domingo, 28 de julho de 2019

RECOLHIMENTO


Gosto de sentir o vazio e saber o silêncio.
É  sempre bom esquecer de si e dos outros,
Dedicar horas a ausência e a solidão.

A vida é  impessoal,  muda . Ela escapa aos nossos jogos de linguagem. Ela é  a intensidade e a singularidade da micro eternidade contida no acontecer de cada momento.
Tudo é  descontinuidade.

sábado, 27 de julho de 2019

ANDAR DE BICICLETA


Eu queria andar de bicicleta nas ruas vazias da cidade morta.
Ver flores caindo no Jardim do cemitério,
Sem comer veneno no almoço
Entre as horas de trabalho
Que me matam aos poucos.

Eu queria que não  fosse dia
Nem noite.
Correr de bicicleta
Contra a vida e o tédio
Que me inventam um rosto. 

FILOSOFIA DA MORTE

Não  importa seu sistema de crenças,  Seu modo de significar a realidade e a sua vida, a morte sempre irá  lhe ensinar a dura lição  do niilismo.

A consciência do desvalor é a medida de todo valor possível. 
A morte é  a musa dos filósofos e inimiga de toda metafísica.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

A HORA GUARDA A ETERNIDADE




A hora guarda a eternidade.
Não como o absoluto do sempre,
Mas como o infinito do instante.

A breve  duração de um momento
Pode valer uma vida inteira,
Pode ser  intensa
Contra o tedio de um século.
A hora guarda a eternidade...


quinta-feira, 25 de julho de 2019

ANTEPASSADOS

Há  muitas mortes contidas na minha vida.
Quase todas antigas.

São  arquivos de família.
Silêncios que me compõem.

Um dia eu serei também
Uma morte dentro de alguém.

terça-feira, 23 de julho de 2019

A POSTERIDADE NÃO SABERÁ DE MIM



Não deixarei legado,
Por nada que fui  serei admirado.
Morto permanecerei tão anônimo e invisível
Quanto fui ao longo de toda a vida.

Guardo o estimado estigma de ser
Um banal desconhecido
Sem distinção, classe
Ou projeção em redes sociais.

Não quero ser roubado de mim
Pela opinião pública,
Me converter em imagem midiática,
Manipulável e rotulável 
até um total desgaste existencial

Não quero ser objeto do comentário de ninguém.
Muito menos quero que me copiem,
Que me citem
E me transformem em simulacro de ideias prontas.

Prefiro mil vezes ser esquecido
Do que ser lembrado por multidões de idiotas.


ENTRE A VIDA, A MORTE E UM CIGARRO




Sei que o cigarro me mata aos poucos.
Mas também sei que não sou eterno.

Talvez eu me arrependa um dia do vicio.
Mas pode ser que eu não viva o suficiente pra isso.

A vida é uma grande loteria
E ninguém morre com dignidade.
Não há elegância em nenhum cadáver.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

O LUGAR DA INFÂNCIA NA VELHICE

Quando chega a velhice, a infância  se torna um sono, uma vontade de dormir, de esquecer, abandonar futuros. Talvez, ela se faça  também  uma necessidade de saber tão  profundamente  o tempo, que não  haja outra opção,  além de desaparecer. Na velhice tudo tem um gosto amargo de abandono e silêncio.

sábado, 20 de julho de 2019

A PALAVRA E A MORTE


Morrer não  dói.
Apenas nos salva de ser.


Afinal, existir
É  tão  relativo.


Sei que alguma forma de silêncio
Sempre sustenta a escrita
Escapando a vida.


A escrita é.
Eu não  sou.


Será que  existo no que foi escrito,

ou estou a margem do que foi dito?

Morrer não dói.
É como não ter mais nada
a dizer.

O TEMPO É A MORTE

O tempo não  é  igual para todos. Cada um vive nele na singularidade de seu próprio momento. Mas todos nós  nos encontramos no instante do mundo. Juntos vivemos nele  contra o proprio tempo. Buscamos materializar em nossas vidas algo que dure, que nos transceda. Cultivamos a ilusão  de que a morte não é o propósito da vida. O tempo, entretanto, ensina apenas a morte. Nada do que fazemos é digno de eternidade.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

DEFINIÇÃO DE VIDA






“As forças vitais são forças moleculares.”
Justus von Liebig ( 1868)

Vida é uma troca de matérias  entre um organismo e seu meio ambiente. É um processo contínuo de relações químicas ( metabólicas e moleculares) individuado e coletivo. Vida é composição e participação. É ser em natureza. Toda consciência é um reflexo do corpo que vive. Viver é desejo, preservar-se, afetar e ser afetado.

Não há fronteira entre o orgânico e o inorgânico no acontecer da vida  através de seus efeitos. Vida é multiplicidade, imanência. É um estado que define uma totalidade que não corresponde a soma de suas partes.

A vida é um agregado de matéria, um ato natural de potência que significa antes de tudo morrer para que a própria vida se replique.


Curiosa apresentação de Justus von Liebig
http://www.consciencia.net/2005/mes/10/taguchi-liebig.html

quinta-feira, 18 de julho de 2019

VIDA, MORTE E TELEOLOGIA


Quando meu viver for um acontecer para sempre pendente, não fará mais diferença minhas intenções e metas. A morte terá me reduzido a passado e todos os meus vestígios estarão desatualizados em relação a virtualidade do meu eu. Não estarei mais sujeito a mudança. Serei apenas uma referência na memória de alguns, pelo menos por algum tempo. Depois desaparecerei de vez no silêncio do mais absoluto esquecimento. 

É natural desaparecer. Nada mais justo. Mas não gosto da ideia de que minha breve existência, presa as determinações de um ego, ficará prisioneira, pelo menos em suas representações,  de ilusões teleológicas de finalidades e metas.

É inerente ao manifestar-se de qualquer forma de vida, a busca pela satisfação de afetos que lhe asseguram a própria sobrevivência. O desejo, a busca do outro ou do fora de si,  é o modo como existimos em um dado ecossistema. Mas isso não coincide com a ingênua expectativa de que cumprimos um objetivo maior ou destino. Nossa existência individual não faz qualquer diferença no mundo. Mesmo quando realizamos qualquer obra, são suas apropriações coletivas e sociais que sobrevivem a revelia de nossa expectativa e significações pessoais.

Vivo de ilusões e metas? Invento sentido para minha vida? É preciso ter claro que nossas orientações teleológicas não passam de um jogo, estão condenadas a um componente lúdico, que ultrapassa qualquer efeito de verdade.  


quarta-feira, 17 de julho de 2019

OS MORTOS HABITAM OS VIVOS


Do DNA à lembrança,
Os mortos habitam os vivos.

Nas artes,
No patrimônio,
Na História,
Os mortos habitam os vivos.

Eles estão em todas as partes.
Os mortos habitam os vivos.

Somos todos seus escravos.


A VIDA IMPOSSÍVEL


Não é a morte que nos angustia, mas a vida. Queremos o impossível de uma presença plena no mundo. Cada foto postada em rede social traduz a busca por uma individualidade universal. Somos patologicamente narcisistas, escravos de um eu incerto que precariamente nos define. Queremos da vida mais do que aquilo que ela oferece. Queremos o prazer pleno e eterno de uma auto realização permanente. Por isso a existência tanto nos decepciona. A vida não é grande coisa e cada indivíduo é menos que nada na plenitude do que é manifesto.


segunda-feira, 15 de julho de 2019

MEDITAÇÃO



Quando escutamos o grande silencio,
Que define todos os discursos,
Fugimos ao lugar comum da linguagem,
negamos as vozes do mundo,
Nos expressamos de forma mais sutil,
Através de nossas inercias,
Da experiência de nossa presença
Em plenitude vazia e muda


Ser em si mesmo
Aquilo que é e passa
É o grande desafio que nos lança a vida.

Nada é mais complexo do que a silenciosa realização
Do imediato e do efêmero através de nós.


quinta-feira, 11 de julho de 2019

HERANÇA


Decisões e soluções não definem os rumos de uma existência.
Uma vida é feita de tempo e emoções;
É matéria etérea,
Experiência quase ilegível
Concluída por um silêncio.

O que é feito de si mesmo
É o que fica no existir dos outros
Como marca e destino.


quarta-feira, 10 de julho de 2019

SOBRE MORRER


Um dia a gente morre.
Só isso.
A vida segue
Sem nossa participação
Como foi desde o inicio do mundo.

A gente morre como quem espirra.
Não há nada a concluir disso.
A gente morre.
A vida segue.

terça-feira, 9 de julho de 2019

ROTINA



A rotina é tudo que nos sustenta.
Todo o resto é especulação ou elucubração inútil.
Acordamos, comemos e dormimos
No ritmo do dia e da noite.

Somos apenas  viventes,
Expressão concreta de uma vida vazia,
Rotineira e sem brilho.

Morremos.
E a vida segue,
Sem poesia.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

A LUA


Sei que não  conhecerei a lua.
Não  provarei da solidão  absoluta
De estar fora da terra e da história,
Vazio de mundo,
Quase desfeito em cosmos.

Não  saberei a emoção
De perder meu corpo
Na pele da lua.

domingo, 7 de julho de 2019

A MORTE ASSUSTA

A morte assusta.
A vida falta.
Tudo é angústia,
Intensidade e busca.
Desapareço nos atos
Inventados entre os outros.
Quase percebo o antes
E o depois de mim.
Mas ainda não  estou morto.
A morte assusta.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

PASSADO, PRESENTE, FUTURO


Ainda que o futuro me pareça visível no horizonte dos passos,  é sempre um passado que me serve de chão. Diante dele, o presente não se apresenta como uma ponte. Está mais para um buraco para outra dimensão, ou para outra versão do momento, onde já não sou mais eu mesmo e todas as coisas mudaram.

O futuro torna nossas urgências sem sentido.