentar nos convencer contra todas as evidências
de que a morte não existe, que devemos enganar nossas dores e angustias com o falso comforto
de que tudo sempre continua.
Contra todas as sandices metafísicas afirmo que uma vida autêntica e rica em experiências começa justamente
com a aceitação de nossa finitude.
Morrer faz da existência um labirinto onde constantemente aprendemos e reaprendemos o mundo.

domingo, 11 de maio de 2014

MORRER PÕE TUDO A PERDER

Nunca viverei o suficiente para dar por terminada minha vida.
Mesmo depois que todos aqueles que compartilharam comigo o existir de uma época morrerem,
mesmo quando não mais me reconhecer nos lugares que por muito tempo me foram familiares
e meu corpo megar a mim mesmo,
Até o úlimo suspiro alimentarei minhas fantasias de eternidade.
Afinal, morrer põe tudo a perder.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A VIDA DOS MORTOS

 A vida dos mortos é a lembrança.
Mas podemos lembra-los de duas formas distintas:  a forma passiva e a ativa.
A lembrança passiva é aquela em que a memória dos nossos mortos manifesta-se  apenas como vazio e ausência.
A lembrança ativa é quando  sua memória, de algum modo,  condiciona nosso dia a dia através da herança dos seus atos como se eles fossem uma abstrata presença atuante em nossas vida.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A ESSÊNCIA DA FATALIDADE

É estranho como só realmente acreditamos que vamos morrer quando já estamos a dois passos da morte.

Somos cretinamente educados para valorizar e acreditar na vida como se isso fosse  fazer qualquer diferença
depois de morrermos, como se a vida pessoal fosse importante, e que não apenas meia duzia dentre os milhoes de seres humanos que habitam o mundo, fosse ciêntificado da perene existência de determinada pessoa.

Diante da morte, somos todos anônimos. nenhuma ilusão religiosa pode mudar isso....

sexta-feira, 2 de maio de 2014

SOBRE A FALTA DE SENTIDO DA VIDA

O que há de mais significativo na  existência humana é a sua  ausência de significação objetiva.

Não carecemos de motivos para viver. 
Apenas vivemos; e isso nos basta em meio a perenidade de tudo aquilo que nos define.

Por que haveria de ser diferente?

quinta-feira, 1 de maio de 2014

PROTESTO MÓRBIDO

Morrer é saber o passado
como algo mais intenso
do que a crítica do tempo presente.
Morrer é a recusa dos dias,
rotinas  e lixos de imaginações.
Morrer é a arte
 de não mais suportar
a mediocridade do mundo vivido.