sexta-feira, 27 de abril de 2018
ÚLTIMO DIA
Caso hoje fosse meu último dia, não haveria muito a fazer. Não realizaria sonhos ou vislumbraria a conclusão de qualquer projeto. Não perderia meu tempo com despedidas, não tentaria me entender com o passado e muito menos com o futuro.
Seria apenas mais um dia banal e sem sentido, mas coroado pelo alívio de um ponto final.
quinta-feira, 26 de abril de 2018
CASA NOVA
Preciso de uma casa nova
Onde possa esconder minhas dores,
Contra todas as vontades
E lembrar meus mortos
Enquanto envelheço.
Onde possa esconder minhas dores,
Contra todas as vontades
E lembrar meus mortos
Enquanto envelheço.
Uma casa feita de silêncios
E solidões,
Onde eu possa enterrar,
Definitivamente,
minha consciência do mundo.
E solidões,
Onde eu possa enterrar,
Definitivamente,
minha consciência do mundo.
quarta-feira, 25 de abril de 2018
CRENÇAS RELIGIOSAS E A TENTATIVA DE DOMESTICAÇÃO DA MORTE
As religiões, de
um modo geral, recusam a ideia de morte. Afinal, se as representações do sagrado personificam
uma dimensão simbólica projetada além do
tempo e do próprio mundo, as divindades, por sua vez, expressam a positividade
do Ser contra o não-ser e, consequentemente, afirmam a vida como um processo
eterno. Pelo menos para as crenças monoteístas esta é uma verdade absoluta. Mas
é claro que o politeísmo grego e hindu já apresentavam, muito antes do monoteísmo,
crenças na reencarnação e na vida após a
morte.
Diria mesmo que
a imaginação de deuses, ou qualquer crença em grandezas metafisicas responsáveis pela ordem do universo, encontra
boa parte de sua inspiração no nosso instintivo medo da morte e na nossa
necessidade de domestica-la através de ritos fúnebres que parecem remontar a pré
história.
A consciência da
morte é uma das desvantagens do devir humano. Somos os únicos animais que
morremos, pois conceitualizamos o morrer de tal forma que o tornamos algo mais
do que um fato natural. Mas um paradoxos
que contradiz nossas representações e experiências da vida.
Por isso as
religiões tendem a oferecer, mesmo que sem sucesso efetivo, através de seus
preceitos, uma educação para a morte. Mas nenhuma crença pueril em vida eterna
ou qualquer coisa parecida é suficiente para confortar a perda de um ente
querido ou mesmo lidar com uma doença fatal.
ETERNA SAUDADE
Quanta saudade
me dói agora
Acordando vazios.
Saudade de você que
se perdeu para sempre,
Que se
desencontrou da vida,
E não espera em
parte alguma
Uma visita.
Saudade....
A palavra não
basta
Para expressar a
vontade,
Para dizer ou
exorcizar esta sua falta,
Essa vontade da
parte de mim
Que se perdeu em
você.
FILOSOFIA DO NÃO SER
A não existência
é algo absurdamente relativo. Neste momento no qual me perco em pequenos
afazeres cotidianos, a absoluta maioria das pessoas no mundo não sabe que eu
existo. Mas o conhecimento da minha existência não faria qualquer diferença. Cultivamos
impressões e afetos apenas daqueles que nos são próximos. Nada mais natural.
Mas o que há de
irônico nesta consideração pueril é perceber o quanto não faz qualquer
diferença ao mundo se estou vivo ou morto. Do ponto de vista coletivo, minha
existência não é pertinente pela sua singularidade, mas por ser um simples
apêndice do devir humano, por representar a espécie, o genérico.
Por outro lado, é justamente por ser
insignificante e frágil que minha existência tem um valor subjetivo para mim.
Tudo que sou é esta precariedade, esta incerteza que contradiz a vida como um
valor ou um acontecimento universal.
É o
insignificante que se faz para mim significativo contra a abstração do gênero
humano como um acontecimento externo, embora pertinente e definidor da minha
insignificância. Para os outros não passo de um quase não existente, meu
existir é insignificante e virtual. Mas é
preciso fazer apologia a pequena tolice que é cada um de nós como individuo
singular, pois é através de nós que o significante pode ser ridicularizado e
perder seu poder de atração.
terça-feira, 24 de abril de 2018
MORTE E ETERNIDADE
A eternidade não tem conteúdo. Ela é o estar morto. Ela é sem substância para aquele que no incerto do tempo presente tenta apreender o devir do mundo e das coisas e apenas percebe a total indiferença do universo em relação às manifestações concretas e finitas da vida.
A eternidade é negativa. Ela é silêncio e, simultaneamente, eterno retorno, espiral do tempo que se manifesta como espaço em movimento onde tudo que supostamente é engendra a morte como avesso de si, como a fundamental consequência de si mesmo.
THANATOSOFIA
A morte não é exatamente um fato, já que é impossível dizer o que é o morrer, pois para pensar sobre isso é preciso estar vivo.
Por isso a morte se nega como questão, pois exclui o pensar. Constitui, mesmo, seu próprio limite.
Morrer é um estar fora de tudo. Não se confunde com o cadáver e muito menos com a ausência dos mortos. Nem mesmo pode ser apreendida através do estado terminal de uma enfermidade fatal.
Morrer escapa a tudo. Ao mesmo tempo, é um ontem, um agora e um sempre. É algo que nos acontece, mas só sabemos através do morrer dos outros.
A morte não cabe no morrer e nem o morrer diz a morte enquanto morremos.
Mas o morrer é a vitória do não ser, do sem substância, como fundamento da indeterminação que esclarece o próprio devir humano.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
SOBRE O MORRER
Meu último dia passará
despercebido.
Será igual a
qualquer outro.
O mundo seguirá.
Apenas eu serei ausência
e silencio
Até me desfazer
por completo
Em simples
esquecimento.
Meus atos não
serão lembrados.
Retornarei a
impessoalidade da inexistência.
Não serei mais
um corpo na paisagem aberta.
quinta-feira, 19 de abril de 2018
HÁ MORTE
Há morte em todas as partes:
Nos atos, no tempo e na face.
Ela é a vida que nos consome,
Nossa fome, nosso desejo,
E o passar de tudo.
Há morte...
Tudo é morte,
Apesar de estarmos
Provisoriamente vivos.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
DO NADA AO NADA
“Não me venham com conclusões, a única
conclusão é morrer” já diziam os famosos versos de Fernando Pessoa, expressando
a recusa das certezas e convicções que normatizam a existência em tempos
modernos.
Definitivamente, o povoado
deserto de nossos horizontes existenciais, a finitude e a perenidade de todas
as coisas, deveriam nos fazer menos vaidosos e arrogantes, um pouco menos
convictos dos sucessos e virtudes das realizações humanas e o suposto progresso das humanidades.
Afinal, todo progresso apenas nos
conduz do nada ao nada.
quinta-feira, 12 de abril de 2018
ANSIEDADE E FINUTE
A ansiedade é um quase
ultrapassar-se...
Uma vontade que nos transborda,
Que não tem nome,
Proposito ou objeto.
Por isso é tão difícil lidar com
ela:
Trata-se de uma inquietude da
existência,
Um desassossego de ser.
A vida é um nervosismo sem causa
ou proposito.
Um gritar-se em finitude.
segunda-feira, 9 de abril de 2018
AS MÃOS E OS OLHOS
A imaginação das mãos e dos olhos
Inventam a realidade que me faz
Sempre de modo provisório,
Incompleto,
Como se o fato
Existisse apenas
No próximo momento.
As mãos e os olhos
Tecem movimentos
Onde a vida inventa o corpo
Como imagem e experiência de
devir,
De incompletude e não-ser...
PONTO FINAL
Pode ser que eu suporte,
Que eu sobreviva ao peso
Da minha própria vida.
Pode ser que eu amanheça
E consiga começar de novo
Rotinas de existência.
Pode ser que eu prossiga
Criativamente
Até o ponto final.
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