segunda-feira, 28 de maio de 2018

O PENSAMENTO E A MORTE

O cérebro define o corpo e estabelece o pensar como qualquer coisa de não natural. Algo que não existe como substância, que não pode ser reduzido à um objeto no domínio ingênuo da representação. Pensar não passa um acontecimento esquisito...

Afinal, o  pensamento não pode pensar a si mesmo,  desdobrar-se em um outro capaz de lhe impor qualquer exterioridade. O oposto do pensamento é a inconsciência e não a ignorância que sempre pressupõe um fora de si que é produto do próprio pensamento.

Não cabe perguntar o que é o pensamento. Mas experimentar o que ele faz, aquilo do que é capaz como um duplo da linguagem. Pensamento e linguagem estruturam uma consciência do mundo que não é consciência de si, mas um fluxo social de signos e símbolos que acontece através de cada um de nós. Os outros são uma versão estrangeira de mim mesmo. Sendo um eu sou os outros e porto minha própria morte, a fatalidade de me dissolver no acontecer de todos.

domingo, 27 de maio de 2018

NÃO PASSAMOS DE MORTOS VIVOS

Penso que minha morte já aconteceu em qualquer lugar do futuro. O amanhã, afinal, é tão virtual quanto o ontem, dentro de um tempo presente que quase não existe.

Viver, por sua vez, é enfadonho. É ser um corpo a deriva no mundo. É estar constantemente escapando a si mesmo, cultivando um esquecimento, um alheamento, que no final nos consome.

Escrevo registrando minha morte em movimento, sempre a sombra do meu último momento.

INVISIBILIDADE

A invisibilidade é o que nos define como indivíduos. Somos todos tão parecidos quanto distantes.

Mas não nos conhecemos. Não nos sabemos. Mesmo morando no mesmo bairro, na mesma cidade, nos ignoramos.

Se vivemos ou morremos, pouco nos importa. Não tomaremos conhecimento da vida ou da morte um do outro. Afinal, não nos conhecemos. Somos entre nós invisíveis e insignificantes.

Cada um seguirá por aí enterrado em sua própria existência. Empatia é uma conveniente fantasia para os que levam a sério esta abstração vazia que chamam de humanidade. O que realmente nos define é a invisibilidade. Cada um dedica aos outros sua cota de ignorância.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

SOBRE A MORTE DOS OUTROS

É bobagem dizer que devemos nos dedicar intensamente aqueles que amamos enquanto ainda estão vivos. Nossos relacionamentos não são perfeitos e tomam sempre por referência o acontecer do aqui e agora, suas contradições e defeitos, suas limitações.

Os bons sentimentos nunca são absolutos e há sempre muita ambiguidade no amor.

A perspectiva da morte do outro não o torna diferente do que é em seu modo cotidiano de ser e muito menos altera seus intercâmbios.

A morte não torna os relacionamentos menos complicados. Nunca foi uma solução para os nossos conflitos e diferenças pessoais.As pessoas  passam e as coisas são como são.

A BANALIDADE DOS NOSSOS ATOS

O que foi feito não deixou efeito.
Foi puro e banal instante,
Ato cotidiano e inútil
Que não sobrevive ao tempo.
A vaidade não deixa saudades,
Enfeita os atos,
Mas não dá sentido a vida,
Não transfigura a existência
Em obra de arte.
Afirma apenas a finitude,
Nossa infinita banalidade.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

SOBRE A NULIDADE DESTE INSTANTE

O dia de hoje é um pouco do dia de ontem e de um futuro que jamais será. Tudo se dá neste ponto impreciso onde a vida acontece e não percebemos, onde tudo transcende o tempo e o espaço, onde o que é já não mais existe, onde o que sei é sinto não tem qualquer importância.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

UM POUCO DE CAOS E DIA

Acordo toda manhã povoado por uma incerteza do dia que se anuncia.
Onde todos sabem rotinas eu vejo repetições incertas de hábitos que se enfraquecem.
Tudo me parece absurdo e sem rumo.
As horas semeiam ausências.
mudanças são sempre pequenas mortes.
Tudo isso torna ridícula a formalidade de um bom dia.
Afinal, um pouco de caso sempre se anuncia.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

VIVER NÃO NOS PERTENCE


É sempre no passado que a vida existe,
Que nossos atos se consolidam,
Seja como lembrança
Ou como esquecimento.
É nas histórias contadas,
Nas saudades pequenas
E faltas homéricas,
Onde se revela a vida
Quando já não existe.
Viver é coisa que nos acontece,
Mas não nos pertence.
Só se realiza plenamente
Quando nos tornamos ausências.

ATÉ QUE PONTO A VIDA TEM VALOR?


quarta-feira, 16 de maio de 2018

SOBRE A INQUIETUDE DIANTE DA MORTE


A experiência de uma doença grave costuma mudar as pessoas. Geralmente elas percebem nesta situação extrema o quanto possuem uma relação insatisfatória com sua própria vida. Não falo da busca de qualquer significado para existência, mas do natural temor da possibilidade de um fim iminente. Temos sempre assuntos inacabados. Consideramos o futuro sempre vomo um vir a ser, nunca como um ponto final. 

terça-feira, 15 de maio de 2018

SOMOS APENAS CARNE E SANGUE

A vida parece tão longa e outras tão curta que faz relativo o passar dos anos. As vezes tudo parece acontecer em um dia. Outras vezes parece que cada década é perdida. É a capacidade de sentir que dá valor à existência, que inventa intensidades dentro do corpo. Corpo que é a medida de todas as coisas. Ele é o próprio tempo que nos ultrapassa. Ele não é nada sendo tudo que nos acontece. Tudo é apenas carne e sangue.

MORRER É UM SILÊNCIO

A banalidade do último dia de vida leva as últimas consequências o absurdo da existência.

Em um instante que nos escapa inteiramente tudo termina. E é como se nunca a vida houvesse nos frequentado.

A morte não é um fato ou um acontecimento. Tem algo de inexplicável, um fora de si absoluto.

É silêncio....

A VIDA COMO ILUSÃO

Não sou neste rosto,
Neste corpo,
E, muito menos, nestas palavras.
Não sou meus pensamentos,
Meus gestos, gostos
Ou vontades.
Sou onde mora o silêncio,
Onde já é morte.
Onde se insinua o esquecimento.
Sou onde não estou
E não me distinguo dos outros.
Sou onde não existo,
Onde a vida se revela ficção
Ou um engenhoso capricho de um acaso,
Um acontecimento enganoso.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

O FIM ATRAVÉS DO COMEÇO




Cada dia é sempre o eterno retorno de uma iminência de fim.
Nos decompomos na medida em que acontecemos,
Em que nos fazemos.
O fim é parte do inicio.
Um acontece através do outro,
Em um movimento perpetuo
De materialização do não ser.
É como se a existência
Fosse apenas uma forma
De confirmação do nada.


quinta-feira, 10 de maio de 2018

O MAL DA FELICIDADE



Há alguma vaidade na  fantasia de felicidade.
Afinal,  o que é ser feliz?
Realizar caprichos,
Que alguém se dobre as suas vontades,
Ser reverenciado pelo mundo
Ou, simplesmente, em algum sentido
Materializar seus mais profundos desejos.

A felicidade é narcísica e egoísta.
Nos seduz pela vaidade.
Tenho medo daqueles que almejam a felicidade
E desprezam a mediocridade e a realidade.


quarta-feira, 9 de maio de 2018

VELÓRIO



Depois de hoje nada será de novo.
Foi-se um pouco da minha vida.
Carrego mais uma morte
Dentro daquela
Que cresce aos poucos
Dentro de mim.

Mas um desaparecimento,
Mais um silêncio...
E sei mais um pouco
A solidão do meu tempo.

Mas não há nada a fazer,
E é inútil sofrer.

Resta apenas o fado
De mais uma vez sobreviver aos outros,
Como se eu fosse o último.




segunda-feira, 7 de maio de 2018

INEXISTÊNCIA

Não mais existir é simples.
É pura ausência,
É desaparecer.
O que inquieta é esta ferida
Que define a existência
Como um momento
De nossa essencial inexistência.
Existir não vale o instante breve
No qual sabemos do mundo,
Onde nos embriagados de significados.

HABITAR PASSADOS

Aprendi a habitar o passado,
A frequentar os meus mortos.
Afinal, como é hoje presente
Tudo aquilo que foi!
Tenho muitos eis perdidos no tempo.
Eles me frequentam,
Me observam.
Fazem eu quase não saber
Quem eu ainda sou.
Não é nostalgia o que me tortura.
É simples ausência de mim mesmo.

O DESAFIO DO CORPO


Há sempre um certo desconforto em relação ao corpo. Podemos atribui-lo a experiência de sua perenidade e finitude. Experiência que socialmente procuramos negar no plano da cultura.  O dualismo metafisico mente e corpo, por exemplo, acaba por nos impor uma certa valorização de um “eu” abstrato e espiritualizado, diferenciado do corpo, como sendo uma fonte de significação da própria vida. Assim, diferente do corpo, cultivamos a pretensão a eternidade de um eu narcisista e prepotente. Mas, independente de toda representação possível, o corpo se impõe como lugar de acontecimento e mortalidade. Ele nos acontece independente das convicções. Morremos... não há nada que se possa fazer sobre isso.

Além disso, tendemos a considerar o corpo como uma coisa homogênea, como uma totalidade sistema, na sua condição de organismo vivo. Mas o corpo é mais do que isso. Ele é multiplicidade de órgãos, funções, moléculas sempre em relação a um meio ambiente, é uma dinâmica que se estabelece entre um dentro e um fora. Ele é feito de contradições, de interseções e diversidades que extrapolam qualquer dualismo simplista como mente e corpo ou  sujeito e objeto. Ele é um transito constante de substancias, de organismos e processos. Não é definido pela consciência, pela razão ou qualquer coisa que possa ser deduzida da fórmula homem.

Precisamos de novas ferramentas teóricas para traduzir o corpo como experiência, como um complexo campo de força integrado a um meio ambiente natural e culturalmente estabelecido.

O ERRO DA VIDA


Saber a vida é sempre um saber a morte.
Afinal, viver é um morrer constante.
Nenhum de nós é importante.

Somos apenas sombras do devir humano.
Ele nos transcende.
Por isso desaparecemos
Para que a vida sempre se renove,
Para que tudo seja
Em novos ensaios  de imperfeição.

Viver é um erro sem solução.



sábado, 5 de maio de 2018

SOBRE A PERDA DOS OUTROS

A saudade não responde a falta,
Não supera o vazio
Ou cala a angústia.
A morte é triste.
Mas não se diz aos vivos.
É sempre um segredo,
Onde anda mais é possível.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

A VIDA NUNCA FOI

A vida nunca foi sobre mim,
Sobre nós
Ou, até mesmo, sobre a existência.
A vida sempre foi um grande silêncio,
Uma indiferença,
Um não ser das coisas
Através do tempo.

Tudo que é vivido
Tem por destino o esquecimento.
A vida nunca foi....