"Um homem é rico na proporção do número de coisas de que ele é capaz de abrir a mão."
Henry David Thoreau
Esperava um entendimento novo
sobre aqueles dias tristes e desertos pelos quais me arrastava. Precisava rever
minha vida, abandonar aquela degradada rotina de bebedeira, aquele emprego tosco
de auxiliar de escritório que me consumia os dias, deixar aquele quarto de
pensão que me servia de abrigo... Precisava mudar tudo. Mas não sabia como. O
jeito parecia ser nascer de novo. Afinal, já tinha mais de cinquenta anos e
tudo que havia me tornado parecia
definitivo.
Um dia tive uma esposa. Mas ela
foi embora. Simplesmente seguiu sua vida enquanto eu bagunçava a minha. Ainda
sinto sua falta. Mas ela não voltará. Jamais aceitaria a vida em migalhas que
posso oferecer. Ela tinha ambições e alguns sonhos. Queria sempre o melhor para
si e não se conformava aos fatos rasos aos quais estava condenada em minha
companhia.
A verdade é que agora eu estava
infeliz. Totalmente desgostoso com tudo e sem qualquer perspectiva. Nada valia
a pena e não via saída para tal calamitosa situação. As vezes as coisas
simplesmente não tem jeito. Eu só esperava o ponto final, meu ultimo suspiro...
Foi quando chegou aquele e-mail
... um inesperado convite: Um velho amigo me oferecia um emprego de caseiro em
uma propriedade erma. O salário era bom e tinha uma oportuna alternativa de
recomeço. Tudo que precisava. Aceitei a oferta sem pensar duas vezes. Em uma
semana já respirava novos ares naquela pequena casa de fundos de uma
propriedade rústica e rural no meio do nada. Meus dias tornaram-se solitários,
mas não tinha do que reclamar.
Mesmo assim continuava infeliz.
Afinal, estava longe de uma vida minimamente decente. Apenas havia trocado
minha rotina degradada pelo tédio de um limbo rural. Aquilo não era uma
resposta. De qualquer forma, era o que tinha agora.
Meu amigo e sua família apareciam
raramente na propriedade. Tinha mulher e dois filhos adolescentes. Quando eles
apareciam só tinha que ficar no meu
canto. Fora isso não havia muita coisa para fazer. Assim se passaram alguns
anos sem eu perceber. Mal sabia o que acontecia no mundo. Apenas envelhecia...
Tudo se resumia em envelhecer. E foi só isso o que aconteceu com o peso dos anos. Depois de algum tempo
tudo o que podia esperar era uma morte serena... e era o que iria acontecer.... Do meu existir restaria apenas os
ossos. Minha rotina não tinha carne. Vivia sem propósitos e ambições, apenas
esperava morrer com dignidade...
Nenhum comentário:
Postar um comentário