sábado, 27 de abril de 2024

PROVÉRBIO DE CEMITÉRIO NUMERO DOIS

Os vivos inventaram
 cemitérios
para prender a morte.
Mas a morte é mais forte
que todos os poderes
dos deuses e dos homens.

A morte é livre e selvagem,
e não  cabe nos cemitérios.

PROVÉRBIO DE CEMITÉRIO NUMERO UM

A morte é absoluta,
mas a vida é relativa.
Eis toda realidade
 que o corpo aprende
com o devir dos anos.

ÚLTIMOS ANOS

Não tenho mais
a vida inteira pela frente.

Tenho agora o peso dos anos
na contramão do caminho
e dos meus sonhos.

O futuro é meu inimigo
e o tempo é meu carrasco.

Os anos ficam mais curtas
e a vida cada vez mais
sem substância.

Acumulo na memória 
saudades e mortes
na consciência intensa
da minha própria finitude.

Já o tempo do mundo
não é mais histórico 
no dilatado presente
de uma época incerta
de plena desesperança.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

VIVER NÃO TEM SOLUÇÃO

Cada um espera,
do seu próprio modo,
que as coisas mudem.
Pois  as coisas acontecem,
todos sabem,
através de mudanças.

Não importa se para pior 
ou para melhor;
tudo muda
e encontra seu fim.

Amanhã estaremos mortos
e tudo será diferente.
As coisas mudam.
Nada é para sempre 
Toda segurança é ilusão.
Mas continue seguindo em frente,
sem espectativas ou convicções.
Viver não tem solução.
É morrer todo dia
e saber em tudo
um mudo e onipresente NÃO
que torna o mundo absurdo.



quarta-feira, 24 de abril de 2024

DO SONO A MORTE


Há quem veja no sono
uma pequena e provisória morte 
que traímos quando despertamos.

Há quem vislumbre na morte
 um sono eterno
ao qual nos entregamos
sem resistência.

Mas tais aproximações 
não passam de  confusão 
ou de um lamentável engano
que embriagava imaginação
dos que carecem de experiência.

Não há morte no sono
nem sono na morte.
Morrer é a realização absoluta
de uma ausência,
de um insuperável e definitivo silêncio
que há de envolver todos nós
em um absoluto esquecimento.








segunda-feira, 22 de abril de 2024

SOBRE A ATUALIDADE DA FILOSOFIA

Tudo que sei é que o mundo existe
e que um dia irei morrer.
O resto é incerteza e mudança.
Assim pode ser resumida toda filosofia ainda possível.

domingo, 21 de abril de 2024

QUASE URGÊNCIA DE MORTE

Ando ansioso pelo fim dos meus anos,
pelo meu último e inútil aniversário.

Quero logo me livrar de mim,
dos outros e dos dias.
Desaparecer da vida.
Não mais querer, pensar,
 ser ou estar.

Sei que não haverá um último ato
com gosto de conclusão.
A vida não é um filme.
É qualquer coisa sem solução.

Mas quero logo
ficar em pé de igualdade
com todos os meus mortos.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

UMA VIDA É APENAS UMA VIDA

Uma vida é quase um segundo,
é um intervalo de nada
que não cabe direito
no tempo e no mundo.

Uma vida, depois que desfeita,
é coisa abstrata,
perdida,
que ninguém sabe mais.

Uma vida, é só uma vida.
Nada além,
nada mais,
do que a banalidade,
a insignificância,
de um breve existir fugaz.






terça-feira, 9 de abril de 2024

QUASE DESPEDIDA

Minha vida, 
fechada em seu próprio nada, 
Ignora o céu, 
o tempo, a noite e o mundo.

 Amanhã quero ir embora, Desaparecer no azul profundo,
 Sem dizer adeus 
ou virar memória.

Quero abraçar o esquecimento 
e apagar de vez
a irrelevância do meu nascimento
calando, assim, o silêncio de toda minha história.

Minha vida é equivalente 
a qualquer outra vida
que por aí resiste.

Nela persiste o ninguém 
que dentro de todos nós 
chora mudo
 a falta de alguém
que se foi do mundo.




domingo, 7 de abril de 2024

MORRER É DEIXAR DE TORNAR-SE

Morrer é perder a possibilidade de tornar-se,
é cair do tempo,
da mudança,
Cristalizar-se.

É nunca mais se reinventar,
apresentar-se como novidade
e possibilidade 
de algo que ainda será.

Morrer é ser sempre um passado,
nunca mais um presente desafiando futuros incertos.
É ser para sempre um passado,
alguem, por fim, superado.

sábado, 6 de abril de 2024

A MORTE COMO PARADOXO


A Morte é como um não lugar
onde cabem todas as coisas
através do nada.

A Morte não é,
mas desfaz tudo que existe.

A Morte é a soma de todas as mortes que definem a vida.

A morte não cabe na palavra morte.
A morte não é uma palavra.



sexta-feira, 5 de abril de 2024

MORTE E NEGACIONISMO

A morte é a mais previsível dentre todas as surpresas da vida.
Embora cientes de sua inevitabililidade, vivemos como se ela fosse apenas uma  possibilidade pouco provável.
Somos incapazes de aceitar a finitude como algo inerente a nossa condição de filhos da terra. Não nos concebemos como parte integrante e insignificante de sua natureza.
Talvez por isso nos iludamos com tolas esperanças de impossíveis eternidades e valorizarmos demais os inúteis frutos de nossa percepção e  consciência.

MORRER...

Talvez eu morra
ainda hoje 
afogado em tédio,
angústia e impotência,
a espera de algum fim do mundo.

Talvez, depois de um intenso 
 e quase eterno segundo,
de confusão e agonia,
eu caia de vez no fundo 
do meu vazio mais que profundo.

Morrer é se livrar de tudo.
Até de si mesmo.
É radicalmente desimportar-se.
É um desacontecinento,
um inacabamento,
ou um adiamento definitivo
de quem fomos.