terça-feira, 30 de janeiro de 2024

LIMITE

É no porvir que a vida existe,
 onde o mundo acontece, 
sempre como promessa 
que se renova e persiste
através do esvair dos dias
entre alegrias e melancolias.

Mesmo que nada seja para sempre,
 que não exista saída,
e seja inútil a existência.

Afinal,  a vida é para ser superada,
Para alcançar seu limite,
na plena realização do nada.

É no porvir que a vida existe
sem nunca saber de si mesma.

domingo, 28 de janeiro de 2024

O ÚLTIMO DIA DA MINHA VIDA

O último dia da minha vida
será  tão banal
quanto qualquer outro dia da minha vida.
Tudo nele há de ser igual a hoje
até o incerto instante do meu suspiro final.

O último dia da minha vida
será um dia qualquer do mundo
onde não se deve depositar espectativas
nem esperar por qualquer juízo final.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

TODOS OS ANOS


Todos os anos
meu passado pesa
como uma grande pedra
 sobre minha  cabeça,

Todos os anos
 tudo menos me importa
nas distâncias que crescem
entre o fato e a lembrança.

Todos os anos 
alguém que me importa morre
enquanto o tempo corre
contra a eternidade .

Todos os anos
Mais indiferente me vejo
diante do calendário.
Mas é sempre anti véspera
de alguma  iminente catástrofe.












terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A VIDA É NADA

É bobagem esperar da vida
 qualquer coisa diferente 
do indigesto silêncio 
de um final medíocre.

 Afinal, a vida não é um espetáculo.
 Não é grande coisa. 
No fundo, ela não passa, 
de uma condição medíocre da matéria
 que se faz e refaz
 nas infinitas variações do nada.

domingo, 21 de janeiro de 2024

O SUPREMO SILÊNCIO

Em tudo que há 
existe um grande silêncio.
Ele impregna todas as coisas vivas e inanimadas,
confundindo-se com a escuridão do  universo.

Assim, o mundo, a natureza,
toda matéria,
acontece dentro do corpo,
quase infinito, deste silêncio.

Ele  envolve,
 consome, cala,
e reduz a nada todo complexo edifício de palavras
que dedicamos a vida.

Trata-se de um silêncio absoluto, onipotente, onipresente,
e indiferente ao sopro, ao som, 
e ao verbo.

Um silêncio que se  estende do  início  ao fim de tudo.

Um atemporal, 
insuperável,
 e quase insuportável silêncio,
que jamais será ultrapassado
pela soma de tudo que já foi ou ainda pode ser dito ou escrito
ao longo de todos os séculos.

Este silêncio é, simplesmente,
morte.
Ele contém tudo aquilo que nos conduz além ,
que ultrapassa a consciência, a inteligência e a percepção.
Ele é a intuição do além do humano,
uma vertigem de nada.








quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

SOBRE O CREPÚSCULO DA EXISTÊNCIA

Depois de certa idade
o que importa é esquecer
todos os truques da civilização.

Nos cabe, então,
desaprender a pensar,
querer , escrever,
acreditar, sentir,
e sonhar.

É preciso jogar fora certezas,
lembranças, identidades e convicções.

Depois se perder no mato,
despir-se de toda ambição,
vaidade e pretenção.

Alcançada a fragilidade
das mais pesadas idades,
tudo que importa
é edificar-se para a morte,
abandonar-se a própria sorte,
desertar-se, despedaçar-se
contra o tempo que fica e que passa.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

FINITUDE E TEMPO VIVIDO

Resta hoje, quase nada,
do mundo no qual cresci.
Mas, teimosamente, ainda percebo dele, 
alguns vestígios.
Certas  desbotadas e inúteis lembranças,
que sem pudor me assombram
tentando acordar alguma esperança.

Mesmo que os lugares tenham mudado,
que as pessoas estejam  mortas
ou não me reconheçam,
e meus atos não remetam ao passado
de nenhum presente,
tais lembranças reivindicam
certa espectativa de eternidade.

Mas resta hoje,
quase nada de mim,
das coisas que vivi,
e, saber o ontem como memória,
não salvará do nada 
minha inútil existência,
minhas debilitadas lembranças.


domingo, 7 de janeiro de 2024

DEPOIS DO FIM


Depois do fim,
 resta apenas  uma ausência,
um transparente silêncio,
que já não cabe no tempo
e transcende a lembrança e
a saudade
que legamos aos nossos sobreviventes.

Depois do fim,
tudo é passado,
resolvido e apagado,
sem qualquer conclusão
ou dilema de consciência.

Tudo se interrompe,
tudo é o vazio da liberdade
do eterno inacabamento
 do que deixou de ser,
do que não mais pode ser,
quando já não importa o que foi.







sábado, 6 de janeiro de 2024

POEMA QUASE EXISTÊNCIALISTA


Não sei se existo de fato
ou se sou só uma ilusão
dentro do sonho da matéria,
que se faz e refaz por toda parte
ignorando este momento breve 
em que estou, no qual sou a duração de um corpo,
ou a auto consciência que me define  a vida, a morte e as coisas finitas
como o nascer e morrer de um dia
ou a mutação constante da matéria.

Só sei que não passo deste momento de potência e existência 
perdido dentro de uma morte impessoal e infinita.

Pouco me importam 
 teorias sobre qualquer suposto sentido da vida.
A morte ignora o tempo,
a consciência
e demonstra que a vida
não define a matéria.