A morte faz parte do cotidiano do
profissional de saúde publica. Não raramente ela é tratada de forma banal, como
questão de estatística ou simples objeto de protocolos e formalidades.
A morte como objeto é a estratégia mais
corriqueira de distanciamento adotada por um medico ou enfermeiro diante de um
paciente terminal. O não envolvimento chega ao ponto de ser visto como uma
postura desejada e necessária ao cumprimento de suas funções. Mesmo que haja o
discurso oficial de uma “humanização” ou busca de uma dignidade do morrer, o fato é que a
morte domesticada pelo ambiente hospitalar é um processo cruel e solitário. Não
são raras as desconfianças e queixas dos familiares de moribundos ou daqueles
que foram a óbito sob os limites e falhas da tutela de uma instituição hospitalar.
A situação de desabrigo e fragilidade que
envolve a situação limite do doente terminal raramente é levada em consideração
na adoção de procedimentos médicos. Mesmo se reconhecendo a relevância da situação psicológica do enfermo
pouco se faz por sua condição afetiva e existencial.
No fundo, não há muito a se fazer e, no
final das contas, o enfermo esta intimamente entregue a si mesmo, do ponto de
vista de suas vivencias subjetivas. O que me pergunto é se os últimos dias de
alguém no isolamento de um hospital precisa ser uma experiência vazia, moralmente
asséptica e filosoficamente esterilizada. Afinal, é neste momento limite que nos vemos diante do balanço biográfico, da
afirmação do significado de nossa breve existência.
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