quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O DESTINO DOS MEUS RESTOS


Os restos da minha existência devem ser recolhidos sem cerimônia. Apaguem todos os meus vestígios. Sei que ninguém seguira meus passos. Tudo que fiz ficará perdido. Então que seja rápido e limpo, o recolhimento dos meus trapos e posses íntimas. Depois da morte tudo que fomos se reduz a sucata, um incômodo. É preciso que outros ocupem o espaço e continuem a vida que acontece sem nunca saber da gente.

Recolham do mundo tudo aquilo que fui um dia....

A BANALIDADE DA MORTE



Em uma hora qualquer,
Aleatoriamente,
Posso morrer repentinamente.
Ao mundo e a realidade será indiferente.
Um insignificante e banal fato biológico.
Nascimentos e falecimentos acontecem o tempo todo.
Nunca paramos para pensar nisso.
Todas as horas alguém morre
E o mundo continua sendo o mundo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

EXISTÊNCIA E NADIFICAÇÃO


Não ter mais voz e nem mesmo existência pode nos parecer algo assustador. Somos educados para subjetividade, para estar sempre em presença do mundo. Prezamos demasiadamente o corpo em movimento e imersões. Chamam isso de instinto de sobrevivência. Mas no fundo somos carentes desta existência que nos consome e não nos damos conta que através de tudo aquilo que nos afeta, que desejamos, consumamos o nada, nos consumimos.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O NADA COMO ORIGEM E DESTINO

Estou convencido de que não é propriamente o medo  da morte que afeta a maioria das pessoas, mas o receio de serem totalmente esquecidas. Afinal, o fato de uma vida inteira se perder, não deixar vestígios, é um atentado a nossa vaidade.

A morte é a maior prova de nossa insignificância como indivíduos.  Estamos condenados ao nada e ao silêncio. A existência nos é indiferente. E isso é tudo. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

A DECADÊNCIA DO DIÁLOGO



Sobre o que ainda podemos conversar sem parecer dois idiotas? São tantos os lugares comuns, as maneiras comuns, os pensamentos comuns, os tédios comuns e os conhecimentos banais, que já não há  discurso que não seja eco, que não seja oco, ou que se invente cópia.  Estamos saturados de enunciados e discursos.  Já estamos cansados de falar tanto para dizer o mínimo. Temos passado por cima de tudo aquilo que não entendemos ou discordamos.  O mundo não cabe em nossas cabeças. Nem mesmo queremos o mundo, mas o pequeno plano domestico onde nos abrigamos de tudo. Nossa existência é efêmera e trivial. Desde já estamos condenados ao esquecimento.  

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

NÃO TENTE ENTENDER A VIDA


Os fatos não cabem em nossas interpretações.
Sempre avaliamos a vida segundo os limites de nosso olhar.
Por isso não me pergunte:
Para onde segue a vida?
Ela muda em todas as direções
E ignora todas as interpretações.
Apenas siga em frente.
Não tenha medo do horizonte.
Qualquer hora destas
Você vai, simplesmente,
Desaparecer do caminho.



DILEMAS DE UM MORIBUNDO


O que há de verdade em mim é esta fragilidade.
Sou feito hoje  de incertezas e duvidas.
Mas pode ser que meus lamentos não sobrevivam ao ano.
O corpo sabe cada vez mais a doença do que a vida.
É melhor mesmo escapar de vez desta agonia.
Já que não tenho mais idade para futuros.
Quero reter em meu ultimo suspiro
Algum resto vultoso de dignidade.



domingo, 14 de outubro de 2018

SOBRE A TOLICE DE CERTAS PESSOAS

Acho engraçada está gente que tem a vontade embriagada pela ilusão de eternidade. Elas tomam o ego como medida de todas as coisas, se rendem aos afetos mais banais e são escravas dos desejos mais naturais. 

Não passam de criaturas birrentas enterradas em um mundo que as ignora. Vivem de tantas certezas que não percebem o passar da existência.

SOBRE O MEU DESAPARECIMENTO

Não deixarei heranças. Além dos ditos restos mortais, deixarei entulhos e trapos. Coisas que serão jogadas no Lixo junto com a lembrança dos meus atos. Todos os meus rastros serão apagados. Não farei falta. Tudo vai continuar seguindo sem minha existência. Outros dirão o que eu diria e não fará qualquer diferença. Minha existência terá valido a pena apenas pela inocência alegre dos dias perdidos dos anos de infância.

RENDA-SE A IGNORÂNCIA

Existe uma morte oculta na ilusão de cada dia. A mudança nos consome. Vivemos da materialidade das coisas que nos transcendem. Somos apêndices de uma realidade socialmente construída para todos e para ninguém. 

Morrer faz parte da falsa ordem das coisas. No fundo tudo é o ilegível de um caos. Desista de toda ilusão de qualquer compreensão do mundo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

NA NATUREZA SELVAGEM

A morte é como um rio de águas turvas e tranquilas em uma paisagem verde que me intimida pelo seu gigantismo. Tento adivinhar as profundezas do rio que me assusta e percebo que não sou capaz de adivinha-lá. Por outro lado, a paisagem que me contém me embriaga e me dissolve. Ela me obriga ao rio. Não sou nada nesta paisagem onde não encontro abrigo.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

INSIGNIFICÂNCIA


É conhecida a declaração de Bukowiski de que era um escritor apenas quando escrevia e que na maior parte do tempo não era ninguém. Tal observação vale para intelectuais de um modo geral. É ingênuo identificar-se demasiadamente com sua persona a ponto de não conseguir diferenciar-se dela, ou agarrar-se demasiadamente a ela por vaidade ou afirmação de algum tipo de poder pessoal ou distinção.

Na maior parte do tempo somos pessoas banais e anônimas como qualquer outra. A matéria viva de nosso existir concreto e cotidiano esta fadada a insignificância. Como poderia ser diferente? A singularidade humana é perecível e redutível a a pluralidade e diversidade que lhe define. Toda distinção pessoal é ilusória. O que melhor podemos fazer por nós mesmos é lidar sempre de forma criativa com nossa insignificância. Tudo que somos não passa de uma miragem no cenário da existência humana.


NADIFICAÇÃO


O que não nos basta ou farta,
Talvez um dia nos mate.
Afinal, o tempo passa e a gente acaba.

De nada vale convicções, vaidades
E determinações.
O desejo se realiza na medida em que nos consome          .
E somos menos que nada.


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O VIRTUAL DA EXISTÊNCIA


Não é pela vida que vivemos, mas pela imanência da imediaticidade da existência. Somos produto de uma espontaneidade cega.

O acontecer múltiplo de tudo que existe é o que define nossa insignificância, nosso acontecer como um conjunto desconjuntado de moléculas e vazios.


O que não percebemos é que desde sempre não existimos, apesar da ilusão do tempo que passa. Tudo que há, é virtual, potencia e simulação. 

O PARADOXO DE SABER DE SI

Viver sem saber de si é aquilo que diariamente nos acontece.
Somos apenas em nossas roupas, palavras,
Pequenos e mansos gestos cotidianos.
A vida quase não nos acontece,
Mas sempre nos escapa.

Temos pouca consistência.
Não passamos de um detalhe na paisagem humana.
Saber de si, por outro lado, é um fato abstrato,
Um desencontro entre o eu e o mundo,
Uma experiência de vertigem.

Saber de si é esquecer-se,
Viver como espectro,
Ser ofuscado pelo sentido que nos move,
É quase um aprender a não saber de si,
Um ser para a morte.


terça-feira, 2 de outubro de 2018

POR UMA EDUCAÇÃO PARA A MORTE


Morrer é silêncio, ausência e supressão. É mero desaparecimento é nulidade do corpo. Não significa nada. A morte como conceito se faz no plano da existência reivindicando a vida. Infelizmente, só quando envelhecemos e começamos a perder entes queridos de vida inteira, nos damos conta do quanto é impossível viver sem considerar o morrer. 
A ideia de morte muda tudo aquilo que desde de crianças a sociedade nos ensina sobre a vida. O aprendizado da morte é uma necessidade vital.