segunda-feira, 30 de março de 2020

AFINAL, O QUE É A VIDA?

A vida hoje não  passa de um substantivo banal esmagado por adjetivos e esvaziado de significados.
A vida afinal,  só tem realidade fora da palavra "vida", como acontecer do corpo, como plenitude do ato, dos afetos e da imaginação.  
Ela pressupõe  a grande saúde dos espaços abertos, a carne do mundo ao alcance de nossas mãos. 
Viver é  uma constante transformação,  uma incerteza que nos inventa outro, que nos comunica uns aos outros e nos consome o rosto.
A vida não é  essa bobagem a qual ficou reduzida nossa existência,
A vida é algo além do humano...

sábado, 28 de março de 2020

O PASSADO COMO NÃO SER II

Não há futuro para uma vida inteira, tanto quanto não há passado que não  diga que o mundo é um antes de nós. Ele ignora, como tal, o marco de nosso nascimento, nossa marca de morte. É indiferente a nossa vida e a nossa sorte. 
O tempo é expressão de morte, realização do não  ser na insistência errática de tudo que existe.

terça-feira, 24 de março de 2020

O PASSADO COMO NÃO SER

O que há  de intrigante na experiência humana do tempo é  que o passado não  é  um lugar, uma ausência ou mesmo uma memória  ( marca) . Ele é a impossibilidade daquilo que é. 
Desde sempre tudo é passado. O agora desaba sobre si mesmo, não se sustenta. É como um erro que sempre se atualiza e insiste inutilmente em sua errância quando tudo que há é o não ser.

A VIRTUDE DA IGNORÂNCIA

Nenhuma palavra de sabedoria tem mais importância do que o ato mudo de existir.  Afinal, morremos ...
 Nenhum enunciado possível da conta da morte. Palavras atravessam o tempo , mas é preciso a substância da presença física,  o dizer -se de um corpo, para que as palavras, em sua estática e impotente eternidade, possam comunicar algo a vida.
Viver a vida, ser corpo, vale mais do que a sabedoria discursiva dos eruditos. Pois a natureza supera o logos.

segunda-feira, 23 de março de 2020

VIDA SINGULAR

Parte de mim é  discurso,
Outra parte é  mundo.
Ambas são este corpo
Que habita a paisagem,
O tempo e a invenção dos dias.

Tudo em mim é imagem,
Matéria viva em transição 
Na vida e morte da espécie,
Na ilusão deste instante
Inerte no caos natural.

quinta-feira, 19 de março de 2020

QUASE EXISTO

Não  tenho nada,
Pois nada que tenho
Me pertence.

Tudo que sou
Passa.

Tudo que sinto
Ou faço  se apaga.

Aos poucos a vida me cala,
Me mata e supera.

Existir é  uma questão  abstrata,
Uma tendência
ou ilusão coletiva.

UM BREVE MOMENTO

A eternidade de um momento, que um dia disse minha vida inteira, sucumbiu ao esquecimento. Não  sobreviveu nem mesmo como lembrança. Pois não sou mais aquele que o viveu tão  intensamente. 

O tempo que passa é um processo de morte, uma constante perda de si mesmo, indiferente a memória. Através dele, o encanto de qualquer experiencia  se apaga. Mas o mais estranho é  que nos conformamos a nossas perdas,  nos habituamos ao efêmero de toda experiência possível.  Afinal, não  estamos nós  mesmos também fadados ao desaparecimento esquecimento?A vida não  passa de um breve momento.....

terça-feira, 17 de março de 2020

INDIGÊNCIA EXISTENCIAL

Sou apenas o rascunho de um projeto de gente fadado ao insucesso.

Nunca serei o herói dos meus projetos de vida. Me recolho a condição  de esboço sempre refeito daquele que deveria ser a base de muito esforço. 

Mas para que lutar e perseverar para ser qualquer coisa, quando sou muitas possibilidades de ser em disputa? Se não  serei amanhã quem sou hoje, nem movido pelas mesmas vontades e ilusões do agora do ser.

No final a morte vai rasgar meus retratos de vida ideal, borrar o grande rabisco da minha biografia e impedir qualquer conclusão. Por isso deixo-me ser sem ambições ou alma enterrado no imediatismo da minha mera existência. 

domingo, 15 de março de 2020

UMA VIDA INTEIRA.....

Passamos uma vida inteira  evitando o inevitável da morte. Mas não  conseguimos, neste mesmo período, construir uma existência significativa. Apenas acumulamos angustias e incertezas massacrados pelo desejo infantil de um bem estar duradouro. Temos medo da morte, mas não  sabemos o que fazer  com a vida...

sábado, 14 de março de 2020

VERSOS & MORTE

Ofereço versos de um dizer mudo aos ouvidos abismos do acaso vivo do mundo.

Ofereço palavras de silêncio como uma música que não cabe no som.

Digo a incerteza da minha existência no devir que devora minha presença,  

Sei que tudo é  nada enquanto a morte virtualmente  me abraça sem saber de mim.

quinta-feira, 12 de março de 2020

MORTE VIVA

No fundo do eu
Há  o ser do nada 
No não ser de mim,
Existe um caos,
Um abismo,
Onde tudo é  esquecimento
E silêncio. 

Dentro de mim
A morte existe 
Na impessoalidade da experiência das coisas
Através  do tempo que nos apaga
No paradoxo do ser e do não  ser

quarta-feira, 11 de março de 2020

LUTO

Quando eu for morto,
Inteiramente ausente,
Mostre aos outros
A marca do meu eu
Em teu corpo.

Diga a todos
Que fui presente,
Um amante quase perfeito
Na arte de saber do eu e do outro.

Denuncie a tragédia do meu desaparecimento
E o absurdo da minha ausência.

domingo, 8 de março de 2020

MEU TEMPO

Meu tempo não acompanha o relógio, 
Não  segue o calendário,
Nem é  marcado pelos fatos abstratos
Que decoram o noticiário.

Meu tempo é meu corpo
Definhando nos anos.
Minha consciência do mundo
Confundida com minha presença entre as coisas.

Meu tempo é  espaço,
Movimento, 
Ato, palavra e fome.
É tudo aquilo me acontece
É morrerá comigo.



sexta-feira, 6 de março de 2020

ENGAJAMENTO NIILISTA


Contra toda moral,
contra qualquer tradição,
afronto os limites do tempo presente,
debocho de todas as verdades vigentes
na desvaloração radical das ilusões humanas
e da sua absurda razão.

Não me interessa o futuro,
o passado,
ou a grande babel literária dos eruditos.

A gramatica da liberdade
formata a gratuidade e o nada
como premissa de nossa risível existência
em todos os tempos do acaso e do caos  do universo
através do ridículo de nossa humana experiência.


quinta-feira, 5 de março de 2020

PONTO FINAL


Quando morrer,
espero que os religiosos estejam errados,
que eu não tenha que nascer de novo.

Não quero sofrer o trauma
de nenhuma outra vida,
a agonia de ser qualquer coisa
no ridículo carrossel da eternidade.


NASCIMENTO E MORTE


Minha vida inteira,
através de todas as suas descontinuidades
e contextos,
culmina no grito do inacabado,
no momento brusco de sua suspensão,
da morte como retirada do mundo,
como silêncio, interdição permanente
do ato e da palavra.
esta absoluta ausência do morrer
põe em xeque toda mítica
em torno do nosso nascimento.

domingo, 1 de março de 2020

MORTE E MEMÓRIA

Diferente do que dizem os religiosos, morrer não  é  nascer para uma vida eterna. A morte é  a perda da possibilidade de transformar-se,  é  a negação de toda mudança de si. Por isso lembrar os mortos nos deixa tristes. A lembrança é estática e estagnada, diz a impossibilidade do outro como constância  da novidade de existir. É isso que faz doer a ausência....

A MORTE É O AGORA



A morte vive sempre no agora
Através da agonia dos nossos atos.
Ela é sempre neste instante,
neste limite,
neste cansaço...
Ela nunca é depois.