sexta-feira, 29 de junho de 2018

QUASE EXISTÊNCIA

O passar inofensivo do tempo contem tudo aquilo que nos anula.

Não falo apenas do simples morrer, do corpo desfeito ou do existir cancelado.

Refiro-me ao quanto tudo que nos acontece é perecível e, justamente por isso, carece de existência plena.


A existência paradoxalmente pouco existe e depende sempre de redefinições inspiradas pelos vazios que silenciosamente habitam entre as coisas. Este vazio é o próprio tempo que, na verdade não passa, mas permanece, é constante, na nulidade que expressa o pleno acontecer das coisas que quase existem.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

O NEGATIVO DA ONTOLOGIA

Somos escravos do significado.
Buscamos sempre o conforto de um dizer das coisas que nos anule através de alguma certeza reluzente.
Pouco percebemos que somos pensados pelo nosso próprio corpo,
Que somos inventados pelas nossas verdades.
Queremos existir...
Mas não somos em nada que nos define.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

SOBRE O NADA QUE SOMO NÓS






Uma parte considerável de mim é apenas o que os outros imaginam.
Outra parte é o que eu imagino dos outros.
Entre as duas existe ainda toda uma impessoal e normativa definição do que somos uns entre os outros.
Mas a conclusão final é que somos todos ninguém.
Não passamos de réplicas imperfeitas de uma mesma forma de vida coletivamente estabelecida. Forma de vida que não passa de um nada em um universo desconhecido. 

sábado, 23 de junho de 2018

SIGNIFICAÇÃO E INVENÇÃO


Ainda que a existência de alguma forma se oponha a vida, como o particular ao universal, é preciso considerar que, longe de um acontecimento, ela é significação e, portanto,  exercício de linguagens. 

Em si mesma, a existência, como a própria vida, não é mais do que um fenômeno mudo que se nega no avesso da morte. Mas a consciência das coisas que nos definem acontece no plano da linguagem como valoração e sentimento ( escolha)  que cria visibilidades. 

A arte é o modelo de todo nosso complicado edifício de codificação das coisas. Inventamos o mundo e, neste ato de inventa-lo, definimos que tudo existe tal como o concebemos.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

AS ILUSÕES DA CULTURA E DO ESPÍRITO


Todo aparato da cultura humana esta comprometido com a ilusão do ser. Da filosofia grega, passando pela escolástica até o egocentrismo moderno, tudo que importa é afirmar jogos de verdade e a ilusão do Ser.

É preciso que o saber seja positivo, afirmativo ou prático, em relação a nossa miserável condição humana. Caso falhe a razão, cabe retornar as ilusões do sagrado. Mas jamais admitir a miséria da nossa existência.

Mas não importa as ilusões do espírito. Morremos e apodrecendo independente das ilusões de sentido da vida.

MORRER É RETORNAR A INEXISTÊNCIA ABSOLUTA


Morrer é simplesmente desaparecimento.  O fim do corpo nos lança novamente a condição de inascidos, apaga a existe  como imanência e aqui e agora. Tudo se reduz a esquecimento, que a forma de uma apagada lembrança. Substituir esta condição de lembrança por uma pós existência etérea é mero infantilismo que alimenta o equívoco metafísico de todas as religiões.

Morrer é mero regresso a inexistência que nos define como pré indivíduos através da espécie. Nada além disso.

PERENIDADE


Estou vivo de um viver bio degradavel,
Descartável.
Existir é inventar esquecimentos,
Viver desaparecimentos.
Há silêncios dentro de mim
E eles não param de crescer.
Não me tenho nem por um momento.
Envelheço e tudo que sou e me faz ninguém.
O tempo é sempre insuficiente,
Uma urgência que inventa nossa atroz fragilidade.

terça-feira, 19 de junho de 2018

TEMPO QUE PASSA



Meu tempo é pequeno.
Não cabe no tempo do mundo,
Não pertence a História.

É acontecimento modesto.
Não deixa marcas,
Não alimenta lembranças.
É mesmo feito de esquecimentos.

Meu tempo é sempre um agora
Desaparecendo entre o passado e o futuro..




sábado, 16 de junho de 2018

MORTE E COSMOLOGIA

De muitas formas o nascimento é uma realização da morte. Estar vivo não é importante. É só a forma como a morte introduz alguma coisa estranha e imprevista no silêncio do universo. O existir é invisível. A morte é aquilo que brinca com o fenômeno, com o acontecer das coisas como tempo e espaço, como matéria. A materialidade é o problema...

quinta-feira, 14 de junho de 2018

SOBRE A RECUSA RELIGIOSA DA MORTE

É ridículo como as religiões negam a morte e afirmam sempre qualquer fantasia de uma ordem pós existencial. É absurdo como condenam o suicídio e inventam metafísicas para atribuir um falso valor a vida. 

A morte é algo natural. Somos um corpo que se desconstrói na exata medida em que se inventa cotidianamente. A morte é seu limite, o mais concreto testemunho da fragilidade de nossa vida diante do próprio acontecer da existência orgânica e inorgânica.

domingo, 10 de junho de 2018

VIDA E NATUREZA

Um dia tudo termina.
Desaparecemos dentro do tempo.
Uma vida inteira vira passado
E se perde no esquecimento.
A existência não vence a morte.
Apenas a realiza.
A vida é uma brincadeira da natureza
Que de tão humana
Nem mesmo existe.

sábado, 9 de junho de 2018

A VIDA CONTRA A EXISTÊNCIA


Através da nudez dos atos e fatos, 
minha existência interroga a vida 
sobre o sentido de ser.
Não há resposta.
Apenas o tempo passando
Enquanto o existir se estreita.
Para a existência nunca há esperança.
A vida segue e se alimenta dela
inventando uma falsa eternidade.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

DESPEDIDA


Pode ser que hoje seja novamente tarde demais
Ou apenas o fim de uma agonia.

Para onde eu poderia ainda ir?
Para onde sempre estou indo?

Ao nada me leva o movimento,
Este acontecer por onde escorre o tempo.

Diga adeus pela ultima vez.
Nunca mais nos veremos de novo.



ASILO



O tempo passou e os lugares nos quais cresci desapareceram.
Ou, simplesmente, adentraram outra época,
E já não são os mesmos que tão bem me abrigavam.

Posso mesmo dizer que não pertenço agora
A qualquer parte do mundo.
Meu rosto é aquele que decora
Fotografias antigas.

Tudo que sou,
Se reinventou como silêncio e passado.
Sou apenas a sombra de antigas memórias.



A MORTE SEM METÁFORAS



A morte é uma data.
Mas não é um acontecimento.
Morrer não é um conceito.
Morrer é a desconstrução da verdade,
De todos os signos e significados.
É silêncio.
A morte é  o limite da insanidade de existir.
Ela é a mais autêntica conseq
uência de uma vida.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

O VAZIO DO TEMPO QUE PASSA

A verdade é que os anos passam rápido demais e na maior parte do tempo não realizamos nada de importante. Apenas seguimos vazios divididos entre a incerteza do passado e o silencioso do futuro, pois nada nos define ou justifica entre  o que já foi e o que nunca será. Tudo o que nos acontece parece vazio de realidade.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

A ANGUSTIA DE EXISTIR



Posso tocar aquela angústia sem objeto que me define. Aquele querer que não é desejo, mas movimento da própria vida na impessoalidade da condição humana desantropologisada.

Qualquer coisa crua e antiga se debate dentro de mim como uma quase memória. Sou neste algo selvagem e sem nome que me nega, que fiz a morte através da existência.

Afinal, o que é a vida além de um grito que se faz nos atos como eco da agonia de um não ser temporariamente eclipsado?

domingo, 3 de junho de 2018

ANTI ONTOLOGIA

Memórias e identidades não nos definem. Apenas nos situam no tempo através de um instantante que é sempre outro.

Mas o momento nos ultrapassa. Quase não existimos nele. Há sempre um movimento em direção ao além do aqui e agora, ao aquém de nós mesmos.

A vida não se conforma a quem somos ou ao que vivemos. Nem mesmo diz respeito a peculiaridade de nossa existência.

A vida é virtual e aleatória presença das coisas em tempo e espaço.