quarta-feira, 31 de maio de 2017

SOBRE A FRAGILIDADE DA EXISTÊNCIA

Tenho medo de repentinas reviravoltas físicas, abalos de saúde e fragilidade do corpo.  Hoje mesmo morreu um vizinho, ainda jovem vitima de um mal súbito. Também fiquei sabendo da morte de um conhecido em um acidente de transito. Tudo acontece tão de repente.  De uma hora para outra podemos perder todas as certezas da vida. Isso acontece mais frequentemente do que supomos.  È como uma realidade invisível relegada a rotina dos hospitais e necrotérios, uma verdade  que preferimos ignorar. Afinal, o que ganharíamos com esse reconhecimento da incerteza diária sobre a continuidade de nossas próprias vidas?

Mas estamos todos sujeitos ao risco de um repentino  sinistro. Mesmo que o dia de amanhã e o próximo final de semana pareçam uma  realidade concreta e certa. Talvez se considerássemos com mais cautela a fragilidade de nossa existência, fizéssemos cotidianamente opções diferentes, modificando alguns comportamentos e modo de apreender as coisas vividas.   Quem sabe?

Um pouco de incerteza e insegurança não faz mal a ninguém. No fundo trata-se apenas de uma pequena dose de realismo.


RASCUNHO

Não passo de um rascunho,
De um projeto de gente
Fadado ao inacabamento,
Ao insucesso e ao esquecimento.
Por isso, cansado de ser eu mesmo,
Me embriago da vida dos outros,
Contra as tantas vontades
Que dentro de mim se debatem
Sem soluções.
Sei que ao final serei derrotado
Pela finitude banal da existência
Consumando o rascunho
Que permanecerá por um tempo

Escrito na memória de poucos.

UMA VIDA PLENA

É impossível viver uma vida plena sem uma  boa dose de ócio.
É preciso ter tempo para se perder com bobagens,
Com o não fazer nada,
Até mergulhar de cabeça em algum bom devaneio.
É preciso jogar fora o relógio,
Os anos de faculdade
E aquele terno que quase nunca foi usado.
Uma vida plena exige vagabundagem,
Porres, por do sol
E um pouco de esquecimento e indiferença

Em relação ao mundo.

INDIGENTE

Nasceu, cresceu,
Envelheceu e morreu.
Não deixou filhos
Ou patrimônio.
Apenas algumas roupas e um punhado de contas.
Poucos souberam da sua morte.

Nem mesmo se tornou passado. 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

APROVEITE A VIDA

Realmente não dou grande importância a vida. Apenas aproveito cada momento de existência sem muitas expectativas. Sei que tudo que fui será reduzido a pó. Só posso viver o agora, acumulando passados, lembranças e um modo próprio de saber e experimentar as coisas, que desaparecerá comigo e, no fundo, talvez não seja muito exclusivo. Mas o traço comum de uma geração  a qual estou preso pelo acaso do nascimento.


A vida não é coisa para se dar importância. É uma experiência breve, efêmera. Apenas viva sem grandes questionamentos e becos sem saída. Cultive a inocência e a inconsequência de uma criança. Não vale a pena levar qualquer coisa demasiadamente a sério. Nem mesmo faz diferença se estou certo ou errado.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

APONTAMENTO NIILISTA

Tenho me perdido em meu próprio caminho,
Descoberto o lugar nenhum da vida
Como um indigente da existência.
As vezes brinco com a falta de sentido das coisas.
E me divirto com as verdades nas prateleiras do pensamento.
Mas no fundo apenas me espanto e me assombro
Com nossa comedia humana.
Sei que já é tarde demais para qualquer futuro.

O dia seguinte não significa mais nada.

O TRÁGICO DO NOSTÁLGICO

O passado alimenta o futuro.
Sei a existência através dos vivos e mortos
Que me povoam a memória
E assim frequentam os meus dias.
Vivo porque eles existem ou existiram.
Morro na medida em que a vida
Vai se tornando lembranças.
Um dia o futuro matará o passado
Explodindo o tempo.


quinta-feira, 18 de maio de 2017

O FRIO

O que subsiste sob o frio é um grande vazio existencial,
Uma duvida fundamental
Sobre o sentido da vida e a realidade do mundo
Onde todos os atos e objetivos humanos
Parecem demasiadamente frágeis e sem sentido.
Mas fomos todos educados para ignorar isso.

Real é apenas o incomunicável deste  frio...

segunda-feira, 15 de maio de 2017

MORRER CUSTA CARO

Um funeral custa tão caro
Que as vezes penso
Que seria mais adequado me enterrarem no quintal.
Para mim não faria qualquer diferença.
Minha morte é um evento privado
E não merece a solenidade de um funeral.
Além disso, detesto cemitérios.
O fim é o menor detalhe de uma vida.
Normalmente, é o que deve ser esquecido.


sábado, 13 de maio de 2017

TÉDIO EXISTENCIAL


A terra gira

Enquanto a vida passa

E a existência acontece

Através de banalidades.



O cotidiano segue em silêncio,

Raso e efêmero,

Tornando a vida um fardo

Através das pequenas coisas.



Tudo é tão descartável

Que o passado dura um segundo.

Não merecemos o tormento

De qualquer forma de eternidade.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

SOBRE A VIDA, A MORTE E A VIRTUDE DA INEXISTÊNCIA


Questiono se vida e morte formam de fato um par de opostos complementares tal como estabelecido  pelas codificações simbólicas da maioria das culturas. Afinal, uma pedra, por exemplo, não está viva   ou morta. Também não há  paralelismo possível entre a vida de um organismo unicelular e a vida de um organismo humano. Nos dois casos vida se refere a coisas definitivamente muito diferentes. Mas o conceito de morte se aplica sem qualquer contradição a ambos os casos.

Vida e morte são, portanto, conceitos abstratos para definir a matéria orgânica e seus estados. Morte é, em linhas gerais, mera ausência de vida, não apresentando um conteúdo próprio e independente em sua definição. Pode-se, portanto, dizer que é sempre da vida que nos ocupamos, mesmo quando falamos da morte.

Mas quando vinculamos a ideia de morte a de inexistência e nada, ampliamos seus significados e invertemos a relação entre os dois conceitos.  A vida é perene e frágil, enquanto o não existir uma constância quase absoluta que limita tudo aquilo que é. Quando falamos de vida e de morte nos referimos na verdade a Ser e Não Ser. Atribuir valor a um  estado em detrimento do outro é uma questão absolutamente irracional e subjetiva. Afinal, podemos tomar a vida como o inferno dos não nascidos. Mesmo que eles nunca possam saber disso.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

LEGADO DE UM INDIGENTE

Sempre considerei  a vida
um estado de permanente perplexidade.
Como é  frágil e delicada a existência
enquanto nos parece intensa e duradoura.
Sou fascinado por tal paradoxo
deste tudo que se resume em nada.

Sei que o valor da vida
é dado pela morte.
Pois a eternidade a tornaria banal,
tediosa e insuportável.

Vivo cultivando um espanto,
lidando com o susto
deste me perder
através dos dias e noites.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

ESQUEÇA A FELICIDADE

Acho que a felicidade é um pouco triste.
Afinal, não dura para sempre
E nunca é perfeita.
As pessoas deveriam questionar suas  expectativas,
Admitir que, no fundo, a felicidade
Não vale a pena como objetivo.
É mais importante viver a deriva
Através de cada segundo
no qual estamos sempre
Nos despedindo de nós mesmos

E condenados a incompletude. 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

HEDONISMO NIILISTA

Abraço a embriaguez deste instante
Como quem vive seus últimos momentos
E exige da vida
O impossível de uma existência inteira.
A morte é o único fim do mundo
Que irei conhecer.
O depois é a memória dos outros
Que não vale uma batida do meu coração.
Por isso quero tanto me afogar
Neste instante,

Antes que seja tarde demais .

quarta-feira, 3 de maio de 2017

MORTE, CONHECIMENTO E VERDADE

“O que é uma palavra? A figuração de um estímulo nervoso em sons. Mas concluir do estímulo nervoso uma causa fora de nós já é o resultado de uma aplicação falsa e ilegítima do princípio da razão.”
F. Nietzsche in  Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral

A demasiada confiança em enunciados e conceitos muitas vezes nos embriaga de significados.  E Tomamos as coisas pelas palavras, confiando demasiadamente naquilo em que acreditamos. Por isso a arte é mais relevante para percepção e a experiência do que a ciência e a filosofia. Estamos condenados a significar e representar o mundo e a nós mesmos, mas não somos escravos da verdade como premissa.

Acreditar é um vício perigoso. Principalmente quando tudo que é humano tem um gosto acre de morte.