sexta-feira, 30 de agosto de 2019

PROSTRAÇÃO



Naquela noite eu amanheci sozinho.
Pouco me interessava o mundo.

A realidade cabia nos olhos
Que só sabiam a imediata paisagem
Do quarto vazio.

Confesso que nada aconteceu
naquele ambiente inerte.
Entretanto, como foi intenso
Aquele momento,
Aquele vazio,
Onde  tudo cabia,
Onde eu era nada,
E existência parecia resolvida.

sábado, 24 de agosto de 2019

ESQUECIMENTO

Não  saberei meu último momento.
Dele não  ficará  registro.
Será  completamente esquecido
Como todos os dias da minha vida.
Apenas o mundo
Realmente existe,
Persiste,
Entre a lembrança  e o esquecimen
to.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ESPECULAÇÕES SOBRE O MORRER

Toda intensidade de estar vivo pode virar  nada em um golpe infeliz de sorte.
Morrer deve ser surpreendente.
Mas nem os mortos sabem o quanto.
A morte é  maior do que a vida e o mundo.
Existir é  menos que nada é nunca dura o suficiente.
Morrer desqualifica toda ilusão  do pensamento.

A VIDA É CURTA



A vida é curta.
Mas minha existência
Não sabe o tempo.
É memória e acontecimento
Na prisão de um instante
Fechado em si mesmo.


A vida é curta,
Mas contem um infinito de experiências
E possibilidades de um instante perpétuo.


A vida é curta,
minha existência é nada.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

ETERNO DEVIR


Sempre a sombra do nunca mais
Adivinhamos o tempo novo
Do dia seguinte.          

O próprio espaço
É abstrato movimento
Da transformação de todas as coisas.

Nada é constante.
Nenhuma natureza,
Qualquer pensamento,
Permanece o mesmo.

 As coisas seguem,
Sempre a sombra do nunca mais.

Tudo muda contra a vontade da gente.
Nada é para sempre.
Mesmo assim vivemos
Em permanente estado
De eternidade.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

HOJE




É hoje como todo dia.
É hoje.
Sempre é hoje.

O passado muda
Enquanto o futuro não existe
e tudo é hoje.

É sempre hoje
Enquanto o próprio hoje
Nos escapa...

Este hoje que nunca acaba,
onde a gente some,
tudo termina,
e nunca para de ser hoje.


terça-feira, 13 de agosto de 2019

A BANALIDADE DE VIVER


Viver é ato descartável,
Enfadonho.

É corpo,
Paisagem e movimento,
Como uma folha ao sabor do vento.
Não queira que a vida tenha significado.

Tudo desde sempre já  é passado,
E não  há  sentido
Em qualquer ideal de eternidade.

domingo, 11 de agosto de 2019

MORTE E FILOSOFIA

Não sabe viver
Quem não aprende a morrer.
É  o que ensina toda boa  filosofia.
Mas quem se arrisca a saber?
Quem está disposto a abrir mão  de si mesmo
Para redescobrir o mundo?
Quem é capaz de se render
A mais fecunda melancolia?

sábado, 10 de agosto de 2019

MEU CADÁVER

O trajeto do meu cadáver,
do lugar da morte a cova,

não  terá dignidade.

Será  percurso de coisa,
De objeto abjeto e desprezível 
A ser descartado do mundo.
Apenas isso.

Livre da vida o corpo é  mero excremento.

ROTINA E AGONIA

Todos os dias acordo para esperar outro dia.
A rotina nivela o hoje ao amanhã,
Elimina a esperança em qualquer mudança.

Estamos todos mortos em nossas vidas  Mas finjo não saber disso e sigo sorrindo,
Sempre imaginando suicídios.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

APROVEITE SUA JUVENTUDE



Os velhos não tem futuro.
O passado lhes morde os calcanhares.
E o corpo já não sabe
A intensidade dos prazeres da carne.
Nem a mente aprende como antigamente
Ou a vista apreende toda a nitidez da paisgem.
Até o sabor do alimento é diferente.

Por tudo isso,
É preciso ser jovem para aproveitar a vida.
Depois de certa idade
Apenas existimos,
Cada vez com maior dificuldade.


TRÊS TEMPOS



O tempo do relógio é enfadonho.
Serve apenas a rotina do escritório.

O tempo da vida é o instante
Não tem medida
E nunca é o bastante.

Mas a vida sabe também
O tempo do esquecimento
E a hora da morte.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

RETORNO


Espero que o tempo,
De algum modo,
Me faça voltar...

Quero reencontrar o lugar que deixei vazio
Naquela triste província onde vim ao mundo.

Sei que o tempo muda tudo,
Que nada será como antes,
Mas é aquele canto de fim de tudo
Que eu pertenço.

É lá que quero acabar.



APOSENTADORIA


Verei crescer a filha da vizinha,
Trocarei fotografias com parentes distantes,
E todos os dias, pela manhã,
Irei comprar pão na padaria da rua de baixo.

Viverei o suficiente
Para saber a vida sem ilusões,
Sem a opressão de qualquer opinião,
A margem de todos os julgamentos.

Irei saborear a paz do meu pequeno mundo caseiro,
sem sustos ou novidades,
Até que a morte me arranque dos dias.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

SOBRE A PREGUIÇA DE VIVER

Entre a leveza de viver e a gravidade de pensar, afirma -se a preguiça  de existir, de dizer, de fazer. 


Não há  qualquer beleza em persistir. Uma hora a vida termina. Tudo se reduz ao cotidiano espetáculo da banalidade, do anonimato.

Viver não passa do silêncio de um morrer diário.

Acumulamos esquecimentos e todos os nossos atos estão fadados ao nada. Por isso toda ação é efêmera e conduz ao triunfo da preguiça de existir. Mas isso é coisa que apenas o peso dos anos nos faz perceber.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

VIVER PARA O PASSADO

Não  vivo para o futuro. Existo para o passado. Ele define meu presente, minha presença  e desaparecimento da paisagem do mundo. 

Na memória cada instante é uma pequena eternidade que faz de mim acontecimento.

Sou composto pela descontinuidade de vivências impessoais singularmente organizadas em experiência e presença no mundo.