domingo, 25 de fevereiro de 2024

NUNCA MAIS

O tempo apaga experiências e lembranças.
Assim, tudo que somos desaparece
para que a vida permaneça
como transformação e mudança
ao sabor de triviais despedidas.

A memória é como a chama frágil de uma vela
provisoriamente brilhante no absoluto  turvo do esquecimento.
No fim se rende a escuridão e ao silêncio.

Mas não existe a instabilidade do instante.
Apenas a indeterminação de seguir adiante.

A eternidade é um infinito esquecimento
onde tudo é distância, movimento e desaparecimento 
no ritmo do eterno retorno de um nunca mais visto.

Nunca mais há de ser como antes.
Nunca mais será como adiante.
Nunca mais,
desde o primeiro ao último instante,
nunca mais.

 Haverá, agora e sempre,
 dentro e através de nós 
algum nunca mais
enquanto o pó e os anos 
se acumulam
 sobre a estante de livros antigos e
 sempre fechados.
Nunca mais!
Clio jaz morta!




sábado, 24 de fevereiro de 2024

NINGUÉM VIVE PARA SEMPRE

Ninguém vive para sempre,
mas o mundo persiste
além de nós
 onde nada permanece.

Tudo muda, tudo morre.
Ninguém vive para sempre.

Mas o que eu digo não importa.
O que sei
será em breve outra coisa.
Ninguém vive para sempre.
Amanhã, tanto faz,
o mundo será outro.

Isso nunca muda.
Assim será
hoje e sempre.
Ninguém nunca viverá
para sempre.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A VIDA SEGUE

A vida segue indiferente
as nossas pequenas e grandes tragédias,
sem levar em conta nossas
perdas e desesperanças.

A vida segue
e sempre haverá alguém,
neste exato momento,
nascendo, morrendo
ou sofrendo as dores do mundo.

A vida segue
e ela não nos percebe.


sábado, 17 de fevereiro de 2024

VIDA QUE PASSA

Todos os dias 
algum passado
morre mais um pouco
e memórias desbotam
no olhar marejado.

Depois de certa idade
estamos sempre de luto
Por nós e pelos outros
de nossa pequenas histórias
e mundos.

Sabemos que tudo passa,
que não teremos futuro,
que a vida é uma forma
de nada
que não cabe em  memórias.

Todos os dias eu me esqueço
um pouco mais de tudo.



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

ESCURIDÃO ABSOLUTA

A escuridão é fria,
vazia e silenciosa.

Pouco importam as estrelas que brilham,
a Terra ou a vida.
O céu e o chão  são uma mentira.

A escuridão é absoluta
e resume tudo que há
além deste mundo.
Tudo é um  abissal vazio.
Tudo é escuridão e frio.

ÚLTIMO SUSPIRO

Minha vida terminará ali,
onde acaba a imaginação
que inventou o garoto
que um dia eu fui.

Será bem ali
que darei meu último suspiro.
Bem alí, onde não existirá
por um instante
nem um antes, nem um depois.

Tudo será o impossível,
a escuridão, o frio e o silêncio
no sem tempo do eterno vazio.

Será para todos sempre,
simplesmente, tarde demais.

Minha vida terminará ali
na inconsciência do incompreensível,
na inconsistência da constituição do real,
desfazendo seu próprio  início.

Minha vida terminará aqui ...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

PRAGMATISMO

É triste morrer
e estúpido continuar vivendo.
Mas a gente segue em frente
certos de que a vida não é para sempre.
Assim, acumulamos dias seguintes
sem a espectativa de um próximo dia,
cientes  do nada 
que nos leva
 ao vazio de  cada dia.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

INVISIBILIDADE E EXISTÊNCIA

Quando eu morrer,
sei que irão me esquecer,
assim como poucos sabem
ou se importam
com o fato
de eu ainda estar vivo.

Cada um é,
em alguma medida,
diante do outro,
um pouco invisível.

A existência é um acontecimento solitário
e um fato desimportante.
É coisa que quase ninguém sabe.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

A VIDA PASSA

A vida passa
e a gente nem percebe
seguindo vivendo do pouco que sabe.

A vida não é isso,
não é aquilo.
Ela é bem diferente
do que a gente aprende.

A vida é tudo
que nos acontece.

Ela é dura,
difícil e breve.

A vida passa
e a gente nem percebe
quando a morte chega
e tudo se inquieta.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

NADA IMPORTA

Nada importa.
Ninguém importa.
O tempo passa
e espalha o nada
sobre todos nós.

O amanhã não importa.
Ninguém se importa.
Nada importa.
Estamos todos sós.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

NULIDADES ULURANTES

Cada um de nós
sonha em deixar no mundo
sua marca,
afirmar-se único,
entre os outros,
fugindo a tediosa banalidade
que define a existência.

Cada um de nós
quer ser importante,
diferente.
Ter uma alma,
uma essência.

Mas em que pese
o poder de ilusão de todas as crenças,
a fragilidade de nossas espectativas e experiências,
não passamos de nulidades ulurantes.

Nenhum de nós
é especial ou importante.


sábado, 3 de fevereiro de 2024

SOBRE MINHA MORTE

Mesmo que eu seja uma mera miragem no devir do animal humano sobre a Terra, minha morte será singular, mesmo que insignificante e banal, como qualquer outra.
Meu desaparecimento não será apenas esquecimento e ausência. Há de ser subtração, diminuição da potência do mundo. Qualquer espécie de ferida no cotidiano urbano, na comunhão  dos corpos em rotina. Mesmo que ninguém saiba ou se importe com o acontecimento do meu fim de vida, algo nunca mais será para sempre.
É sempre um mundo que desaparece com alguém que morre. A morte é sempre diferente.