quarta-feira, 27 de abril de 2022

A VIDA COMO SILÊNCIO

Morrer define o silêncio de uma vida inteira. Mas a própria vida não passa de uma paradoxal modalidade de silêncio, na contramão do devir biológico,  da multiplicidade e replicação do corpo vivo. A vida é anonimato e silêncio. 

sábado, 23 de abril de 2022

SOBRE NIILISMO HOJE

É certo que existem vários modos de niilismo. O cristianismo é um deles ( o mais perverso!). Mas é justamente contra ele que se afirma o niilismo mais autêntico e subversivo.
 Aquele que faz da vida experiência do corpo, e da imaginação criação de mundos.
Ser livre é descobrir-se niilista na fatalidade e, no não sentido da existência, sorrindo por não precisar de respostas. Simples assim. Ser niilista é viver sem o imperativo doentia de criar sentido pra isso. É LIVRAR-SE DO PESO DA RAZÃO  E DO SER!!!

terça-feira, 19 de abril de 2022

UM DIA EU SUMO DO MUNDO

Um dia
eu sumo do mundo,
da vida e do futuro,
para compor o infinito vazio do universo.

Serei nada
entre meus mortos
e os inacidos,
que nunca souberam do tempo.

Vou me perder de vez no silêncio,
além de todo desejo e sentimento.

Um dia eu sumo do mundo
Para ser assignificante
na deserção dos meus átomos 
e moléculas
através da natureza que nos supera.




quinta-feira, 14 de abril de 2022

VIDA & MORTE

Uma vez morto,
passou do dominio privado da existência 
ao domínio comum do esquecimento.

O mundo seguiu,
como sempre,
indiferente a si mesmo,
e inconsciente de tudo
que em torno dele existiu.

A vida sempre nova
sustenta os corpos.
Mas eles nunca são os mesmos,
Pois cada corpo tem seu tempo,
e a matéria é movimento,
no arranjo incerto de cada rosto.
Sempre existem corpos.
Como sempre existirão os mortos.




quarta-feira, 13 de abril de 2022

RUMO AO FIM DO MUNDO

Não somos dignos de qualquer esperança.
Conformados e confinados aos fatos seguimos tranquilos
em direção a próxima catástrofe,
indiferentes as pandemias, guerras, ou
as dores de Gaia.

Celebramos osgulhosos o desastroso progresso da humanidade.

O fim do mundo será transmitido pela televisão
como o maior espetáculo 
da história das civilizações. 
Alguns já sonham com os lucros.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

DESTINO

A vida existe para o morrer.
Siga seu caminho,
sofra a sua sorte,
e não espere que a existência 
faça sentido.
Tudo vai perecer.

CREPÚSCULO

Todos os dias o mesmo crepúsculo
no acúmulo de perdas e melancolias.

Cresce sempre um silêncio 
dentro da vida
através do tempo
que nos escapa.

Todos os dias as coisas mudam
persistindo em rotinas
enquanto a noite cresce dentro de cada um de nós.

terça-feira, 5 de abril de 2022

O CONDENADO

Estou condenado a existir,
apesar de todas as dores do mundo.

Estou conformado a ter que sempre falar e agir
como se meus atos
tocassem,
mesmo de leve,
a pele quente da eternidade.

Como se a vida fizesse sentido,
e fossem sólidos e dignos
meus modestos e pessoais objetivos vitais,
afetos e sonhos de felicidade.

Fui educado para acreditar no mundo,
confiar em conceitos,
discursos e verdades,
apostar no futuro da humanidade,
e aplaudir o infinito,
a civilização, os livros, 
e toda forma de insana invenção humana
até o limite de nossa desmedida vaidade.

Sou apenas mais uma formiga 
na vida coletiva do formigueiro.
E o formigueiro é tudo que para mim existe até o limite da imaginação de um universo finito. 

Estou condenado a servir a qualquer ideal vazio de sociedade
esperando encontrar meu próprio rosto
no espelho fosco do mundo 
antes que me surpreenda algum desastre.








segunda-feira, 4 de abril de 2022

INSIGNIFICÂNCIA

Tão vasto é o tempo,
o mundo, e a existência, 
que quase não me percebo
na vida.

Todo meu passado,
presente e futuro,
pensamentos,
e sentimentos,
são menos que nada
dentro da experiência humana.

Mas é justamente a insignificância
a medida da minha liberdade.
Sou livre apenas onde não sou importante
e nada me importa.



sábado, 2 de abril de 2022

O TEMPO E O NADA

Quanto tempo, afinal,
ainda me resta?
Talvez, alguns anos,
semanas, ou dias.
Sobre isso
jamais terei
nenhuma certeza.
O que não importa.
Pois o tempo não conta
depois do fim.
Tudo é nulo na ausência.
Até mesmo a lembrança.
O nada é justamente
esta ausência
que nos apaga
no absoluto  silêncio
que nivela  passado, presente, e futuro,
o fim, o início, e o meio.
Morrer é superar a si mesmo.


A UTOPIA DE SER

Ser não é uma condição. 
Mas uma busca,
quase uma utopia.
Já que nada perdura
e a vida é incerteza
e mudança. 

Nada tem alma
onde tudo escapa.
Ser é apenas
um sonho de infância,
um querer
que nos transforma
contra o nada que nos devora.