quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A MORTE NOSSA DE CADA DIA

Todos os dias
Acordo
Com um gosto de morte
Entre os dentes.
Sei que em cada manhã
Sou um pouco menos
Do que fui ontem,
Que me desfaço no tempo
Sem sentir o passar trágico
De todas as coisas
Que me definem a existência
Nesta grande piada
Que chamam de vida.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

MANHÃ MORTA

O  dia não acordou
Com o sol,
Moribundo  caiu do tempo
Através de uma manhã cinzenta
Onde as paisagens
Choravam a existência
E todos dormiam
Como mortos.

domingo, 1 de dezembro de 2013

OBITUÁRIO



Não havia muito
O que fazer ou esperar.
Restava-nos apenas aguardar
A trágica confirmação
Do fim do tempo de alguém,
Do vazio aberto naquela manhã
No coração de todos nós
Através do silêncio dele...
O dia tornou-se irreal
Na embriaguez do luto
E na reafirmação do ridículo
Da condição humana.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ANTECIPAÇÕES DA MORTE

A morte concreta ganha diversas antecipações ao longo de uma biografia.
Estamos sempre acumulando mudanças e diluídas rupturas, nos deixando  para trás.
A vida de agora nunca é como era a cerca de alguns anos. Muitas coisas mudaram pelo simples devir das coisas sem que você se desse consciência do processo.
A economia destas mudanças e a consequente sucessão de cenários vitais  é uma questão crucial para qualquer codificação da vida cotidiana.
Arbitrariamente, as tomo aqui como antecipações da morte por  personificarem brandas rupturas que parecem nos conduzir a algum momento vital e significativo de nossa trajetória de vida. Há um significado específico para tal momento na peculiaridade da história pessoal  de cada indivíduo na experiência da perenidade de si mesmo.

O GRANDE SILÊNCIO




Não há escolha. Estamos condenados a seguir pelas gramáticas da  existência, inventando a vida, até o definitivo arrebatamento do grande silêncio.

Não faz diferença se nos definimos felizes ou infelizes com nossas experiências, afetos e definições. Enfrentamos o Grande Silêncio da mesma maneira.
De certa forma, ele é a origem de todos os discursos possíveis.  

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

BILHETE DE UM DESVAIRADO

Desescreveria, se pudesse, as linhas tortas da minha vida, para inventar-me em outras narrativas, onde sonhos e aventuras superassem a melancolia, o tedio dos dias e essa vontade rouca de ir além de tudo que me define hoje a existência.

Não falo, entretanto, de qualquer falácia de felicidade, de qualquer busca impossível por um bem estar pessoal que transcenda o mal estar do mundo atual. Falo apenas da vontade de que tudo fosse diferente, de viver outros dilemas, testar-me com outros problemas que não fossem aqueles dolorosamente ridículos que me impôs o infortúnio e o destino .

Sim, tenho febre de diferenças, vontade de mudanças. Mas não antecipo as mudanças que me fariam sorrir sem um travo de desconforto. Não sei que outros mundos possíveis me fariam outro ou que fatos me livrariam finalmente de mim mesmo. Admito não ter na língua se quer um pedaço desta resposta.
 
Por isso joguei-me as ruas hoje sem um pingo de propósitos mundanos. Decidi-me a cair fundo no cotidiano do mundo. Deixar-me levar pela embriaguez mais delirante depois de quebrar o juízo e obrigações pessoais.

Estou agora saindo... Saindo da vida como até agora conheci e vivi. Muito provavelmente, aqueles que me conhecem e frequentam diariamente, não mais terão noticias dos meus caminhos. Preservarei  meu destino para que ninguém tente, em patético gesto de piedade, salvar-me de mim mesmo.

Contentem-se todos, portanto, com este pequeno bilhete de adeus onde espalho em ordinário papel minhas ralas justificativas.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A CRIANÇA SEM MORTE



Para aquela criança a morte simplesmente não existia. Os mortos eram para ela pessoas que   viravam as costas as rotinas, a vida social e obrigações  de todo tipo para serem livres. Por isso não eram mais vistas.

A quem lhe questionasse sobre cadáveres e túmulos ela simplesmente respondia que tudo aquilo não passava de fingimento, uma encenação para que ninguém soubesse a verdade.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

MORTE E VIDA

A morte é definida por nossas ausências, por nossas carências e fragilidades. Por tudo aquilo que de algum modo desdiz nossa vontade, nossa capacidade de afirmar-se no mundo como subjetividade.
As representações da morte são também representações da vida, construções coletivas  que buscam dar conta do ilegível da existência, de suas sombras que nos perturbam cotidianamente.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SOBRE O EFÊMERO E A INTENSIDADE DAS COISAS

Poucos são capazes de suportar a intensidade das coisas e dos atos até o ponto de levar a si mesmo as últimas consequências, de apagar a morte e a sorte, superando duvidas, vendo  cada dia como se fosse o último sob o signo da urgência das coisas.
Este é  uma das melhores formas de conduzir a bom termo os  desafios da  de existência em seus labirintos cotidianos.
Afinal, tudo é efêmero ao ponto de na superficialidade de tudo buscarmos o mais que profundo da condição humana.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

QUASE ADEUS

Talvez a morte
Cale o tempo
E desfaça
Todo fato consumado.

Talvez eu me desfaça
Dos meus caminhos
E me esconda de vez
Na mudez do álbum de retrato.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

MEMÓRIAS MORTAS

Faz alguns anos
Que estive vivo,
Que me senti infinito
No sentimento alegre
Das coisas.
Faz muito tempo
Que existi
Entre as pessoas,
Que construí alegrias
E lembranças.
Faz muito tempo
Que me perdi
Da existência dos outros...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O GRANDE VAZIO

O vazio da verdade,
O vazio da linguagem
E do interprete.

O vazio do silêncio,
A agonia do sujeito,
Do Eu desfeito
Entre as ruinas do Ser.

O vazio,
Pura e simplesmente,
Onde meu nome some
No anonimato do rosto
Enterrado em multidões...

POSTERIDADE

Somos todos
Prisioneiros
Do olhar do outro,
Pouco importa
Aquilo que deveras
Nos define o intimo...

Por isso
Viver é uma forma
De se construir
A própria morte,
A forma como
Seremos esquecidos
Ou lembrados.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

ALÉM DE TODO ANIVERSÁRIO



O dia do meu nascimento
Perdeu-se no tempo;
Muitos que o celebravam
Hoje estão mortos
E aqueles poucos
Que dele se lembram
Já não me reconhecem mais.
Vivo do beber o futuro
Para embriagar passados
Até  o porre definitivo
De toda idéia de aniversário...

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O DRAMA DO MORIBUNDO

Calado e sem perspectivas
Ele seguia sereno
Em direção ao nada
Na prisão daquele leito.
Não construía falsas esperanças,
Não aguardava a visita
De qualquer amigo.

Apenas abraçava sua dor
Deitado em sua solidão
Divorciando-se da existência.

O passado pesava tanto nos olhos
Que nem percebia
Que o futuro
Fazia as malas
No quarto ao lado
E que o silêncio
Adentrava a sala...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

ULTIMA IDADE



Todos os bons momentos
Morreram com o passado
Enquanto o futuro
Parece ficar
Cada vez mais distante.
É o presente feito apenas
Do significado das coisas perdidas
E vividas que contemplo frágil
Enquanto minha sombra
Geme e cresce.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

MORRENDO

A melancolia daquela noite
Doía nos ossos.
Sabia que estava agora
Diante de meu mais intimo
FIM...
As horas jamais pareceram
Tão escuras.
Mas nada havia a fazer
A não ser esperar
E esperar
Pelo ultimo suspiro
Da minha agonia....


A MORTE E AS MORTES

A morte é coisa indeterminada.
Afinal, 

Pode-se dizer  que a melancolia,
O silêncio,

A saudade
E todas as variações abstratas da dor
São em si uma espécie de morte.


As vezes vivemos tão alheios
A vida
Que habitamos qualquer virtual
Modalidade de morrer.


Sim, há mais mortes possíveis
Do que aquela que nos desfaz
Da realidade...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MORTE E PALAVRA

A morte está condenada a ser para o indivíduo um profundo silêncio gramatical, uma questão que transcende a capacidade humana de representar e codificar sua experiência de mundo.

Quem fala de sua própria morte fala na verdade sobre sua própria existência, normalmente formula o discurso de sua angustia diante do não sentido da condição humana. 

Mas por mais significativos que sejam seus enunciados, trata-se desde sempre de um discurso de vida. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

MORRER:EIS A QUESTÃO!

A morte é a única verdadeira questão,
O único problema
E ultimo emblema da razão.


A morte é tudo aquilo
Que a vida nos diz e faz
A cada segundo
Até o limite do possível de todas as coisas...