domingo, 31 de outubro de 2021

O TEMPO E A MORTE

Cada dia tem um futuro diferente,
mas todos os dias conduzem ao mesmo fim.
Então, não  se preocupe com o futuro ou com o presente.
A morte existe em todos os tempos da existência,
reduzindo a  passado
toda forma de experiência. 

sábado, 30 de outubro de 2021

MORTE & VIDA

Morte e vida são  vasos comunicantes,
manifestações do nada,
do informe,
que sustenta a ordem aparente
do caos orgânico e inorgânico
além das formas, 
da natureza em devir de forças
onde tudo retorna.

MORRER EM CASA

Não  quero morrer sozinho,
fora do mundo,
na prisão  de um leito hospitalar.
Quero morrer em casa,
entre pessoas e coisas,
como quem dorme
e descobre a vida
como um sonho
do qual se acorda
no apagamento absuto
de si mesmo.

LAMENTO DE FINADOS

Estou na companhia dos mortos
velando o futuro
sob as ruinas do passado.

Tenho saudades da infância do mundo,
quando nada era humano
e o céu  abraçava a terra.

Sinto falta dos dias
onde todos estavam vivos 
e eu seguia vestido de esperança. 

Agora sei apenas
do amanhã quebrado
entre os mortos
invejando o nada dos inacidos.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

ANDANÇAS

Andar,
ir embora,
para qualquer parada provisória,
onde não  encontrarei meu destino.

Andar até o fim do mundo 
até o morrer da estrada.

Viver é estar sempre
de partida,
é caminhar sem caminho.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

AFIRMAR A TRISTEZA

Render-se a tristeza.
Mas não a tristeza banal
de um ego frustrado,
impotente diante do mundo.
É preciso abraçar
aquela tristeza que nos reinventa,
que desfaz sentimentos,
certezas,
na desvalorização das coisas
e deslocamentos do desejo.
Tristeza que funda
uma melancolia de guerra,
combativa,
orientada para sobrevivência. 
Afirmar a tristeza como revolta,
como engajamento filosófico
e deriva existêncial.



domingo, 24 de outubro de 2021

A VIDA COMO FALHA DA NATUREZA

Vejo a vida como um inconveniente acidente da matéria.  É pouco provável que tal acidente tenha ocorrido em qualquer outra parte do universo que, até onde sabemos, é totalmente indiferente a vida e a consciência. 

A ARTE DE ESCREVINHAR

Não posso escrever minha ausência, 
minha inconsciência.
Mas cada enunciado diz meu silêncio, mas do que minha presença. 
A impessoalidade das letras  fabula o real,
livra a aparência da ilusão da essência,
revelando o rosto como uma máscara,
o eu em toda sua inconstância.
As letras sempre estão em movimento, conscientes do devir do texto que inventa a ilusão do autor.
Escrever é aprender a morrer, alienar-se.

MORTE E MEMÓRIA

Carregar o passado como memória viva é saber a morte como uma ferida aberta.
Quanto maior o passado que nos pesa como lembrança, menor o presente que nos permite, ainda, alguma miragem de futuro.
O passado é a medida da morte, não da vida.

sábado, 23 de outubro de 2021

O TEMPO DA JUVENTUDE

O amanhã pertencerá aos jovens.
Pelo menos aqueles que sobreviverem.
Afinal, eles não sofrem, ainda, o peso dos anos,
não sabem as inércias que sustentam o mundo
entre a fatalidade e o absurdo.
Sustentam um ego infrado,
indiferente a morte,
e cioso de suas vontades.
Mas se o amanhã é dominio dos jovens,
o tempo é o território dos mortos.

RESUMO BIOGRÁFICO

Fui corpo,
Presença incerta,
entre o ato e a palavra
em movimento.

Depois fui nada no mundo,
entre o sonho e a memória,
até me tornar vestígio, 
marca de uma ausência,
e, finalmente, efêmera lembrança,
até mergulhar no esquecimento.






segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O FIM DA HUMANIDADE

Talvez  leve alguns séculos, mas a existência da humanidade será apagada do tempo de forma  absoluta.
E o universo, este nosso eterno desconhecido, permanecerá indiferente, sem tomar conhecimento do fato.
É por isso que sempre  digo: Nada é importante ou digno de qualquer valor.

domingo, 17 de outubro de 2021

SEJA NIILISTA

A vida segue sem sentido.
Nada é importante.
Nenhuma palavra apaga a morte.
Desde sempre 
tudo é silêncio. 
Então, 
escuta o vazio
que te preenche
contra o falatório universal.

sábado, 16 de outubro de 2021

DORMIR

Dormir, tão profundamente, 
que o corpo se torne uma pedra,
fugindo de vez à realidade.

Dormir até que tudo se perca,
que o mundo desapareça,
que nada mais precise ser dito
no enterro dos ouvidos.

Dormir, como quem não acorda,
como quem não se importa,
e já desistiu de fazer sentido.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

AS COISAS


As coisas existem em mim
mas do que eu nas coisas.
No fundo apenas as coisas
realmente existem,
pois carecem de percepção 
e razão. 
Elas não  morrem.
Apenas desaparecem, desfeitas,
na formação de outras coisas.
Não  me perguntem o que são  as coisas.
Elas não  carecem de ser.
Elas apenas existem.


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

MOMENTO

Nada é para sempre
ou para sempre é o momento.
Momento que nunca é o mesmo,
que jamais se esgota ou se realiza,
pois devem outro antes de consumado.
Momento inalcansável 
na descontinuidade do tempo
que nunca transcende a instabilidade
de um único momento.
Tudo passa,
mas sempre persiste o momento.



DA INFINITUDE DO TEMPO A FINITUDE DA EXISTÊNCIA

O tempo que me resta
é infinito
em sua curta duração. 
Ele não cabe no mundo
e nem na minha imaginação.
É um tempo incerto
de depuração, de criação,
de uma experiência de perder-se
no ritmo da própria respiração.
É um tempo que desvela a morte,
a ausência, e a ilusão, 
como fundamento último da existência em sua finitude.

sábado, 9 de outubro de 2021

O DESERTO SEMPRE ESTÁ CRESCENDO

Enquanto o tempo nos devora
sonhamos a vida,
inventando futuros
contra o vazio da eternidade.
Mas os desertos crescem no quintal,
apesar da aparente estabilidade
que define um dia de sol.
Amanhã tudo será deserto e silencio, 
independente do que você faça hoje. 


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

UMA BOA MORTE

Meu sonho é viver uma " boa morte". Mas não no sentido cristão da expressão. Pois não  existe alma ou  salvação. Tudo é perdição. 

MORTE E NADIFICAÇÃO

A morte acontece no singular,
mas é coletiva em seus efeitos,
em sua imanência. 

É sempre a morte dos outros
que inventa nossa própria morte
como processo,
como nadificação e segredo,
ou acontecimento banal.

Afinal, ninguém  existe o suficiente para saber a eternidade ou deixar vestigios.

A morte é a impessoal destituição dos indivíduos.