sexta-feira, 30 de julho de 2021

SOBRE NASCER E MORRER

 

A morte nos livra dos cuidados da vida. Neste sentido, lamentamos mais a morte daqueles que amamos do que a nossa. Valoramos a vida por razões francamente egoístas e narcisistas. Afinal, instinto de sobrevivência não é um instinto de eternidade. Nosso próprio corpo possui a morte inscrita em cada célula. Morrer é mais natural do que adentrar o mundo como um parasita parido de outro organismo. Valorar a vida chega a ser estupido....


 



quarta-feira, 28 de julho de 2021

MEU CORAÇÃO MORTO

Meu coração  abandonei no cemitério,
na sepultuta dos meus mortos
para marcar meu lugar
entre eles e contra a sociedade dos vivos.

Meu coração está tão  morto
quanto minha esperança 
no futuro do mundo,
pois sei que, desde sempre,
eu não existo
ou, simplesmente, resisto
contra o mundo.

MORTE, VIDA E SILÊNCIO

A morte é o passado realizado e consumado no presente como silêncio do Tempo.

No fundo, cada um de nós  não passa de uma nota na grande canção do silêncio. 

O mundo é o corpo do nosso silêncio. 

A natureza é o cosmológico movimento do silêncio .


terça-feira, 27 de julho de 2021

O OUTRO E A MORTE

 

A impossibilidade de ser outro

é a essência da morte.

Não mais ser capaz de escapar a si mesmo

é um equivalente da inexistência,

pois nos enterra no momento da identidade,

da estagnação e do anacronismo.

Viver é buscar o fora do outro.

sábado, 24 de julho de 2021

PASSADO VIVO

Não Aposto no futuro,
nem acredito no presente.
Sou o resto do meu passado, 
um eco de memórias e silêncios. 

Estar vivo é muito relativo.
Muitas vezes, 
o corpo apenas resiste ao tempo,
provisoria e inutilmente,
reinventando passados e antigamentes.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

SEM SAÍDA

Esperneie,
chore, grite,
cresça e se fortaleça.
Nada disso adianta.
Não ha futuro,
Não  tzm saida...
Esqueça.

domingo, 18 de julho de 2021

MEMÓRIA E ESQUECIMENTO

A vida acontece
na medida em que esquecemos,
que nos esquecem,
e desaparecemos,
enquanto inventamos memórias 
mergulhando em silêncios 
de corpo e pensamento
entre rotinas e imanência.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

MORTE CONTEMPORÂNEA

Acho que morro
antes de por os pés em marte,
de ser clonado
ou me mudar
para um cérebro positrônico.

Morro antes do morrer do humano,
do explodir futuro,
do desaparecimento do mundo.

Isso pouco importa,
desde que eu não  morra
como antigamente.
Quero ser vitima da fatalidade
de um curto circuito.





sábado, 10 de julho de 2021

A MORTE DA MINHA TIA

Minha tia morreu
sem saber que morria.
Findou tranquila
no sono do coma
e sozinha em hospital.

Minha tia morreu sem adeus.
Dormiu sem querer
desacordando do mundo
num dia de julho qualquer.

O TEMPO MUDA NA MORTE

A morte transforma o passado.
Diminui a existência na afirmação da vida.
Vida inumana que se revela natureza inaudita
onde tudo é  incerto
e nada faz sentido.

O tempo que insiste em si mesmo,
torna-se outro
através da morte que nos converte em ausência. 




quarta-feira, 7 de julho de 2021

A DOENÇA QUE ME TERMINA

 

A doença que me limita,

define e mata,

é conclusão de mim mesmo,

a ultima definição dos meus dias

ou simplesmente,

uma libertação melancólica

do peso da existência.


Onde meu tempo termina

e escapa do mundo e do eu

há apenas a liberdade que jamais saberei.


A doença que me termina

me liberta da morte

e me restitui ao nada.

O FARDO DA SOBREVIVÊNCIA

Resta em nós,
sempre de novo,
 o espanto,
o assombro e a perplexidade,
diante do natural final
de uma vida inteira.

A morte nos rouba 
tudo que importa.
Mas o que importa
é nada,
qualquer ilusão passageira,
de agir e transformar  um mundo
que nos ignora.

Somos meros apêndices da natureza,
um imperfeito silêncio 
da matéria orgânica.

Resta em nós,
sempre de novo,
o limite da sobrevivência,
que nos comunica
uns com os outros
na realização incerta
do absurdo humano.



terça-feira, 6 de julho de 2021

LUTO E SAUDADE

A pior solidão é a saudade.
A vontade de recuperar o passado,
de fugir do futuro,
que faz do presente um tumulo.
A vida não  vive onde a saudade triunfa.

O TEMPO E A GENTE



Sabemos que o tempo não  passa.
Quem passa é  a gente.

O tempo é inerte
no paradoxo de seu movimento.

É silêncio que devora os atos,
as lembranças, as paisagens,
  os dias seguintes
e todos os aniversarios.

O tempo é adeus e silêncio
em imóvel despedida e disalento.






 
 




sexta-feira, 2 de julho de 2021

DESENCANTO

No mundo de hoje em dia, 
o futuro não  existe,
e as inércias de muitos passados
dominam o presente.

O momento de agora 
não realiza a plenitude de nossa existência. 

Seguimos pelos dias
como mortos vivos
enterrados no grande deserto 
do tempo e do espaço. 

A vida não  vive em nosso desejo,
em nossa falsa realidade 
de trabalho e consumo.

A vida é  outra coisa que nis escapa
enquanto respiramos
com certa dificuldade.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

A HUMANIDADE DA MORTE

O mundo tornou-se doença.
O outro é  um virus,
a sociedade um cancer,
que através de nós
adoece o planeta
e todos os modos
não humanos de existência. 

Apenas a morte é 
de todas as formas
e em todas as partes
onde o humano produz
seu lixo metafisico
um lugar absoluto de imanência.