terça-feira, 5 de abril de 2022

O CONDENADO

Estou condenado a existir,
apesar de todas as dores do mundo.

Estou conformado a ter que sempre falar e agir
como se meus atos
tocassem,
mesmo de leve,
a pele quente da eternidade.

Como se a vida fizesse sentido,
e fossem sólidos e dignos
meus modestos e pessoais objetivos vitais,
afetos e sonhos de felicidade.

Fui educado para acreditar no mundo,
confiar em conceitos,
discursos e verdades,
apostar no futuro da humanidade,
e aplaudir o infinito,
a civilização, os livros, 
e toda forma de insana invenção humana
até o limite de nossa desmedida vaidade.

Sou apenas mais uma formiga 
na vida coletiva do formigueiro.
E o formigueiro é tudo que para mim existe até o limite da imaginação de um universo finito. 

Estou condenado a servir a qualquer ideal vazio de sociedade
esperando encontrar meu próprio rosto
no espelho fosco do mundo 
antes que me surpreenda algum desastre.








Nenhum comentário:

Postar um comentário