sexta-feira, 29 de julho de 2016

O TEMPO PASSA...

Vejo o dia escorrer pelas horas
Enquanto o tempo ri dos meus atos.
Lá fora o sol nasce
Sem saber de mim.
De muitas formas eu nunca existi.
Sou muito menos do que suponho.
Mas mesmo assim ainda respiro,
Penso e me rendo
A um sentimento brando
De desespero.
O tempo passa

E tudo vai se perdendo...

quinta-feira, 28 de julho de 2016

ENTRE VIVOS E MORTOS

Entre os mortos e vivos
Sigo provisório,
Quase sonâmbulo.
Não sabe ainda a memória
A inercia dos meus atos.
Mas mesmo assim me desconheço
Neste viver anônimo
Onde muito pouco existo
Naquilo que faço.
No final das contas
Não há muita diferença
Entre os vivos e os mortos.
Relativa é sempre a nossa importância...


quarta-feira, 27 de julho de 2016

A VELHICE COMO ULTIMA TRINCHEIRA

Sentia sempre um pouco de náusea...
Alguns diziam que já havia vivido bastante
Por ter alcançado os setenta anos de vida.

Mas aquilo não significava nada.
Viver nunca era o bastante.
Disso eu já sabia
E ainda fazia planos,
Cultivava grandes esperanças.

Apesar dos limites da idade,
Apesar de todas as dores e limitações,
Ainda não estava disposto a morrer.


terça-feira, 26 de julho de 2016

LEGADO

Temo sempre o dia seguinte,
A possibilidade de desaparecer
Antes mesmo de findado
Meu inacamento existencial.

Não quero morrer prematuramente
Sem saber meu pueril existir
como um acontecimento pleno
e talhado no mais intimo dos meus dias.

Mas também não quero deixar legado,
Apenas memórias e sombras
Que brinquem com o esquecimento

Através do tempo.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

PERDAS, TEMPO E GANHOS

Sucesso e felicidade não correm necessariamente na mesma direção. Somos escravos de nossos desejos, de nossas fantasias, e elas tendem a metamorfoses infinitas diante de uma realidade desde sempre imperfeita.


 Mas o mais decisivo é que o tempo sempre corre na contramão do progresso de nossas vidas, avançamos e caímos ao mesmo tempo. Não existimos em uma linha reta. Estamos sempre perdendo e ganhando alguma coisa.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

CARPE DIEM


“...carpe diem, quam minimum credula postero".
Horácio- Odes. Livro Um

“...Colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”
Horácio- Odes. Livro Um

A vida é efêmera e perecível. É tão breve que só se torna justificável quando incessantemente buscamos vive-la de forma extraordinária.

Cabe,desesperadamente,tentar arrancar constantemente o máximo de cada momento. Mesmo que isso não signifique nada.

Tudo tende ao esquecimento.

Mas que outra escolha se por hora estamos vivos?

A mais perfeita filosofia inspirada na morte só pode ser a mais radical e insensata valorização da vida através da consciência de sua insignificância.


quinta-feira, 21 de julho de 2016

A INTIMIDADE DOS MORTOS

Favor tratar os cadáveres com respeito.
Não coisifique os restos mortais dos outros
Através de seus ritos fúnebres
E lutos socialmente  prefigurados.

O morto não cabe em nossas lembranças,
No modo como idealizamos
E dele socialmente nos apropriamos
Como memoria.

O morto é quase um segredo
De alguém que se perdeu
E nunca soubemos em si mesmo.

Jamais vivemos a morte dos outros.

Apenas a testemunhamos atônicos.

terça-feira, 19 de julho de 2016

TEMPO VIVIDO

Andam tão distantes as pessoas e coisas
Da minha vida
Que às vezes até duvido
Da veracidade do meu passado.

Mas como tenho saudades das minhas antiguidades,
Dos dias de infância e maturidade
Entre os meus.
Saudade de abraços, diálogos
E até mesmo convívios vazios
Que me preenchiam os dias.

É triste ver o tempo passar,
Saber que tudo muda
E a gente fica
Cada vez alheio a tudo aquilo
Que nos  define no tempo vivido.


A MORTE ME DEU BOM DIA

Não iremos morrer hoje.
Levanta e sofra mais este dia.
Não é uma questão de escolha.
Amanhã você nem lembrará dele.
Segue o momento ,
Exista, mesmo que rarefeita.
Os fatos não se conformam a nossa consciência
E a realidade quase não existe.
Tudo não passa de tempo desperdiçado
Em um pedaço de espaço.
Não desanime,

Tudo é pura e descartável  rotina.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

POEMA QUASE ATEMPORAL

Os dias passam sem mudanças.
Apenas o passado parece vivo
Nestes tempos sem futuro
Onde a própria vida
Já não vive mais.
Um silencio nervoso cobre todas as coisas
E não faz qualquer diferença
Se o sol vai nascer.
Tudo aquilo que era possível
Já aconteceu.

O tempo segue as cegas. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

FINITUDE E INSTABILIDADE

A consciência da finitude e da temporalidade da existência nos torna individualistas.  Nada mais coerente. Pois quando aceitamos a morte como um momento constitutivo de nosso próprio acontecer no mundo, aprendemos a relativizar a importância de tudo. Constatamos a perenidade como uma premissa de toda ação, sentimento ou mero reconhecimento das coisas.

Tudo esta desde sempre predestinado ao desaparecimento.  A auto transcendência concreta torna-se a meta impossível de nossas trajetórias biográficas, da construção de nossa subjetividade.

Não se trata de uma busca por si mesmo, mas de um permanente exercício de desconstrução ou diluição da própria vontade através do reconhecimento da insignificância de tudo aquilo que nos faz humanos.


Olhamos o mundo sem pretensão a verdade, a realidade. Tudo é simples e permanente  instabilidade.  

terça-feira, 12 de julho de 2016

A VIDA REALMENTE EXISTE?

Não me pergunte sobre a vida.
Pouco sei sobre ela.
Apenas acordo todos os dias,
Me acomodo a rotinas
E tento seguir em frente.

Confesso que às vezes
Não é fácil
E duvido de todo significado possível
Como se a existência tivesse um propósito.

Da vida só sei que ela existe,
Que me acontece
E, mesmo assim,

Duvido de sua concretude.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

SOBRE O PASSAR DAS COISAS E DE MIM MESMO

As épocas passam,
As pessoas morrem
E as coisas  se estragam.
O melhor que faço
É esquecer a cabeça sobre o travesseiro
E abstrair a mim mesmo.
Pois nem mesmo sem direito
Aquilo que sou.
Só sei que desapareço
Sem nunca ter sido
Se quer um terço de mim mesmo

Em meus estranhamentos de mundo.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

AMAR E MORRER

O silêncio da morte é insuportável.
É puro desejo bruto
Doendo na ausência daqueles que amamos.

Como seguir vivendo tão vazio de alguém?
A morte do outro é parte do nosso próprio morrer.
E isso é tudo que o amor realiza.

Mas como não amar?
Como escapar ao morrer
Quando nisso reside
O próprio sentido de viver?


quarta-feira, 6 de julho de 2016

MUITO ALÉM DA CULTURA E DA CIVILIZAÇÃO

A consciência é um fenômeno relativamente secundário na dinâmica biológica do corpo humano. Na maior parte do tempo, enquanto um complexo de processos físico químicos, ele funciona de modo automático em sua manutenção interna. O fluxo de imagens que caracteriza a consciência e sua relação ativa com a realidade objetiva é secundário quando pensamos o corpo como uma dinâmica viva cuja prioridade é sua própria manutenção enquanto totalidade orgânica.


Todas as nossas preciosas codificações da realidade ocupam o segundo plano da vida juntamente com nossas formulações sobre as virtudes da humanidade.  Nada do que pode ser pensado é realmente importante considerando a irracionalidade da natureza.

terça-feira, 5 de julho de 2016

BREVIDADE

Um dia minha existência se tornará inviável
E todo o meu  cotidiano será desfeito
Através da minha definitiva ausência
Do cenário do mundo.
Não existirei,
Como foi desde sempre
Fora deste breve intervalo
Em que me fiz ficção biológica.
Que realidade pode de fato existir

Na vida dada sua brevidade?

segunda-feira, 4 de julho de 2016

MORTE E MUDANÇA

O desenvolvimento, a mudança, é inerente à própria existência. Existir é um negar-se permanentemente; uma busca pelo devir, pelo inteiramente outro de si mesmo, que se consome no inacabamento da morte. A mudança é irmã da morte. Somos todos conservadores ingênuos de nos mesmos.

ESTAMOS TODOS MORRENDO

Estamos todos morrendo.
Isso acontece todos os dias
No cotidiano do corpo
Dentro do tempo.
Morrer é o único fundamento da existência.
Morremos o tempo todo e não percebemos.
Neste exato momento a vida diminui um pouco
Dentro de nós.

Mas isso não cabe no instante deste verso.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

EXISTEM COISAS PIORES DO QUE A MORTE

Não é nenhum exagero dizer que existem coisas piores do que a morte.  A existência é sempre o problema e, às vezes, ela não vale uma vida. Doenças, angustias, perdas e toda modalidade de infortúnio, nos fazem pensar o quanto a existência pode assumir formas desagradáveis e degradantes que apagam definitivamente o valor da vida. Viver não é um dado cultural, mas uma construção subjetiva, um exercício de si mesmo que, quando impossibilitado de acontecer pelos dissabores da existência, extingue-se antes do morrer biológico decretar o definitivo ponto final biográfico.

Existem coisas piores do que a morte  e a vida não  existe onde impera o sofrimento.