domingo, 26 de abril de 2020

A CAMINHO DO FIM


Andamos nas ruas 
De mãos dada com a morte.
nao temos futuro,
E não tememos a sorte.
Sabemos agora a vida nua,
o triunfo final do inoportuno.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

MORTOS VIVOS

Decepcionado com a vida
Perdi meu  medo da morte.

Agora pouco importa minha sorte
Nos descaminhos da humanidade. 

Desde sempre estive condenado
Ao absurdo do caos coletivo,
A agonia do mundo,
Sem qualquer esperança de felicidade
Ou de uma existência digna.

A estupidez é  a lei dos homens
Na miséria de uma sociedade suicida
Mergulhada em sua insanidade produtiva.

Somos todos mortos vivos.





segunda-feira, 20 de abril de 2020

MINHA ÚLTIMA JUVENTUDE

Quando eu for jovem de novo,
Lá pelos oitenta anos,
Serei mais sem juízo do que fui aos dezoito.

Vou por fogo na igreja, 
Quebrar a janela do escritório do prefeito,
viver embriagado e feliz em pleno  estado de natureza.

Dancarei a morte em ritmo de rock
Até o último suspiro da imaginação de um mundo novo,
Serei na liberdade da  insanidade mais perfeita.

Quando eu for jovem de novo
Abrirei um sorriso no peito
Ao perder de vez meu rosto.

sábado, 18 de abril de 2020

PÓS PANDEMIA


Não há alegria nos olhos dos sobreviventes.
Todos já estavam mortos
Antes da pandemia.
Todos ainda padecem
Passada a peste
Acordados no pesadelo de sempre
Onde tudo que vive apodrece. 







terça-feira, 14 de abril de 2020

DEVIR VIDA

A vida  transcende suas formas,
Não  cabe nos nossos corpos,
Na natureza.
É  devir indiferente a morte,
Irredutível a qualquer existência.

A vida é  algo
Que  nunca nos pertence, 
Que não nos define.

Ela é  a inconstância do nada
E se desfaz como conceito,
Valor ou meta,
De nosso tolo egocentrismo,
As margens de todo sentido.



sexta-feira, 10 de abril de 2020

OS INFORTUNIOS DA ESPERANÇA

A morte não  tira férias,
Para desespero da esperança.
Que, as vezes, lamenta o fato,
Da vida ser tão  preguiçosa.

O medo, ao contrário,
Trabalha duro,
E divide seus lucros
Com a morte.

Só  fica pobre a esperança,
Que pouco conta com a vida,
E nada recebe da sorte.






SEM PROPÓSITO

Minha existência não tem propósito.
Sua única consequência é  a morte.
Sou essencialmente silêncio,
Um corpo a deriva no tempo,
Indiferente a própria sorte.



quinta-feira, 9 de abril de 2020

MEDITAÇÃO E REPOUSO

Alcançar  a intuição do  repouso de antes do início e de depois do fim, é como tentar comprimir a vida dentro de um só  momento. Um momento estático e completo, sem relacionamento com o tempo em seu movimento. Alheio ao passado e ao futuro, através  de um agora opaco onde a  existencia abandona-se pálida ao seu proprio cansaço.  É  como estar doente de uma intensidade estéril ou submergir no nada de um estranho sono.
É  como não  se saber vivo ou morto....
Nada mais importa.

A MORTE COMO VOCAÇÃO BIOLÓGICA

A morte é  microscópica, 
Mas visível no corpo que perece 
E transmuta
Em inanimada matéria.
A morte é um vírus
E um imperativo biológico. 

terça-feira, 7 de abril de 2020

O FUTURO DO NOSSO PASSADO

O passado é  nosso cotidiano, 
Nosso saber, prisão, e horizonte,
Contra a vertigem do contemporâneo,
Contra o intempestivo,o póstumo
E o incompreensível. 

Somos escravos do falso progresso
Que nos promete o controle da vida,
O domínio do tempo,
Contra a desordem do eterno retorno do novo e do inédito.

Somos todos conservadores
Que aprenderam a mudança 
Como continuidade do sempre igual de nossas certezas.

Mas o futuro, sempre de novo,
anuncia a morte de nossas mudanças. 


segunda-feira, 6 de abril de 2020

INSIGNIFICÂNCIA

Era uma manhã qualquer,
De um dia qualquer,
Em uma vida qualquer
Sem nenhuma importância. 

Era apenas mais uma existência 
Igual a qualquer outra
Que provisoriamente enfeita o mundo.
 

domingo, 5 de abril de 2020

O MUNDO NÃO ESTÁ ACABANDO

O mundo não esta acabando,
Mas nada será  como antes,
E o século  desaba sobre nossas cabeças.

Atônicos, nos adaptamos ao fluir do novo,
Ao ruir de cotidianos e certezas
Velando velhos futuros
Fatalmente feridos pelo sorriso do caos
Que devorou nosso feliz amanhã vindouro.

O mundo não  esta acabando,
Mas é  hora de abandonar o passado
Que ainda nos serve de chão,
Dançar as margem do abismo
De onde emerge a assustadora sombra
De um tempo desconhecido e urgente.


 

quinta-feira, 2 de abril de 2020

SOU ESTE CORPO

Sou este corpo que se nutre e perece .
Esta coisa de carne que não  controlo
E acontece.

Sou este corpo que se nutre e padece,
Que independe da consciência.
Corpo que é  na terra e no afeto,
Inquieto em desejo,
Em permanente renascença.

Sou este corpo que se nutre,
Que permanece,
Feito de tudo que apodrece.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

SOBRE OS VIVOS E OS MORTOS

Tenho feito tão  pouco dos meus dias que, caso morresse hoje, quase ninguém perceberia. 
Por outro lado, se fosse eu famoso, que importariam as homenagens póstumas? De nada valem os feitos,  a boa reputação ou o prestígio, quando se está  morto, quando nada mais se pode fazer sobre qualquer coisa. 
Estar morto é  como quase não  ter existido. Pouco me importa se serei lembrado depois de enterrado. Lembranças  não fazem o mundo. Apenas os vivos importam em sua insignificância. Pois eles existem, mesmo que em condição provisória. Mesmo que , no fundo, sua existência não  signifique particularmente nada diante da impessoalidade da vida.
Levasse eu as últimas consequências meu raciocínio,  fundamentaria aqui a cruel hipótese do quanto os vivos e os mortos são  igualmente nulos perante a indiferença da natureza.

CORPO MORTO

O corpo nasce, 
Cresce, envelhece,
E morre.

Com ele desaparece
Tudo aquilo
Que me fez possível.

Sobreviver dura pouco
E viver a vontade é  impossível.
A vida se resume
Ao momento de um corpo morto
Contra todo delírio
De nossa vã  vaidade de seres vivos.