segunda-feira, 29 de abril de 2019

MORTE E AMBIENTE HOSPITALAR



A morte faz parte do cotidiano do profissional de saúde publica. Não raramente ela é tratada de forma banal, como questão de estatística ou simples objeto de protocolos e formalidades.

A morte como objeto é a estratégia mais corriqueira de distanciamento adotada por um medico ou enfermeiro diante de um paciente terminal. O não envolvimento chega ao ponto de ser visto como uma postura desejada e necessária ao cumprimento de suas funções. Mesmo que haja o discurso oficial de uma “humanização” ou busca de uma dignidade do morrer, o fato é que a morte domesticada pelo ambiente hospitalar é um processo cruel e solitário. Não são raras as desconfianças e queixas dos familiares de moribundos ou daqueles que foram a óbito sob os limites e falhas da tutela de uma instituição hospitalar.

A situação de desabrigo e fragilidade que envolve a situação limite do doente terminal raramente é levada em consideração na adoção de procedimentos médicos. Mesmo se reconhecendo a  relevância da situação psicológica do enfermo pouco se faz por sua condição afetiva e existencial.

No fundo, não há muito a se fazer e, no final das contas, o enfermo esta intimamente entregue a si mesmo, do ponto de vista de suas vivencias subjetivas. O que me pergunto é se os últimos dias de alguém no isolamento de um hospital precisa ser uma experiência vazia, moralmente asséptica e filosoficamente esterilizada. Afinal, é neste momento limite que  nos vemos diante do balanço biográfico, da afirmação do significado de nossa breve existência.    


QUANDO A VIDA SE TORNA UM INCONVENINETE



A paixão pela vida muitas vezes nos ofusca sobre situações básicas da existência.  Por isso não é de se estranhar que os profissionais de saúde, sejam tão inaptos no trato de doentes terminais. Principalmente em um contexto em que o ambiente hospitalar funciona como um dispositivo de ocultação da morte e do morrer para o resto da sociedade.

A fragilidade de nossa condição humana e os impasses biológicos afetam tais profissionais de um modo que a mera adesão a sua persona profissional não se revela uma estratégia eficaz.

Não é fácil morrer na sociedade em que vivemos. O prolongamento artificial da vida, proporcionado pela tecnologia, o apego a preservação da existência do moribundo, a qualquer custo, nos lança a dilemas éticos de difícil solução. Afinal, até que ponto a vida deve ser tratada como um valor inquestionável. Talvez existam circunstancias nas quais a morte é a melhor resposta.

O reconhecimento da eutanásia pode ser o inicio de um processo de reconsideração do viver e do morrer a ser explorado pela Tanatologia como uma das mais recentes e necessárias modalidades do saber.  


quinta-feira, 25 de abril de 2019

A AGONIA DE VIVER



Há muitas necessidades,
Carências,
Fomes e faltas.

Vontades nos consomem,
Nos definem.
O que somos é feito de agonias.
Sou onde não somos...

Sou devorado pelos meus apetites.
Somos preenchidos por muitas ausências.
Tudo que define um encontro
É também despedida.
Afogamos discretamente em melancolias.

O não ser move tudo que é
Através da consciência de um eu que define o nós.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

O MUNDO COMO CONDIÇÃO EXISTENCIAL



A individualidade excede a si mesma como experiência ontológica, pois pressupõe a ideia de mundo. Mas o mundo é apenas o conjunto dos modos de existência, é como em cada época entendemos a realidade como construção social e provisória.

O mundo é o que somos, o que julgamos, como vivemos. Nossos hábitos são o mundo, aquilo que permanece contra o perecer dos indivíduos. A morte só pode ser concebida como aquela certeza que afirma o mundo contra nós mesmos. Por isso a individualidade tende a exceder a si mesma, a tornar-se mundo através dos nossos atos.

Cada um de nós busca a realidade-mundo. Realizar-se entre os outros como um acontecimento vivo é a meta de cada um de nós através da experiência de existir. Nunca nos conformamos a nós mesmos pois sabemos que existimos para a morte.

Ser um indivíduo é estar sempre em fuga, sempre em busca da realidade do mundo. Apenas o mundo existe. Somos através dos outros o próprio mundo em busca de si mesmo através do tempo e do espaço. O avesso do mundo é a morte, o silêncio, o limite e o caos.

terça-feira, 23 de abril de 2019

MUDANÇAS

A vida muda o tempo todo.
O que era tédio e angustia
Vira saudade
E  a gente não sabe mais
O que há de bom ou ruim
Dentro da mais simples realidade.

Não importa o momento.
Sempre estaremos insatisfeitos
E idealizando o passado
Contra a prisão de nossas rotinas.

O tempo passa
E em cada mudança que inventa,
Tira da gente
Tanto o pior e o melhor dos dias.

O CÂMBIO DO VIVO E DO MORTO

Não é apenas a ausência que define os mortos, mas a impossibilidade de qualquer ato de criação, de participar ou interferir no curso do imediato agora.

A ação é exclusiva dos vivos, assim como a própria experiência. Qualquer situação de impotência ou inércia contém um germe de morte. A memoria de um morto pode conter mais vida do que a existência de um anônimo.

Vida e morte são conceitos equivalentes e cambiantes. Nunca remetem ao particular, mas só indeterminado e impessoal.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

O LUGAR DOS MORTOS E DA MEMÓRIA


Frequentamos os mortos porque os vivos são sempre limitados às urgências do tempo presente. Os mortos, ao contrário, no inacabado de suas indicações, povoam a memória como multidão e devir. São eles que sempre assombram o futuro. Os mortos não são os mesmos que eram quando vivos convertidos em intercessores que comunicam sempre o passado ao futuro através dos vivos.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

BANALIDADE

O que foi feito não teve qualquer efeito.
Não marcou o tempo,
Não deixou lembrança.
Foi só mais um pouco de nada,
Um ato efêmero e banal.


Quase tudo que fazemos
Está condenado ao esquecimento.
Não faz diferença,
Como a própria existência.


A maioria das coisas não tem importância....

quarta-feira, 10 de abril de 2019

A ILUSÃO DO DIA SEGUINTE


A ilusão do dia seguinte persiste
Contra o devir natural das coisas.

A terra gira
E o mundo segue ignorando o tempo.
O mundo apenas acontece
Em seu caos e diversidade
Indiferente a agonia humana.

Mas tudo que sabemos
É do rito do dia seguinte,
Dos perecimentos e renascimentos
Que sustenta a alternância entre o choro e o riso.

domingo, 7 de abril de 2019

A MORTE DAS HORAS

Ontem foi como hoje tempo  presente.
Agora é sombra,
Esquecimento e memória.

Os fatos se calam  no tempo
E não participamos da eternidade
Através da ilusão da História.

O nada é o momento
Onde sempre celebramos de novo
A morte das horas.

sábado, 6 de abril de 2019

FORA DE SI

Há dias que existo no mundo, mas que o mundo não existe em mim. Nada sou por um indeterminado segundo que inventa uma noite inteira além de mim.

Desaparecer de si é saber que o eu não é profundo, que tudo é mundo, mudo, e condenado  a um fim. É sempre um adeus que define o minuto.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

SOBRE O ABSURDO DA EXISTÊNCIA

Um dia morrerei sem fazer qualquer boa ideia do que é o mundo e o universo. Também não terei nada a dizer sobre a vida humana ou sobre toda esta confusão absurda que define os séculos.

Morrerei tão inocente e ignorante como uma criança. 

Deixarei a existência perplexo com o absurdo de ter nascido. De nada me valeu a experiência.

SOBRE ENVELHECER


Envelhecemos quando aprendemos a explorar nossos silêncios, quando a memória se torna mais importante do que os fatos; quando a vida se converte progressivamente em consciência de um passado.

Envelhecer é essencialmente sobre aprender a morrer. ..Envelhecemos quando o corpo perde o vigor,  quando passamos a sentir e saber a existência de um ponto de vista cético e impessoal, pois tudo em nós se tornou limitado.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

TEMPOS DE PÓS HISTÓRIA

Vivemos para o instante,
Onde tudo é intenso e urgente.

Buscamos a experiência do simples agora
A margem do peso da História.
Tudo nos é conveniente
Entre a imaginação e o fato.

Vivemos de informação,
dá ficção criadora das verdades rasas.
Não temos tempo para o futuro.

A vida foi reduzida ao espetáculo de nosso desaparecimento.
Agora tudo é possível nas vertigens do efêmero.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

PERTO DO FIM...

Lidar com o que não tem remédio,
Suportar o que não tem solução,
Com uma serenidade estoica.
Cedo ou tarde,
Nisso se resume o nosso destino.
Não podemos vencer a vida,
Fugir aos limites do corpo.
Uma hora a sorte nos escapa,
O bom humor acaba.
Perto do fim a vida sempre parece
Uma piada sem graça.