Há sempre um certo desconforto em
relação ao corpo. Podemos atribui-lo a experiência de sua perenidade e
finitude. Experiência que socialmente procuramos negar no plano da cultura. O dualismo metafisico mente e corpo, por
exemplo, acaba por nos impor uma certa valorização de um “eu” abstrato e
espiritualizado, diferenciado do corpo, como sendo uma fonte de significação da
própria vida. Assim, diferente do corpo, cultivamos a pretensão a eternidade de
um eu narcisista e prepotente. Mas, independente de toda representação possível,
o corpo se impõe como lugar de acontecimento e mortalidade. Ele nos acontece
independente das convicções. Morremos... não há nada que se possa fazer sobre
isso.
Além disso, tendemos a considerar
o corpo como uma coisa homogênea, como uma totalidade sistema, na sua condição
de organismo vivo. Mas o corpo é mais do que isso. Ele é multiplicidade de órgãos,
funções, moléculas sempre em relação a um meio ambiente, é uma dinâmica que se
estabelece entre um dentro e um fora. Ele é feito de contradições, de interseções
e diversidades que extrapolam qualquer dualismo simplista como mente e corpo ou
sujeito e objeto. Ele é um transito
constante de substancias, de organismos e processos. Não é definido pela consciência,
pela razão ou qualquer coisa que possa ser deduzida da fórmula homem.
Precisamos de novas ferramentas teóricas
para traduzir o corpo como experiência, como um complexo campo de força
integrado a um meio ambiente natural e culturalmente estabelecido.
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