sábado, 31 de outubro de 2015

DIA DOS MORTOS






Lembro meus mortos no dia de finados sem imagina-los em qualquer outra parte além do abstrato da minha lembrança.  Nada me permite lembra-los de outra forma. Os mortos estão mortos. Não existe céu ou inferno. Viver não passa de um exercício estúpido, ingrato, e finito. Isso é tudo.

NÃO SE LEVE A SÉRIO

As pessoas estão sempre falando e buscando coisas que dão valor a vida. Seja religião, arte, conhecimento, amor ou , simplesmente, sobre a  falácia de buscar a si mesmo. Tentam de todas as formas fugir a incomoda consciência do vazio e da falta de sentido que define nossa condição humana.

Mas o que é a vida para nos animais humanos do que um instante insignificante de eternidade? A vida não é grande coisa. E a morte não existe para os mortos. È  apenas seu retorno a não existência  a qual sempre pertenceram. Existir não passa de um acidente.


Isso não deve nos tornar infelizes e melancólicos.  Apenas nos  ajuda a perceber o descabimento de nos levarmos tão a sério e sonharmos virtudes onde não há nada além de um absurdo acaso.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

SONHO MORTO

Escrevi meus sonhos em uma parede imunda.
A chuva apagou seu registro
e o tempo levou o onírico, o dia
e o infinito
para o fundo do abismo
da minha mais obscura finitude.
Não me lembro daquele sonho,
nem sei mais a realidade

que me define a vida.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

TEMPO E AGONIA

Neste lugar onde piso
quantas memórias,
quanta vida perdida,
desaparecida na paisagem
em ruínas.

Muitos por aqui passaram,
habitaram dias e rotinas
e agora...
são menos que o nada.

Onde fica o passado que o presente abandona?
Sinto a agonia de quem jamais será novamente.
Sou o simples resto de alguns passados
neste estar constantemente em agonia
e vazio do tempo presente.

Alguém, por favor,
me diga como parar o tempo

antes que me seja tarde demais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A FILOSOFIA DAS PEDRAS

Posso escutar as pedras,
seus gritos absurdos e antigos,
sua raiva inerte
contra o tempo e a existência.
Posso ser a revolta dura da natureza.
Posso gritar contra a vida.
Não tenho limites
e estou  acima das oposições,
do bem e do mal,
das falácias do universal.
Sou o  dissonante do grito
que rasga  como navalha
a carne da realidade.
Sou a finitude da pedra,
o absurdo personificado
sob os encantos da morte

como senhora do tempo.

domingo, 25 de outubro de 2015

A VIDA NÃO TEM SENTIDO

O sentido da vida é não ter sentido....
Quem nunca sentiu isso?
No final você não sai vivo dela
e isso não faz a mínima diferença.
Pois vamos do nada ao nada,
De um silêncio a outro
E nem percebemos
Que o tempo todo

Estamos apenas morrendo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A BANALIDADE DA MINHA MORTE

Entre os vazios estendidos de um lado e outro
do meu destino
contemplo com realismo
o inevitável fim do caminho,
o silencio sobre mim instalado
e a indiferença do mundo
diante do meu cadáver.
Mal sabiam que eu vivia,
porque, então se importariam todos

com a banalidade da minha morte?

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ESPECULAÇÕES SOBRE A VIDA

Afinal, o que é uma vida inteira?
Quanto dura?
O que a faz inteira?
A existência, até onde sei,
é provisória,
constantemente inacabada,
um jogo impreciso entre sentido
e não sentido.
Um debater-se constante
contra o vazio,

que se vê, por fim, abatido pelo silêncio.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SENHORA DO TEMPO



Não há razão que justifique a vida.
ela é acidental, ocasional
e insignificante.
Apenas respire
enquanto você pode.
Pois a morte é senhora do tempo.




terça-feira, 20 de outubro de 2015

A FINITUDE E IDENTIDADE

Só existo onde fico em silêncio
pois onde sou em palavras
apenas me faço banal e sem rosto
naquilo que me torna mundo.
Meu ideal é não pertencer
a coisas ou pessoas,
não viver de nenhuma moral
ou ideologia.
Não passo de um provisório arranjo
de partículas.
No meu pós futuro
quero ser lembrado pela finitude
que desde sempre me definiu.
quanto me esqueço

em um canto qualquer  da casa.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

SOBRE O TEMPO QUE PASSA

Enquanto os dias apodrecem
as noites ganham a forma
de sonhos arcaicos e vazios
que já não dizem nada
as urgências do amanhã.

O tempo passa mais que  depressa
entre os lapsos da madrugada.
Tropeça nas urgências
dos últimos colapsos
do vir a ser,
Exige respostas e ações imediatas.

A manhã nasce pesada,
urgente e apavorada.
Tento me abrigar sob os escombros
de uma esperança.
Mas já é tarde demais.

Gostaria de voltar atrás,
recomeçar do zero.
Mas já passa da hora
das apostas.

seguir em frente era tudo que restava. 

sábado, 17 de outubro de 2015

ROTINA DE HOSPITAL

Tudo que eu queria era voltar para casa.
Não gostava do hospital.
Parecia uma cadeia onde se joga
Os deserdados da existência.
Por lá  viver perde suas cores.
Alguns morrer e outros agonizam.
Os médicos só sabem administrar doenças
E os enfermeiros pouca paciência tem com os doentes.
Todo hospital é um lugar feio e angustiante.
A esperança morre aos poucos
Entrevada em seus leitos.


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O PASSAR DAS COISAS

As coisas mudam dia após dia, mesmo quando a gente não percebe a gradativa decomposição dos fatos, o desfazer e refazer constante da existência em seus cenários físicos e paisagens humanas. Tudo vai se perdendo, se acabando. Nada é eterno.

É como se a existência, em sua totalidade, fosse uma agonia universal a fazer sofrer todas as coisas animadas  ou não. Talvez uma arvore ou uma pedra resistam mais as auguras do tempo. Mas ao final, também se perderão da existência.


Faz algumas horas a manhã era viva, agora a noite a todos nos envolve.  

terça-feira, 13 de outubro de 2015

EM DEFESA DA EUTANÁSIA

Sei que tenho uma vida a perder
Que se acaba  todos os dias.
Isso não faz sentido.
Mas assim funciona a realidade.
Então não me questionem
Quando  eu tentar contrariar os atos arbitrários
De nossa mera existência,
Pular em abismos
E levar as últimas consequências
O radical de minhas mais intimas vaidades.
Viver é pouco
E sou mais do que um louco ou um religioso.
Eu determino  e sei meu destino.
Defendo em casos extremos a beleza de uma eutanásia

Contra a lógica de ser uma mera sucata humana.

A MORTE COMO ELA É

Segundo certa tradição, a palavra cadáver originou-se da expressão latina “carne data vermibus” (carne dada aos vermes). Mas não se trata de uma genealogia muito confiável talvez se trate apenas de uma invenção tardia . A rigor cadáver significa apenas corpo morto, obsoleto. Assim se define pela ausência de algo que é a vida. Isto não significa que o corpo morto  é um “corpo sem alma”, sem força vital ou qualquer nome que o valha para melhor definir ao leitor a metafisica de uma essência individual não material. é muito mais natural pensa-lo como uma maquina quebrada.

A morte é o ponto final da vida. Apenas isto. É quando o cérebro para irreversivelmente de funcionar e o individuo, consequentemente, deixa de existir. Tudo que resta é um corpo inútil. Tal imagem parece inadmissível para os adeptos de crenças metafísicas que rejeitam, por simples desespero, a insignificância da vida do individuo frente  a vida da espécie. Mas nem todas as superstições do mundo são suficientes para consola-los quando perdem um ente querido ou quando se veem diante de risco de morte. Gostem ou não da ideia, a morte não pode ser domesticada por suas crenças ou ritos funcionários. Diante dela, nada mais faz diferença ...


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O ÚLTIMO SUSPIRO


Ninguém esperava por mim,
Como de costume.
Meu corpo exibia as marcas
Das lutas diárias,
Sofria os golpes do tempo.
Já não era o mesmo.
Deixava de ser qualquer coisa.
Eu via o sol se por
E não esperava a noite.
Afundava nos restos
Das minhas batalhas.

Finalmente havia me vencido.

SOBRE MORRER E DANÇAR


Morrer é um desencontro com a vida que você mal percebe que acontece a cada minuto do seu dia. Só saberá tarde demais que se perdia aos poucos de si mesmo a cada dia.

Quando as palavras fugirem a gramática será tarde demais para dizer seu desencanto, sua agonia serena de ter estado entre os vivos. Então brinda a noite que te devora. Caminha pelo jardim escuro.


Embriaga-te de vinho e dança. Dançar talvez seja tudo que nos resta...

domingo, 11 de outubro de 2015

LEMBRANÇAS DE JUVENTUDE

Sempre que lembro  minha juventude acabo me perguntando como, afinal, tudo chegou neste ponto. Antigamente eu era mais saudável e vivia protegido por ilusões sobre um mundo que dava certo e uma vida que era divertida. Agora, meu corpo já não é mesmo, muitas das pessoas que amei estão mortas e tudo parece mais complicado. Acho que é isso que chamam de maturidade.

Por isso tenho pena dos jovens. Eles ainda não fazem a mínima ideia do quanto a vida é injusta, de tudo aquilo que vão perder, do quanto sua juventude será estraçalhada pelo mero acontecer das coisas e no final, tudo que se pode fazer, é torcer para que o “resto” de suas vidas seja suportável.


PONTO MORTO

Gostava de fins de semana e feriados para ficar trancado dentro de casa  enterrado na cama. Fazia de conta que não havia um  mundo lá fora. Era suficiente ficar ali deitado com meus pensamentos sentindo o passar do tempo e esperando a morte chegar de alguma forma.No fundo isso era tudo que nos permitia a vida... esperar a morte chegar enquanto fazemos coisas sem importância.

Nada dura para sempre... Na maior parte do tempo apenas acumulamos tempo morto em nossos mecânicos e cotidianos atos de simples sobrevivência. Por isso vivia de pequenas desesperanças.


sábado, 10 de outubro de 2015

CONDIÇÃO HUMANA E FINITUDE

O desmedido de nossa fragilidade humana é uma constatação que decora o envelhecimento. É preciso perder pessoas, seu próprio mundo e sentir-se inteiramente um corpo cheio de limites e dores para entender o quanto a vida é uma aventura ingrata e a existência imperfeita e errática.

Não cultivo ilusões sobre o futuro. Ele não passa de uma abstrata representação do devir e do desabrigo ao qual estamos condenados. Apenas a morte define o futuro. Logo, ele me inquieta mais do que entusiasma. O futuro não é um caminho, é um abismo onde aprendemos a queda.


O fim esclarece a vida através da qual sujamos o existir da espécie.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O VAZIO DOS MEUS EUS

Todo o meu passado se resume a algumas poucas lembranças,
a associações vagas de situações e coisas
que me permitem ter apenas
uma rasa noção de mim mesmo.
Tento seguir meus próprios rastros,
chegar a alguma conclusão sobre o vivido.
Mas há um de mim para cada circunstância.
Sou a sobra de muitos eus,

o resto de algumas infâncias.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

VAMOS TODOS MORRER UM DIA....

Estamos todos em busca de uma coisa tosca que não existe. Dão o nome de futuro. Mas o único futuro é a morte. Estou de saco cheio das pessoas que vivem para o absurdo de suas vidas como se ela fizesse sentido, como se fosse importante. Isso torna muita gente insuportável. A maioria das pessoas vivem  como quem não morrem. Que vidinha estúpida elas realizam.
Que gente tosca sustenta o mundo e a realidade?

Da minha parte, apenas respiro enquanto me é possível.

OS MORTOS QUE MORAM EM MIM

Aquela pessoa ali fora
Lembrou algum dos meus mortos.
Não me perguntem porque
Ou como.
Apenas achei familiar o seu rosto,
Seu jeito de olhar.
Algum eco de passado
Gritou ali
Rasgando uma saudade dentro de mim.
Sei que é tolice.
Isso passa.
Mas lembro sempre dos mortos
Que vivem dentro de mim.


terça-feira, 6 de outubro de 2015

O TRÁGICO DESTINO DE UMA FLOR

Um dia serei como uma flor que caiu do galho
Indiferente ao jardim.
Mas  ainda haverão plantas e flores.
Ninguém sentirá falta de mim.
Não faz diferença
Se o outono é a morte da primavera.
O que importa é que sempre teremos primaveras.
Além disso, uma flor
É igual a todas as flores.

É muito triste ser uma flor.

domingo, 4 de outubro de 2015

TUDO ESTÁ SEMPRE DESAPARECENDO

Em termos temporais a mudança significa pura e simplesmente que algo que existia já não existe mais.  E tal transição da realidade ao virtual definido pela memória de algo que já não existe é a mais angustiante percepção que temos da realidade.
Estamos acumulando ruínas enquanto sofremos a existência e a finitude como  fundamento elementar de nossa própria condição humana.

Tudo está desaparecendo o tempo todo. Exatamente enquanto escrevo estas palavras agora um pouco de mim se esvai.


O fato de tudo isso ser algo obvio, não nos impede de viver nossas vidas como se fossemos eternos, como se nossos atos se perpetuassem e , de algum modo, todos os nossos eitos possuíssem pungente realidade. Mas isso não é verdade.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

INTIMA DESCONTRUÇÃO

As certezas vão diminuindo com o avançar da idade e vou me afastando das minhas convicções mais íntimas. Sinto que as rotinas vão se tornando transparentes e irreais,  que pouco importo a realidade, que o dia seguinte não faz diferença.

Não me levem a sério, não me considerem. Sou apenas mais uma vida que passa. Não tenho nada a acrescentar a esta vertiginosa confusão humana que nos define.

Apenas sigo adiante carente de mim mesmo...