quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A MORTE NO HORIZONTE


Antes mesmo do fim eu sabia o vazio de tudo aquilo. Falávamos banalidades sobre o sofrer humano, sobre saúde, doença, envelhecimento e felicidade, sem nos darmos conta da essencial necessidade de bem viver cada momento. Isso  é o mesmo que tentar superar a constante tendência ao tédio, a ansiedade incomoda e o desanimo com a rotina. Caso não fosse a morte, trataríamos a existência como ela é: um acontecer enfadonho de coisas sem o mínimo cabimento.


Mas a morte existe... E só nos damos conta de como isso nos afeta quando confrontados com sua realidade através da enfermidade ou o óbito de um ente querido. No mais tentamos nos consolar com ingênuas convicções metafísicas. Mas a morte continua ali no horizonte  desafiando todas as nossas convicções ou opiniões sobre elas.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

OS ECOS DE UMA EXISTÊNCIA

Por quanto tempo depois da minha morte poderão ser ouvidos os ecos da minha existência? Até quando alguém saberá de mim como lembrança e vaga memória?

Talvez por muito pouco tempo, me diz a intuição e o acaso dada a absoluta insignificância de uma vida humana. Poderia ser eu um Shakespeare, ainda não seria mesmo assim nada além  de uma vaga marca de quem fui um dia.  Não se pode vencer a morte. Não sem sacrificar em hipótese a própria humanidade.
E a  eternidade é triste, um pesadelo que não nos vale o desejo.

Tudo que tenho a dizer sobre isso é simples. Sou neste tempo e neste espaço o que me permiti o aqui e agora. Em cada molécula  carrego toda a história da humanidade e, entretanto, não  posso ter a pretensão de ser qualquer coisa que transcenda o nada.


ESPERANDO O FUTURO

Muita coisa mudou enquanto eu esperava o futuro.
O tempo agora já não tem o mesmo gosto
E as soluções antigas não funcionam mais.
A idade também pesa nos ombros.
Boa parte da minha existência é fato consumado.
Não vivo agora de muitas novidades.
Muitas pessoas nunca vi de novo.
A vida segue... mas pouco me importa.
Já é tarde demais para viver de esperanças.

Diante de mim existe apenas o hoje.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O QUE REALMENTE IMPORTA?

O que realmente importa?
A vida é uma agonia alegre,
Um gritar no tempo
Todos os vazios que norteiam
Cada acontecimento.
Somos feitos de vento
E muitos silêncios.
Viver não nos diz a vida,
Apenas realiza a existência

Medíocre e urgente de todos os dias.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

ESCREVER SOBRE A MORTE

Escrever sobre a morte é variar infinitamente sobre o mesmo tema de modo monótono  e meio paranoico. É como tentar correr e não sair do lugar. Sobre este assunto não há muito  para onde ir, nenhum raciocínio  a ser desenvolvido. O dizer da morte é transfigurar a vida nas metamorfoses de um instante de pedra.


Morrer é simples... Mas pensar na morte é complexo. Nos conduz a inercias de pensamento  e a silêncios de existência. Afinal, o que justifica o nosso cotidiano acontecer no mundo se estamos fadados ao desaparecimento? 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

O PESO DA FINITUDE

É simples demais estar morto.
Apenas nos tornamos passado e lembrança.
Depois de algum tempo, não somos nem mesmo isso ...
O complexo é carregar o peso de uma auto consciência pelo tempo
Atormentado pela perenidade de toda experiência possível do mundo,
Acumular perdas e despedidas,
Aceitar que tudo isso é absolutamente natural,
Tão quanto banal  será o dia da sua morte.
Mas não me procurem entender os mais jovens.
A menos que tenham um câncer .
Só quero dizer a mais obvia das constatações:
Nada que você viver terá real importância.
Lembro-me disso todos os dias e o tempo todo
E é como se sempre fosse o mesmo dia...
Durante todos os anos de qualquer outra vida

Enterrada na provisória inercia da minha existência.

UM POUCO DE PREGUIÇA

Não vivo mais de  paixões.
Sou movido por algumas inercias,
Do coração batendo no peito
Enquanto respiro sem nenhum motivo.

Os dias são todos iguais
E prossigo indiferente ao nascer do sol.

Apenas os jovens sabem da vida

Na  ignorância do findar das coisas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

FIM DA VIDA

Deixem-me dormir
Enquanto passa o tempo.
Tudo o que me resta  é o silêncio
Minando todos os atos do meu passado.

Cheguei à  idade dos imprestáveis,
Dos que já não servem para a existência
Devido a perda absoluta de qualquer traço de juventude.
Atingi o derradeiro estágio de sucata humana
E tudo que me resta é o desaparecimento.



terça-feira, 16 de agosto de 2016

NARCISISMO TRÁGICO

Ninguém define os vazios da minha realidade.
Eu mesmo  estabeleço minhas melancolias
Sem precisar  de qualquer um para inspirar tristezas.
Os outros que me importavam já estão todos mortos.
Já tenho dentro de mim todas as minhas dores.
Sou indiferente ao mundo,
Avesso a razão das coisas e a  todas as opiniões possíveis.

Me importo apenas com o fardo dos meus dias. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

SILÊNCIO IMAGINÁRIO

Tenho estado ali estático
A um passo atrás de todos os ontens
Durante  quase uma  eternidade.
Todas as esperanças já passaram por mim
E já vi tudo acontecer.
Agora imóvel  , definitivo
E indiferente,
Me rendo ao sono e a paz
Dos desacontecimentos.
Em tudo deixei de ser
E já não sei se quer destas palavras

Que nunca serão escritas...

O PASSADO NO QUAL MORAMOS

O passado não é um tempo,
Mas um lugar gravado dentro da gente,
Onde habitam nossas melhores versões
Da existência.

Quem tem boas lembranças
Enterra em si mesmo um tesouro,
Sabe de pessoas que valem por um mundo inteiro
E habitam agora o passivo de fotografias,
Aprende a correr contra o mundo
Através do mais concreto de suas ilusões,
Reaprende constantemente a si mesmo
Como resto de  infância.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

UM POUCO DE MELANCOLIA

Falavam agora a pouco do hoje.
Mas para mim tudo que acontece
Se faz prematuro passado,
Silêncio e indeterminação.

Sempre é tarde demais
E o mundo corre na contramão dos fatos.
Nada  é mais importante
Do que o tédio  que nos separa
Enquanto a vida passa
E alguns silêncios nos vestem o rosto.

Vamos mais uma vez dizer adeus.

Não temos tempo para a felicidade.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

NÃO ME DEIXEM MORRER

Meu derradeiro texto será uma página em branco
Onde espero que vejam
Tudo aquilo que o tempo não me permitiu dizer.
Se a morte é ausência, quero que meus atos abortados gritem,
Que perturbem a vida até que desmorone toda a eternidade.
Não deixem que eu me torne silêncio,
Nem façam de mim um pálido e inútil fantasma.
Bebam o meu sangue;
Vivam meu desespero, minhas vontades e meus vazios.

Um dia seremos  todos o mesmo silêncio....

A VIDA SEGUE APESAR DA GENTE

Entre silêncios e limites
Aprendi a falar pouco,
Querer quase nada
E não me iludir com verdades.

Sei a perenidade de tudo aquilo que existe
E a desrazão das coisas.
A vida não faz sentido.
Não passa de um acidente que deu certo
Ou do erro que vingou.

Hoje eu existo,
Amanhã serei esquecido
E tudo que fui será novamente
Através de um outro.
A vida sempre segue,

Apesar da gente.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO

Sempre é preciso esquecer qualquer coisa,
Abandonar o passado em alguma parte do caminho
E seguir em frente como se o ontem fosse apenas um sonho antigo.
Não pelas promessas do futuro,
Mas pelo simples fato de que tudo definha e passa
E a vida continua até o precipício.
Então não leve nada demasiadamente a sério,
Nem se apegue a falsas certezas ou seguranças.
Esqueça de uma vez tudo aquilo que deve ser esquecido.

Selecione suas lembranças.

INSTABILIDADE

Eu me sei na relatividade da morte,
No passar do tempo através de mim mesmo,
Desinventando a infância e a velhice.

Eu me sei como irregularidade,
Como indeterminação e incerteza,
No provisório do meu sentimento das coisas.
Pouco imagino o futuro.
Apenas sei os limites do agora

Como horizonte de minha própria existência.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

VIVER É MORRER




Considerando que a morte é ausência e silêncio,  de modo bem amplo, podemos tomar como uma situação de morte toda circunstancia onde somos impedidos de  agir, onde o silêncio fala mais do que os atos e fatos.

Começamos a morrer quando nos surpreendemos impotentes e estagnados,
Quando já não faz diferença o dia seguinte.
Morrer é um processo que se inicia no mais profundo da própria vida.


Não se admirem se algum dia for nitidamente claro o quanto é mais fácil  aceitar a morte do que a própria vida.

DIALÉTICA MORTAL

Enquanto a vida some lá fora
E eu me desfaço aqui dentro
Você simplesmente nasce.

Quanta ironia existe
Em acompanhar seus dias
Enquanto vivo  em noites.
Mas assim é o tempo
Em seu sarcasmo e silêncio.
A existência é contraste,

Dialética  ...

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

DEPOIS DOS QUARENTA

“Em  sentido mais amplo, pode-se dizer também que os primeiros quarenta anos da vida fornecem o texto, e os trinta seguintes o comentário que nos ensina o verdadeiro e a coesão do texto, bem como sua moral e todas as suas sutilezas.”
Arthur Schopenhauer in Aforismos para a sabedoria da vida


Depois dos quarenta anos  nos surpreendemos prisioneiros de nossas realizações cristalizadas ou pela ausência delas. O leque de opções  se estreita e geralmente nos conformamos a persona que nos tornamos ao longo dos anos e com suas consequências biográficas. Começamos a envelhecer e nos tornarmos obsoletos sem se quer se dar conta disso. Os dias já não passam da mesma forma, o passado se torna cada vez mais  decisivo do que qualquer miragem de futuro.  Torna-se decisivo aquilo que conservamos  e não as mudanças do dia a dia. Somos , assim, reduzidos a uma existência crua, sem o adorno dos desejos e sonhos que tanto inspira a juventude.