segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O MUNDO QUE MATA O MUNDO

O mundo devora o mundo
Alimentando-se de nossa finitude,
De nossa ancestralidade,
Na sobrevivência absurda do tempo,
Contra a finitude de todos nós. 

O mundo é  sempre outro mundo,
Inumano, infinito e imprevisível,
Contra o limite do ilusório 
Da certeza do agora que não  nos define
Na falsidade do sempre do nosso presente.


CANSAÇO

 

Farto do passar dos dias,

vislumbro futuros impossíveis

contra o tempo que me atravessa

monotonamente,

provisoriamente,

entre passados e futuros.

Procuro responder aos meus cansaços,

aos meus limites.

Mas tudo que faço é a fundar no tédio,

cada vez mais farto do passar dos dias.


 

domingo, 30 de agosto de 2020

A MORTE NO OLHAR

Meus mortos carrego nos olhos.
Eles definem meu olhar o mundo,
Meu saber das coisas,
Os tempos e os tédios,
Que gritam  as paisagens 
Que me habitam a existência.

Meus mortos traduzo num choro enxuto,
Que embriaga os olhos que,
De algum modo,
Tornaram- se cegos.

Meus mortos me lembram
O melhor da minha vida inteira,
No invisivel que enxergo.


sábado, 29 de agosto de 2020

O ENIGMA DO NASCIMENTO

Espero, sinceramente, viver o suficiente, para desaprender tudo aquilo que me ensinaram.
Viver não  é  isso que nos é  imposto, não  é a degradada existência de nossos hábitos cotidianos .
A sociedade atual reduz o nascimento ao acontecimento de nossa primeira morte, a expulsão  do paraíso intra uterino.

SOBRE O ABSURDO DO LUTO

A dor é  a vida
Gritando
Contra o absurdo de si mesma.
Afinal,
Chega a ser cômico 
O triste esforço 
De sobreviver 
A morte dos outros 
Para sucumbir em si mesmo.

UM CORTE NO DEDO

Um pequeno corte no dedo vestiu-se de catástrofe.
O corpo inteiro participou da imaginação da ferida,
Da primitiva experiência de um desconforto trágico.

O corte no dedo traduz as intensidades
Das ilusões da vida,
Paixões antigas e memórias perdidas.

O sangue escapa
Na fuga de parte da minha existência. 

Muita coisa sem nome fugiu
No acontecer indeterminado É intempestivo
Daquele pequeno corte no dedo .




quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A ARTE DE MORRER

Pouco me importa a vida, 
O presente ou a sorte.
Sei que serei ninguém
No acontecer da morte,
Na superação de uma existência 
Que me transcende como corpo,
Como matéria  livre de alma e eternidade. 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

terça-feira, 18 de agosto de 2020

SOBRE OS VIVOS E OS MORTOS

O sempre curto intervalo de uma vida inteira, tem sempre a duração do eterno, não  importa o quantitativo dos dias e dos anos. É  uma eternidade limitada e absoluta que se reduz a nada. É  sempre infinita a distância entre os vivos e os mortos.

A ESPERA DA MORTE

Cansado do mundo,
Sigo abandonado dentro dos dias 
Pesado de tanto passado,
E pleno em melancolias.

Espero apenas o momento último
De mina sina
Na natureza que me finda o corpo.

O FIM SERÁ UM DIA QUALQUER

Na falta de sentido da vida e do mundo, estou pronto para morrer amanhã,  me tornar o lançamento de existir. 
Amanhã é  qualquer dia,
Sem adeus,  sem ponto final....

LUTO E AUSÊNCIA

Tudo aquilo que importa
De repente deixou de ser
Na interdição  de um adeus,
No silêncio do sempre,
Na abolição  da presença.

A morte é  um silencio estranho, 
Um outro que nos devora
No caos que habita
O abismo de ser.

A morte é a essência da vida,
Do ato e do amor,
Que revela o não  sentido das coisas,
Nivelado o tudo ao nada.

domingo, 16 de agosto de 2020

A VIDA QUE SEGUE

Lá fora o mundo segue,
Enquanto aqui dentro
Tudo se perde.
O tempo muda tudo,
A vida prossegue,
Sempre outra,
Eternamente breve.

SOBRE A CONVENIENCIA DA FINITUDE

Não  viverei para sempre.
Eis o maior consolo
De sofrer uma vida inteira.
O fim é  meu destino,
Minha certeza e meu caminho.
Não tenho motivo que jutisfique
Ser para sempre
No pesadelo de qualquer eternidade.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

CAOS E VIDA

Chega sempre o dia
No qual qualquer silêncio, 
Qualquer tristeza,
Nos desperta para o não sentido da vida,
Para o caos  que corre dentro de tudo
Contra nossas certezas cotidianas.
Viver é  um absurdo que não  nos esclarece.

A CASA TRISTE

A casa já não é  a mesma.
Pesa nas paredes o silêncio dos mortos,
A memória de tempos idos
É rotinas perdidas.
A casa agora é  triste,
Quase inabitável, 
Na solidão  dos que ficaram
Habitando ausências e vazios.